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Suíça pode proibir carros elétricos para economizar energia no inverno

Com provável falta de gás russo, país alpino cria plano preliminar que envolve todo tipo de racionamento de eletricidade durante o inverno

Por Eduardo Passos
2 dez 2022, 21h54
Efeito dominó no suprimento energético da Europa pode prejudicar donos de carros elétricos na Suíça
Efeito dominó no suprimento energético da Europa pode prejudicar donos de carros elétricos na Suíça (Rick Govic/Unsplash)
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Sob risco de faltar energia para o aquecimento no inverno, a Suíça pode limitar e até banir a circulação de carros elétricos. A medida, ligada a restrições de exportação de gás da Rússia, está contida em um rascunho de lei ao qual jornais europeus tiveram acesso — o documento inclui até limitações quanto ao uso de aplicativos de streaming e lavadoras de roupa.

Segundo o “Projeto de regulamento sobre restrições e proibições ao uso de energia elétrica”, haveria quatro níveis de racionamento energético no país alpino. No que tange os carros elétricos, de acordo com o jornal alemão ADAC, o governo suíço inicialmente reduziria a velocidade máxima de suas rodovias de 120 km/h para 100 km/h.

Dado que a eficiência de motores elétricos cai em altas velocidades ao passo que a resistência do ar cresce exponencialmente, essa redução de 20 km/h pode promover economia na casa de 30%, segundo estudo da Universidade Murdoch, da Austrália.

Kia EV6
Primeira medida seria limitar a velocidade máxima dos carros em rodovias suíças (Fernando Pires/Quatro Rodas)

Caso as coisas piorem e haja falta significativa de energia elétrica, diz o documento suíço, o uso de carros elétricos particulares seria limitado a deslocamentos “absolutamente necessários”. No caso, idas ao trabalho, supermercado, missas e outras atividades religiosas, necessidades médicas e compromissos legais, entre outros casos.

Netflix na “banguela”

Com 24% da frota suíça composta por veículos elétricos e híbridos plug-in, segundo a Evannex, a medida “anti-elétricos” do país europeu passa longe de ser a mais impressionante: o documento ainda detalha ações como a limitação da temperatura de geladeiras para 6º C e de secadoras de roupa para 40º C.

O uso de aquecedores externos de quintal, por exemplo, também seria proibido e os banheiros públicos deixariam de oferecer torneiras com água aquecida. Curiosamente, também há planos de limitar a qualidade serviços de streaming, que não rodariam em HD a fim de reduzir o consumo energético de data centers.

Negócio complexo

Conforme dados governamentais, cerca de 60% da energia suíça vem de fontes renováveis, principalmente usinas hidrelétricas. A energia nuclear contribui com cerca de 38% e a conta fecha com uso residual de carvão e outros combustíveis fósseis. É uma composição que traça semelhanças com o Brasil, e a Suíça, inclusive, produz mais energia do que consome. Então, por que se preocupar?

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A Escola Politécnica Federal de Lausanne explica que, por estar inserida na rede europeia, a nação helvética aproveita a dinâmica de oferta e demanda para lucrar: em um esquema engenhoso, ela compra energia de vizinhos como a Alemanha durante a noite, quando a demanda é menor e o preço também.

Essa eletricidade é usada para bombear água morro acima e, dessa forma, “recarregar” o potencial de sua rede hidroelétrica. Durante o dia, quando a vizinhança precisa de energia imediatamente, as comportas são abertas e o excedente vendido bem mais caro.

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Suíça faz uso dinâmico de suas hidrelétricas para lucrar com a venda de energia (Aviation Analysis Wing/Reprodução)

A guerra na Ucrânia, entretanto, pode gerar um efeito dominó que começaria com a interrupção das linhas que levam gás natural russo à Europa Ocidental — uma represália de Vladimir Putin à OTAN e seus aliados.

Esse gás é responsável por mais de um terço do consumo energético do continente (ainda maior no período de inverno) e sua falta pode obrigar os grandes consumidores a alterarem a dinâmica de compra e venda de eletricidade. Ao mesmo tempo, é nessa época do ano que as chuvas diminuem na Suíça, também encolhendo o nível de seus reservatórios.

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Como o documento ainda é um rascunho, as medidas de racionamento podem mudar caso seja, de fato, necessário colocá-las em vigor. Também não há explicação de como a fiscalização do racionamento seria feita por parte do governo.

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