Trocar Fit por City hatch foi a decisão mais arriscada da Honda no Brasil
Após 18 anos, o Honda Fit terá sua produção interrompida no Brasil em dezembro; City hatch estreia em março
Eu não gosto do Honda Fit. Nunca gostei. Não somos compatíveis: o tanque de combustível sob os bancos dianteiros não apenas limitam o curso dos trilhos como também faz com que minhas pernas fiquem batendo na parede que envolve o tanque. Mas eu tenho certeza absoluta que foi o carro que mais recomendei para amigos e familiares, seja novo ou usado, manual ou automático, 1.4 ou 1.5.
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O Honda Fit é absolutamente genial. Se você não faz questão de algum equipamento específico, desempenho ou requinte, e não faz a menor ideia do que comprar, compre um Fit.
Se fizer questão que seja 0km, é bom correr: a produção nacional dele vai parar agora em dezembro e só restam as duas versões mais caras, EX (R$ 96.400) e EXL (R$ 102.000). O aventureiro WR-V também vai sair de linha, mas ainda tem três versões: LX (R$ 93.200), EX (R$ 100.700) e EXL (R$ 105.600).
O Honda Fit é pequeno, tem muito espaço para todos os passageiros, o porta-malas é honesto e, justamente por causa do maldito tanque de combustível, o assoalho traseiro é plano e torna-se um compartilhamento de carga quando o assento é dobrado.
Sim, é verdade que o Honda City Hatch terá a mesma solução quando chegar às lojas, em março. Mas ele é um hatch, uma carroceria que poucas pessoas ainda defendem. O Fit é quase amorfo: uma hora parece mais com hatches e em outras é um monovolume.
É um estilo tão ambíguo que a decisão cabe mesmo a quem o vê. Isso, no fim das contas, é uma vantagem. Uma vantagem que o City hatch não tem.
O City hatch é um carro oportuno no momento errado. Há 10 anos falava-se na nacionalização do Honda Brio, que seria um carro pequeno, de volume, para brigar entre os carros populares da época e, especialmente, com Toyota Etios, Nissan March, Hyundai HB20 e Chevrolet Onix, carros que surgiram nos anos seguintes. Mas a Honda nunca se aventurou.
Na verdade, a Honda nem sequer explorou o segmento de hatches médios quando eles eram os carros da moda. Imagine o Civic hatch com produção nacional. A Honda nunca foi de arriscar.
Agora, porém, parece estar se arriscando. No primeiro contato, o City hatch pareceu, no mínimo, um carro que deve ser conhecido de perto. O mais curioso é o fato de ele ter banco traseiro mais espaçoso que o do sedã, devido ao arranjo da cabine. Mas será que isso é uma vantagem real no momento em que ninguém dá atenção aos hatches, especialmente em um momento de carros compactos com preços de médios?
Indo um pouco mais além, esse ganho no espaço interno do City hatch em muito se deve ao porta-malas pequeno, com 268 litros. O Honda Fit tinha quase 100 litros a mais, 363 litros. E não custa lembrar que o Ford Ka, com seus 257 litros, sofria preconceito custando muito menos, porque a média do segmento está acima dos 280 litros.
Por ser um hatch com proporções bem definidas, a tampa do porta-malas também é menor que a de um Fit. Quem antes aproveitava a versatilidade do Fit levando bicicletas e até caixa d´agua no porta-malas ficará saudoso com o City hatch.
A troca do Honda Fit pelo City hatch é, provavelmente, a decisão mais arriscada que a fabricante japonesa já tomou no Brasil, ainda que seja uma decisão conveniente. Independente de toda a fama e da legião de fãs que o Fit conquistou em 18 anos no Brasil (sempre com produção nacional).
Se antes a Honda mantinha o City e Fit com plataforma e mecânica igual, mas com carrocerias completamente diferentes, agora terá a chance de aproveitar a economia de escala ao vender duas carrocerias com quase tudo compartilhado entre elas. É tudo igual até o final das portas traseiras. A tendência é que surja um SUV compacto de entrada com a mesma plataforma nos próximos anos.
Não será um best seller (o desempenho morno do arquirrival Toyota Yaris nas lojas ilustra bem isso), mas será mais rentável do que produzir a nova geração do Fit no Brasil.
Pode ser a primeira vez que a Honda está se arriscando, mas não é a primeira vez (e certamente não será a última) que ela toma uma decisão extremamente pragmática. É tudo que se espera de uma empresa que construiu uma fábrica novinha e esperou anos pelo momento certo de iniciar a produção nela.