Centrais multimídia se tornaram itens tão requisitados em carros novos quanto ar-condicionado, vidros elétricos e assistência na direção. E a utilidade da telinha (muitas vezes telona) vai muito além de facilitar a conexão com o celular ou exibir o navegador GPS.
Na verdade, o mais comum é não ter navegador. Os mapas instalados na central multimídia perderam a utilidade com navegadores rodando nos smartphones com atualização do trânsito em tempo real, então os fabricante nem se preocupam mais com o GPS.
O importante, hoje, é que a central seja capaz de se conectar ao smartphone para exibir essas informações na própria tela – e também para usar os comandos de voz do dispositivo móvel. Se a conexão for sem fio, melhor ainda!
Só tem um problema: as tecnologias evoluem muito mais rápido que os carros. Oito anos é o tempo que dura, em média, cada geração de um carro. A central MyLink da Chevrolet estreou no Brasil há oito anos, em 2012, e já está em sua terceira geração.
Chevrolet, Fiat e Volkswagen têm novas gerações de centrais multimídia em seus carros, cada uma com novas funcionalidades que tendem a ganhar espaço (e demanda) nos próximos anos. Por isso, comparamos elas a seguir.
3° – Fiat Strada – Uconnect Wireless
A Fiat viveu altos e baixos com suas centrais multimídia nos últimos anos. Os compactos Argo e Cronos foram lançados com uma versão da central Uconnect com 7 polegadas e Android Auto e Apple Carplay, mas problema fornecimento obrigou a empresa a recorrer a uma nova central 9 polegadas com sistema Android mas sem a mesma conectividade, exclusiva para as versões mais baratas dos dois modelos.
A central de 9 polegadas já foi descontinuada. A tendência agora é que todos os Fiat recebam a interface da nova central multimídia Uconnect Wireless que fez sua estreia na nova Fiat Strada com tela de 7 polegadas e que agora também está disponível na picape Toro, mas em versão de 9 polegadas.
Foi a primeira central multimídia de um carro nacional a ter Apple CarPlay e também Android Auto com projeção sem fio. Vale salientar que, por enquanto, a integração sem fio é limitada a alguns poucos smartphones Android, mas a tendência é que isso mude nos próximos meses.
Em nosso teste, a funcionalidade não funcionou de imediato e a operação é mais lenta do que no uso por cabo. E o smartphone logo fica um pouco mais quente por conta da demanda de energia maior devido a transferência de dados por Wi-Fi. Não há, porém, carregamento sem fio.
Assim como a VW Play, esta nova Uconnect foi desenvolvida no Brasil. Mas poderá ser usada em carros de outras marcas da FCA também no exterior. Seu sistema é baseado no Android 8.1 (com última atualização de segurança em 2018), mas também foi profundamente modificado para esta aplicação.
Por fora o visual é parecido com o das outras centrais Uconnect. Tanto que manteve os comandos físicos para volume, mudar faixas e estações, e desligar a tela. Mas a interface é diferente e tem pontos positivos e negativos.
A tela principal pode ter todos os seus blocos personalizados com a função que o usuário bem quiser e isso, assim como todas as preferências, ficarão salvos no perfil – que pode ter nome e avatar personalizado.
Na verdade, o menu principal pode ter até cinco telas com atalhos para o que for mais conveniente. Configurando direitinho dá até dispensar o acesso aos submenus. As mudanças entre as telas são feitas simplesmente deslizando o dedo, o que é prático com o carro em movimento.
É importante gastar um tempinho na configuração, pois a praticidade desaparece nos menus internos da Uconnect. Dependendo do caminho usado para acessar as configurações, não existirá uma segmentação lógica entre as funções, que ocupam uma longa lista de opções sem ao menos um ícone que permita uma rápida identificação do item. Esse excesso de informação é o que separa a Uconnect de um smartphone.
Nas centrais rivais há uma distribuição melhor entre as categorias, mas para o dia a dia a Uconnect vai bem.
Caso esteja usando o Android Auto ou o Apple Carplay e seja necessário retornar a algum menu da central, a música que está em reprodução aparece no topo da tela e o menu de ícones à esquerda ganha um prático atalho para retornar ao Android Auto ou Carplay. É um cuidado bem raro de se ver.
Nota-se alguma lentidão no acesso a determinadas funções da central, como na personalização do usuário e acesso às informações do computador de bordo. Em alguns momentos do teste, também não respondeu ao toque na tela. A qualidade da imagem é inferior, também, e as cores são mais lavadas.
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A impressão que fica é que a central Uconnect da Strada deixa as funcionalidades se sobreporem à usabilidade, algo fundamental em um automóvel. Mas o fato de ser baseada em Android sugere maior facilidade de receber melhorias futuramente. Isso e a lentidão pesaram para o terceiro lugar por aqui.
