Como os carros da Toyota se tornaram os favoritos dos terroristas?
Empresa japonesa sofre por ser constantemente associada à grupos terroristas, devido à grande quantidade de seus veículos sendo utilizado por eles
A fama de indestrutíveis dos utilitários da Toyota rendeu a eles uma legião de fãs que nenhum fabricante de automóveis gostaria de ter. Não é raro ver Toyota Hilux, SW4/4Runner e Land Cruiser nas mãos de rebeldes e grupos terroristas, como a Al Qaeda e o Estado Islâmico.
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Com a recente tomada do poder do Afeganistão pelo Talibã, novamente, criam-se especulações em torno da popularidade desses veículos entre grupos paramilitares.
A predileção do Talibã pelos utilitários japoneses é antiga. Foram um símbolo de força do grupo já nos anos 1990. Na primeira vez em que os combatentes do Talibã invadiram o palácio presidencial, em 1996, jornalistas do India Today descreveram como “tanques e caminhões Toyota Hilux carregados de munições invadiram a capital do Afeganistão”. Os veículos eram tratados como “plataformas ideais para intimidação e fiscalização”, escreveu o New York Times em 2001.
Mas a relação entre a Toyota e os conflitos armados é antiga. Nos anos 80, em plena Guerra Fria, houve um confronto na fronteira da Líbia com o Chad envolvendo ambos os países e também a França. Foi batizado de “Guerra das Toyotas” justamente pelo grande número de Land Cruiser e Hilux usados pelos soldados chadianos para atravessar o deserto.
Claramente, é pouco provável que a Toyota venda diretamente seus veículos aos terroristas, já que isso não só seria horrível para a imagem da marca, como também infringe diversas leis de comércio internacional. Em sua defesa, a empresa japonesa afirmou ainda que é impossível rastrear veículos roubados ou comprados e revendidos por terceiros.
Na verdade, a Toyota ainda trabalha para distanciar sua associação com grupos terroristas e apoiou publicamente uma investigação do Departamento do Tesouro dos Estados Unidos sobre como seus veículos foram parar nas mãos de terroristas.
Quando questionada pela Secretaria do Tesouro dos Estados Unidos há seis anos, a montadora respondeu dizendo que tem uma “política estrita de não vender veículos a compradores em potencial que podem usá-los ou modificá-los para atividades paramilitares ou terroristas.”
Mas então por que e como eles chegam às mãos dos terroristas? Em uma rápida pesquisa no Google você pode conferir que os carros da Toyota são os mais vendidos e populares no mundo. Repare nas reportagens recentes sobre o Afeganistão e você perceberá que os Toyota Corolla do início dos anos 1990 é o carro mais comum nas ruas do país. A propósito, 90% dos carros do Afeganistão são Corolla.
No Oriente Médio, por exemplo, os SUVs, como a Hilux e o Land Cruiser, estão entre os preferidos da população por conta da ampla disponibilidade de peças, economia e durabilidade.
Quem nunca ouviu a frase “cuidado ao comprar esse modelo porque ele é muito ‘visado’”. Os utilitários da Toyota sofrem do mesmo problema que alguns carros no Brasil. Em mercados onde eles são abundantes, os carros viram alvo de bandidos, pois são fáceis de revender – especialmente para fora do país.
Existe a possibilidade desses veículos chegarem ilegalmente de navio de outros países, como a Austrália. Entre 2014 e 2015, segundo o site Daily Mail, houve uma grande onda de roubos de Hilux em Sydnei. Com mais de 800 veículos desaparecidos, as autoridades locais recomendaram que os donos tomassem medidas extremas para proteger suas picapes.
A teoria sugere que esses Toyota roubados viajaram em contêineres até a Turquia, onde cruzavam a fronteira com a Síria e eram entregues às tropas do Estado Islâmico.
Outro ponto que deve ser levado em consideração é a geografia do local. Nos países como Iraque, Afeganistão e Síria grande parte dos confrontos acontecem em terrenos íngremes, de difícil acesso e não pavimentados. Logo, a boa dirigibilidade dos utilitários da Toyota nessa situação colabora para sua predileção. O ar-condicionado também ajuda na popularidade.
Inclusive, até as tropas das Nações Unidas utilizam muito os utilitários japoneses em suas missões em países do Oriente Médio e África. A ONU comprou mais de 150.000 Toyota nas últimas quatro décadas.
Para evitar a revenda ilegal de seus carros, a Toyota vem buscando alternativas. Recentemente, na estreia do novo Land Cruiser 300 para o Japão, a montadora fez com que os clientes assinassem um termo que proíbe o comprador de revender ou exportar o veículo dentro do período de um ano.
A montadora também criou uma solução bem criativa para ajudar a rastrear seus veículos e peças roubados.
O novo Land Cruiser 300 tem selos microscópios com o número VIN (identificação do chassi, que funciona como um CPF dos carros). Desse modo, mesmo que os ladrões raspem o código no chassi, a polícia ainda poderá identificar o carro através desses adesivos, invisíveis, a olho nu escondidos pelo veículo.
Ford Ranger pode tomar o lugar das Hilux
Imagens recentes do Afeganistão revelam, também, que o Talibã está com um número significativo de Ford Ranger. Não se trata da geração atual, mas da anterior com uma reestilização que não tivemos no Brasil.
A maioria dos carros aparecem pintados de bege ou verde escuro, o que sugere que são carros roubados das forças de segurança do Afeganistão. Pelo menos 270 Ranger do militares afegãos caíram nas mãos do Talibã.