QUATRO RODAS faz Puma GT 4R ganhar asas no Red Bull Ladeira Abaixo
Como foi participar do Red Bull ladeira abaixo, a corrida mais maluca do mundo, a bordo do nosso Puma GT 4R
Projetar, testar e fabricar um carro do zero hoje em dia não demora menos de três anos – isso levando em conta um ritmo asiático. QUATRO RODAS, porém, fez exatamente isso em exatamente três meses. Ok, tivemos a vantagem de não precisar de um motor. Nem de para-brisa. Nem de cinto de segurança.
Todos esses itens são proibidos no Red Bull Ladeira Abaixo, versão nacional do tradicional Soapbox Race, organizado pela empresa de energéticos mundo afora desde 2000.
A autoproclamada corrida mais maluca do mundo voltou ao Brasil este ano para estrear na ladeira da Rua da Consolação, em São Paulo (SP) – a primeira vez que a competição veio ao país foi em 2008, em Fortaleza (CE).
Justamente há 50 anos, em 1969, nasceu o icônico Puma GT 4R, único carro do mundo a ter sido encomendado por uma revista para ser sorteado exclusivamente entre seus leitores.
Foi a deixa para pensarmos: e se participássemos da competição com um GT 4R? A ideia foi imediatamente aprovada e teve o envolvimento de toda a redação, incluindo alguém intimamente ligado à história da Puma.
Du Oliveira, 43 anos, é designer profissional e colaborador constante de QUATRO RODAS. Também é responsável pelo design do Puma GT Luminari, versão moderna do esportivo que está sendo desenvolvida pelos empresários Fernando Mesquita e Reginaldo Galafazzi.
Nada de motor
No currículo, Du ainda tem diversas releituras modernas de grandes clássicos brasileiros, incluindo aí o GT 4R. Mas, para o cinquentenário do esportivo, preferimos seguir suas linhas tradicionais, e coube a Oliveira ajustar o design original de Anísio Campos às regras – e ao tamanho da competição.
O regulamento permite até duas pessoas por carro, mas optamos por um só assento, melhorando o equilíbrio de peso e permitindo uma carroceria mais proporcional. Era possível fazer um veículo com até 2 metros de largura por 4 de comprimento, mas optamos por dimensões menores (1,10 x 2,3 metros e 70 kg).
Assim, conseguimos um visual mais lúdico e, de quebra, a possibilidade de aproveitar sua estrutura para torná-lo, um dia, motorizado.
Claro que, para isso, era preciso alguém especializado em mecânica e fibra de vidro. Felizmente esse é o dia a dia de David Padrao, que já contou sua história numa reportagem da QUATRO RODAS: há quase 20 anos faz minicarros em sua oficina, em São Paulo.
Porém, o design único do GT 4R e o perfil da prova, que inclui uma sequência de rampas, exigiram alguns aperfeiçoamentos na nossa máquina. “Usei um molde de um Puma GTS e fiz os ajustes na dianteira, lateral e traseira para se aproximar do desenho do Du Oliveira”, explica Padrao.
A carroceria também foi afastada dos pneus para permitir mais movimentação das rodas, que têm suspensão independente. “Só não vai falar que é um Puma Adventure!”, brinca.
A legislação de 2019 também é bem diferente da época do GT 4R, e isso foi levado em conta no projeto. Não, não estamos falando de ABS e airbag duplo. Por conta da Lei Cidade Limpa, o tamanho máximo dos logotipos da carroceria era limitado, e ainda era preciso autorização dos detentores intelectuais das marcas para seu uso.
Felizmente a Puma Automóveis não só autorizou como deu sua bênção ao GT 4R ano-modelo 2019.
Mas, no Ladeira Abaixo, ter um carrinho rápido e bem-feito é só uma parte da competição. Inclui ainda uma coreografia da equipe na largada, com trilha sonora e proposta humorística. Nessa fase entraram no processo os editores de arte Fábio Black e Fernando Pires.
Coube a Black elaborar os adesivos usados pela equipe que daria o empurrão, formada por ele, Padrao, o redator-chefe Zeca Chaves e o editor Leonardo Felix. Já Pires, fã de rock, selecionou uma música para tornar a descida mais divertida. A ideia da coreografia foi coletiva: simular uma cobertura jornalística à la 1969 em pleno palco de largada.
E, mesmo com freios eficientes, projeto moderno e santantônio, para pilotar nosso carrinho era necessário um super-herói.
Nesse momento escalamos o repórter Henrique Rodriguez, que se vestiu à altura, com direito a uma capa (feita com uma capa antiga da QUATRO RODAS!). A responsabilidade era grande, pois o GT 4R teria um destino nobre após a competição. E não é que o resultado saiu melhor do que o esperado?
Impressões ao dirigir
Pela altura da suspensão, este é o primeiro Puma GT 4R com ângulos de ataque e saída de fazer inveja aos SUVs. Mas essa característica foi essencial para superar as três rampas colocadas na pista. Ou o carrinho passa rápido por elas ou ele estará sujeito a entortar as rodas, ou até mesmo bater a frente.
O segredo é pegar embalo logo na rampa de largada – a parte mais íngreme da descida de aproximadamente 370 metros – e esquecer que o pedal de freio existe.
Difícil é manter o controle da direção após cada salto, dado o tamanho das rodas e do volante. Também é difícil se conter para não gritar e vibrar junto com a galera que assistia ao nosso feito naquele domingo que começou chuvoso.
Até que a suspensão, com amortecedores de moto na traseira, deu conta de manter o controle do GT 4R ao desviar dos blocos de feno no meio da descida.
Tudo poderia ter dado muito errado após a linha de chegada, mas o sistema de freio a tambor de Honda CG, instalado só na traseira, segurou o carro o suficiente para terminar a prova com um cavalo de pau perfeito, sem encostar nas proteções ao redor. Este pode ser o Puma sem motor mais rápido da história.
Já que o Puma participou só como demonstração, nunca saberemos se ele venceria os 65 carros inscritos frente às 30.000 pessoas que viram a corrida. Assim, restou ao GT 4R voltar à oficina de Padrao, onde recebeu alguns ajustes.
O carrinho ganhará um motor a combustão e faróis funcionais e a carroceria será rebaixada a uma altura mais próxima da escala original. O objetivo é mais do que especial: ser exposto em um futuro museu que será aberto no estado de São Paulo e acessível ao público. Afinal, não é sempre que se faz um carro do zero em apenas três meses, não é mesmo?