2° – Chevrolet Tracker – MyLink 3
A central MyLink surgiu no Brasil em 2012, com o lançamento do primeiro Onix. Se nos primeiros anos era, basicamente, um rádio com tela colorida sensível ao toque e compatível com alguns poucos (e de usabilidade discutível) aplicativos, evoluiu o bastante e hoje leva a conectividade mais a sério.
Na última atualização, lançada com o Chevrolet Onix no ano passado, ganhou tela de maior resolução, nova interface e roteador WiFi graças a um chip 4G interno, um serviço pago à parte. Essa funcionalidade se estendeu ao Tracker, que ainda tem tela maior de oito polegadas (contra sete na família Onix, com exceção dos RS e Midnight).
A despeito da internet a bordo, cujo sinal é reforçado, a central MyLink do Tracker ainda depende do cabo USB para se conectar às plataformas Android Auto e Apple Carplay. Na linha Chevrolet, apenas a nova S10 e o novo Trailblazer têm conectividade sem fio com essas plataformas.
Outra diferença é que o MyLink não é baseado em Android, mas em software próprio. Talvez esteja aí o segredo da usabilidade e da velocidade na operação dos menus da central multimídia na comparação com as outras. E também da velocidade de inicialização e de uma maior integração com outros sistemas do carro.
Por exemplo, há comandos redundantes para o ar-condicionado (quando este for automático) e para o acesso ao OnStar na tela, e por meio dela também são feitos ajustes de funcionalidades do carro, como a atuação dos sistemas de segurança do Tracker Premier.
Contudo, mesmo sendo possível monitorar um Tracker (e até dar partida no motor ou verificar a pressão dos pneus) por meio do smartphone do proprietário, a central multimídia é incapaz de exibir as informações do computador de bordo – que até é muito completo.
Em outras palavras, informações de consumo, autonomia e qualidade do óleo lubrificante, só são vistas na telinha do quadro de instrumentos.
Para bagunçar ainda mais, o controle de brilho da central é feito apenas entre “Dia”, “Noite” e “Automático”, e mesmo o modo Noite ainda tem brilho muito intenso. Mas nos Tracker LT e LTZ é possível controlar o brilho (junto com toda a iluminação interna) lá pelo computador de bordo, e com amplitude de ajuste muito maior.
Como o toque na tela nem sempre é caminho mais rápido e intuitivo, o MyLink tem botões físicos com direito a botão giratório para o volume.
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Mas quem usar as outras centrais do comparativo sentirá falta de funções de personalização. Nem troca de temas, nem perfis de usuários estão presentes.
Tudo que é sem fio é complexo para a central MyLink. Conectividade sem fio com Android Auto e Apple Carplay só existe na versão presente na picape S10 e no SUV Trailblazer e a fabricante não fala se estenderá a funcionalidade aos outros carros da casa. Contudo, Onix, Tracker e Cruze têm carregamento sem fio para smartphones que os carros maiores não tem.
A central MyLink tem o mérito de ser a mais comprometida em oferecer funcionalidades realmente úteis, maior integração com sistemas do carro e por ser a mais rápida de todas. Mas ainda falta dar algums passos adiante na integração com o carro e na conectividade para se tornar imbatível.
Após a publicação, tivemos acesso ao conteúdo da linha 2021 dos Chevrolet Onix e Onix Plus. Agora, a versão topo de linha Premier terá Android Auto e Apple Carplay sem fio na central MyLink de 8 polegadas.
1° – Volkswagen Nivus – VW Play
O Volkswagen Nivus, por si só, chegou chamando bastante atenção pelo design e pela proposta diferente. Mas também foi grande a expectativa pela central multimídia VW Play, com tela IPS maior, de 10,1 polegadas, de melhor resolução (1540 x 720 pixels) e revestida com vidro temperado.
A central VW Play é opcional no Nivus Comfortline e de série no Nivus Highline, e agora também está em todas as versões do T-Cross a partir da linha 2021.
Ela foi desenvolvida no Brasil com foco, de acordo com a VW, na usabilidade e conectividade. De fato. Tem integração de celulares via Android Auto e Apple CarPlay (mas só o segundo funciona sem fio) e tem à disposição uma plataforma própria de aplicativos.
Como a central roda uma versão bem modificada do Android, os aplicativos são exatamente iguais aos usados nos celulares (ou tablets) com este sistema operacional.
Mas a lista de aplicativos ainda está bastante restrita. Waze, Estapar, Ubook, 12min, Porto Seguro e o manual cognitivo do carro já estão disponíveis. iFood, Deezer e Spotify (que poderão usar os 10 gb internos da central para armazenar músicas) devem ser integrados à plataforma mais adiante. É possível fazer login nos aplicativos via Facebook, mas a rede social não está disponível.
Só tem um detalhe: os aplicativos dependem de internet que a central multimídia não tem. Precisa estar conectada a uma rede Wi-Fi de 2,4 ou 5 GHz, que no dia a dia certamente será roteada do smartphone do motorista ou de algum passageiro.
