Único Chevrolet Kadett híbrido do mundo faz 32 km/l e não paga IPVA
Engenheiro adaptou mecânica híbrida flex do Toyota Corolla 2021 em um Chevrolet Kadett 1998, que agora tem 1.100 km de autonomia
Conversão de carros antigos em modernos não é novidade e tem até nome: “restomod”. A transformação de carros a combustão em elétricos também faz parte desse movimento, como os Gol GTi elétrico convertido pela FuelTech e o Chevrolet Celta elétrico que já mostramos por aqui. Mas também há espaço para híbridos.
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É o caso do Chevrolet Kadett híbrido flex, feito no Brasil e que viralizou nas redes sociais: teve mais de 40 milhões de visualizações em vídeos no Facebook e no Instagram.
O criador do primeiro Kadett híbrido do mundo é Caio Andreazzi Cintra, de 37 anos, dono de uma oficina mecânica em São José dos Campos, no interior de São Paulo. “Sou engenheiro eletricista e trabalho com carro desde dos 10 anos, mas abri minha oficina em 2020 já especializada na conversão de clássicos em modernos”, conta Andreazzi. Ele brinca que é apaixonado pelos carros antigos, mas não quer a dor de cabeça que eles dão e acabou se especializando nessa área.
Desde que abriu a oficina, fez inúmeros projetos como uma Chevrolet C10 com mecânica da VW Amarok V6 e uma Ford F-1000 com mecânica da Ram 1500. Porém, foi um Chevrolet Kadett com a mecânica de um Toyota Corolla híbrido flex que tornou a sua oficina conhecida em todo o Brasil.
A ideia de fazer um Kadett híbrido
Tudo começou com a ideia de um cliente em meados de 2022 em transformar um carro antigo em híbrido. Andreazzi sugeriu o Corolla híbrido, pois, na ocasião, era um modelo recém-lançado. “Costumo comprar em desmanches carros batidos com a mecânica preservada, mas sempre busco novos, no máximo com dois anos de uso”.
Antes de comprar o carro antigo, Caio foi procurar o Toyota para ser fornecedor de peças e encontrou um com apenas 899 km rodados. “Compramos no fim de 2022 e o processo foi desgastante e concorrido, por ser um modelo novo no marcado”, afirma. A ideia inicial do cliente era adaptar um Ford Corcel I, porém, devido a carroceria ser muito estreita para a mecânica do Corolla, sugerimos o Kadett.
“Adquirimos um modelo 1998 como motor 2.0 aspirado e câmbio manual. A carroceria e o interior não estavam em bom estado, mas a parte mecânica sim, veio rodando de São Paulo para São José dos Campos”, conta Caio.
Praticamente um Corolla?
A conversão completa durou quase seis meses e exigiu uma série de modificações no Chevrolet Kadett, que já foi o carro mais moderno da Chevrolet no Brasil. “Tive que reforçar as longarinas e montá-las ao contrário para segurar o peso do motor e suportar o torque extra do sistema.”
Andreazzi também adaptou o quadro de instrumentos digital, a direção elétrica e a central multimídia originais do Corolla. “Todo o conjunto mecânico foi adaptado, então o Kadett manual se transformou em um automático CVT e com direito a ar-condicionado digital de duas zonas”, brinca Caio.
Os bancos também são originais do Corolla, assim como as rodas, freios e todo o sistema de suspensão dianteiro. A intenção inicial do cliente era poder levar esse Kadett para fazer uma revisão na concessionária Toyota. “E eu fiz toda a modificação para que o Kadett funcionasse como um Corolla e qualquer mecânico da marca pudesse mexer com tranquilidade”, diz.
Ainda faltam os sistemas autônomos, como piloto automático adaptativo, frenagem autônoma de emergência e assistente de permanência em faixa, que já foram encomendados e serão instalados em breve.
Quando o Kadett híbrido ficou pronto, em agosto de 2023, o dono do carro e cliente fiel da oficina não quis ficar com o carro, pois já havia viralizado nas redes sociais da oficina e seria mais justo que ficasse com o próprio Caio. Assim foi feito: Andreazzi comprou o carro e a partir daí o utilizou como ferramenta de divulgação do seu negócio.
Economia e custo do Kadett híbrido
“Algo que me impressionou foi a autonomia do Kadett, que chega a 1.100 km, pois preservei o tanque de 60 litros original do carro enquanto o Corolla traz um tanque de 43 litros”, diz Caio, que garante que encheu o tanque com gasolina do Kadett apenas três vezes em sete meses de uso (1.700 km rodados) e que o modelo faz médias de 32 km/l na cidade e 26 km/l na estrada.
Ele atribui toda essa economia de combustível ao fato do Kadett ser 230 quilos mais leve que um Corolla e por ser um modelo esportivo e, portanto, mais baixo, com linhas e elementos aerodinâmicos que o tornam ainda mais econômico.
Mas vai demorar para o baixo consumo justificar o investimento no projeto, que chegou a R$ 320.000. “O custo foi alto mesmo, mas não me arrependo, pois fiz um projeto dos sonhos e acabei conquistando clientes do Brasil inteiro, tenho até um modelo que vou exportar para o Japão”, conta Caio.
Nesse valor já está incluso o custo com a documentação, que precisou de uma atualização pela mudança mecânica, mas continua registrado como um Chevrolet Kadett 1998 e, portanto, não paga IPVA por ter mais de 20 anos de uso. Mesmo com o motor de um carro 2021.
Como forma de agradecer ao público que virou fã do Kadett, Andreazzi decidiu fazer um sorteio do Kadett híbrido. “Foi a maneira que encontrei de agradecer pelo menos um pouco a esses admiradores do meu trabalho.”
A próxima transformação já está em andamento e é bem desafiadora segundo Caio: ele vai adaptar a mecânica de um Audi A6 2013 em um Chevrolet Opala.