Aí aparece um outro problema. Rotear a internet consome bastante a bateria do smartphone. Um cenário de carregamento sem fio contornaria o problema, mas apenas para uma parte dos proprietários. É preciso lembrar que a funcionalidade só é comum aos iPhones mais recentes e está presente em alguns poucos aparelhos Android.
Além disso, tivemos problemas recorrentes para reconectar a central à rede Wi-Fi que já era conhecida pelo aparelho. Foi necessário fazer a central esquecer a rede e configurar ela novamente para funcionar. A Volkswagen disponibilizou atualização que corrige falhas de conexão, mas sua instalação só pode ser feita nas concessionárias e mediante agendamento.
Também percebemos problemas nos apps Ubook e 12min: se você sair do app por algum motivo, a reprodução dos livros recomeça do zero. Também durante o uso houve atualização do app da Porto Seguro, que é feito apenas com a permissão do usuário – e foi rápida. Essa atualização, sim, pode ser feita pela internet.
Resolvemos comparar o uso do Waze instalado na central e via Android Auto.
Em uma viagem de 2h30, o aplicativo instalado na central consumiu 21 mb de dados da internet roteada pelo smartphone. Foi usado um Samsung S9 Plus com dois anos de uso, que teve 30% de sua carga consumida pela função de roteador – a própria central tem antena GPS – no período.
Na volta, usando o Android Auto, o consumo de dados foi de 16 mb e o smartphone recuperou 25% de sua carga por estar conectado à porta USB.
Até é possível usar o Waze da central multimídia sem internet. Mas para isso os mapas da região precisam estar armazenados na central e o motorista não terá atualizações do trânsito em tempo real, uma das principais funcionalidades do aplicativo. Não há como ficar totalmente independente do smartphone.
Também vale considerar que o Waze instalado na central tem a mesma interface de um smarphone ou tablet, enquanto no Android Auto sua interface é otimizada para a central multimídia. Sem contar que entra em funcionamento rapidamente, bastando apenas conectar o smartphone ao cabo USB.
Considerando isso, a conectividade sem fio (que existe para Apple Carplay) seria muito mais útil no uso diário que o aplicativo, que sempre dependerá de internet. De toda forma, por mais que a lista de apps seja bastante restrita hoje, a intenção é oferecer mais ferramentas futuramente. E torcemos para que sejam apps mais úteis.
Se a VW Play tem uma vantagem consistente frente a central Discover Media, presente na maior parte dos carros da marca, é a usabilidade. Algumas das funções mais utilizadas já estão na tela principal e a primeira tela das configurações exibe o que mais se usa ali: ajustes de brilho da tela, equalizador do som, perfil de uso, modo valet (que inibe o acesso à central multimídia temporariamente por meio de senha e grava as principais ações do profissional com o carro) e a conexão do smartphone.
A distribuição das configurações entre os submenus segue uma lógica melhor, também. E essas configurações podem ficar salvas em cada um dos perfis. Mas não encontramos como personalizar o avatar, a não ser por nome e cor.
Quem já estava acostumado com a Discover Media, porém, sentirá falta dos botões físicos, principalmente para o volume. Na VW Play você precisa tocar no ícone do alto-falante e depois arrastar a barrinha do volume. A função “mudo” é, na verdade, o ícone que seria para ligar e desligar a central.
Na verdade, a tela também recebeu botões que antes eram físicos, como o de abertura do porta-malas e de desativação dos sensores de estacionamento. Em modelos futuros, como o SUV médio Taos, até mesmo a desativação do start-stop será na lateral da tela.
A Discover Media tem altímetro e permite que seja exibido mapa no quadro de instrumentos digital, que não existem na VW Play. Mas a nova central continua coordenando as configurações dos instrumentos e mostra muitas informações do computador de bordo.
O assunto “ligar” é delicado para a VW Play. Em nossos testes, ao religar o carro após mais de 15 minutos a central leva cerca de 25 segundos para estar plenamente operante. Pelo menos a exibição das imagens da câmera de ré funciona nesse intervalo.
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Veredicto
Nenhuma das três centrais é perfeita. O mundo ideal seria a tela e a interface da VW Play, com a internet e velocidade do MyLink e toda a conectividade sem fio do Uconnect. Isso ainda não existe.
A central Uconnect, da Fiat, poderia ser mais rápida, ter tela de melhor qualidade e interface mais organizada, por isso o terceiro lugar. O MyLink, da Chevrolet, é o mais funcional e eficiente dos três, mas o WiFi é seu grande destaque e ele está ali não para benefício da central multimídia, mas dos usuários.
O que dá a vitória à VW Play é sua interface quase sempre mais funcional e preocupada com detalhes e usabilidade, além da tela melhor. A plataforma de apps ainda não pode ser considerada um grande diferencial, mas a comunicação entre a central e o carro, a compatibilidade com Apple Carplay sem fio e o ecossistema que já prevê melhorias fizeram ela superar o MyLink.
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