Chinesa Great Wall pode comprar fábrica da Mercedes no Brasil
Uma das maiores fabricantes de automóveis da China, a Great Wall sonda o Brasil há mais de uma década e até já teve carros à venda no País
Ainda que fosse especulada como uma das interessadas nas fábricas da Ford no Brasil, a Great Wall, uma das maiores fabricantes de automóveis chinesas, estaria considerando a compra da fábrica da Mercedes-Benz em Iracemápolis (SP). As informações são da Bloomberg.
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A fábrica foi responsável pela montagem dos Mercedes Classe C e GLA no Brasil entre 2016 e o final de 2020, quando fechou a fábrica, cuja capacidade é de 20.000 carros por ano. Apenas o campo de provas anexo à fábrica segue ativo.
A Great Wall foi fundada em 1984 e produz carros desde 1993. Ela está presente em vários países da América do Sul por meio de importadores, mas a operação do Chile é a que mais se destaca: a marca teve 2.435 emplacamentos por lá em 2020, sendo seu sexto maior mercado no mundo.
De acordo com a Bloomberg, as negociações estão em andamento e as empresas podem optar por não fechar um acordo, ou fechar um acordo a qualquer momento. Seria uma negociação de milhões de dólares, considerando que a Mercedes investiu mais de R$ 600 milhões para erguer a fábrica de Iracemápolis.
Um entrave para superar essa muralha pode estar no corpo de acionistas da Daimler, dona da Mercedes. O maior acionista é o bilionário chinês Li Shufu, fundador e presidente do Zhejiang Geely Holding Group, a maior concorrente da Great Wall na China. Por outro lado, ele também é dono da Geely, que tem joint venture na China com a maior concorrente da Daimler, a BMW.
Em 2020 a Great Wall comprou as fábricas da General Motors na Índia e na Tailândia. Na Tailândia, a Great Wall também havia prometido uma sucursal, mas foram anos até que o fechamento da planta da GM, em 2020, servisse como oportunidade perfeita. O roteiro é familiar.
Desde fevereiro, a GWM vende o SUV Haval H6 e o compacto elétrico ORA Good Cat aos tailandeses, com mais dois modelos previstos até o fim do ano. Em esquema análogo ao das empresas de tecnologia da China, a montadora foca em eficiência, preços competitivos e marketing de vanguarda para atrair público.
A tática é complexa e vem sendo refinada desde 2015, quando a empresa desembarcou na Rússia. Por lá, a subsidiária Haval já marca presença no top 10 de vendas e sua fábrica será expandida após meros dois anos de operação.
Com pretensões globais, a GWM não esconde o desejo de “sentar na mesa dos adultos” e se tornar a primeira montadora chinesa vista com os mesmos olhos de vizinhas coreanas e japonesas, por exemplo. Para tanto, também segue investindo em pós-venda altamente conectado, tecnologias próprias de eletrificação e automação veicular.
Marca já esteve no Brasil – ou quase isso
Pouca gente lembra, porém, que a Great Wall chegou a ter carros vendidos no Brasil. Em 2009, a Alexandros Motors, de Brasília, se tornou importadora oficial e trouxe alguns carros da Great Wall para o Brasil. Um deles era o Hover, um SUV médio com motor 2.4 de origem Mitsubishi ofertado por R$ 69.000 à época. Mas o negócio não evoluiu.
Na última década também houve diversas manifestações da empresa sobre seu desejo de ter uma fábrica no Brasil. A GWM chegou a anunciar uma fábrica no Brasil em 2013, com seus executivos visitando Ribeirão Preto, Guarulhos, Joinville e, justamente, os arredores de Salvador. Entretanto, os planos não se concretizaram.
Desde 2018 a fabricante chinesa vinha sondando executivos de outras fabricantes no Brasil. Agora, já abriram sucursal em São Paulo, onde o ex-Toyota Anderson Suzuki prospecta inteligência de mercado e traça estratégias do que será vendido no país, reportando diretamente à sede, em Baoding.
Procurada no Brasil, a Great Wall Motors disse que, “como parte do plano global de internacionalização do grupo, está estudando várias regiões do mundo para expandir a marca para outros mercados. A América do Sul é um deles e estamos em estudos avançados visando o aumento da participação na região. Logicamente os maiores mercados serão priorizados, como o Brasil e a Argentina. Com relação a detalhes como o comentado pela Bloomberg, não podemos comentar no momento”.
Quais serão os próximos passos?
Como nos outros países, a tendência é de que a Great Wall chegue como importadora, iniciando produção local depois. Deu certo na Tailândia, mas não na Índia, onde outra fábrica da GM foi adquirida e problemas diplomáticos mais a pandemia de Covid-19 atrasaram os trabalhos.
Relatos dão conta de que, no Brasil, a marca busca incentivos fiscais para construir planta no Sudeste, focada em carros elétricos. O fracasso da Ford em Camaçari (BA) somado à crise financeira, porém, são entraves e, ao mesmo tempo, brecha para que o complexo baiano seja atualizado para a produção dos modelos elétricos.
A estratégia original da Great Wall era estrear no Brasil com pelo menos dois produtos: o SUV premium Haval H6 e a picape média Série P, que já foi registrada no Brasil. Ter uma fábrica levaria pelo menos 10 anos. Mas esse planejamento poderia avançar mais rápido com a montagem de carros no país.
O Haval H6 é um SUV médio do porte do Caoa Chery Tiggo 8, com 4,65 m de comprimento, e tem motor 1.5 turbo com injeção direta, aliado a câmbio automatizado de dupla embreagem com sete marchas. Seis airbags são equipamentos de série, assim como a tela de 10,2 pol que cumpre a função de quadro de instrumentos e a central multimídia de 12,2 pol.
Ainda tem head-up display, que pode ser usado para exibir informações ao motorista sem que este precise desviar a visão do trânsito.
A nova geração, lançada em agosto na China, tem 72% da carroceria composto de aço de alta resistência e também tem peças de alumínio. O resultado: é 44 kg mais leve e 10% mais rígido que o modelo anterior. E já está patenteado pela Great Wall no Inpi (Instituto Nacional de Propriedade Industrial).
A família de picapes Série P foi desenvolvida para tornar a Great Wall uma das líderes em vendas de picapes no mundo todo. Ela é construída com chassis sobre longarinas e, segundo o fabricante, oferece mais de 100 combinações entre visual, tipo de cabine e motorização.
Seu porte é um pouco maior que o de uma Toyota Hilux: 5,36 m de comprimento, 1,88 m de largura e altura, e 3,23 m de entre-eixos.
O motor é um 2.0 turbo a gasolina de 200 cv, que pode ser gerenciado por câmbio manual de seis marchas ou automático de oito. Este último, fornecido pela ZF, é o mesmo da nossa VW Amarok.
A tração é 4×4, com prioridade de entrega de torque às rodas traseiras e diferencial central blocante. Entre seus atributos off-road, constam 90 cm de capacidade de imersão.
Não há prazos ou detalhes especificados, mas o grupo reforça a importância da América do Sul no seu projeto de globalização. Desse modo, podemos ver modelos como o H6 à venda já em 2022, assim como a picape média, elogiada desde seu lançamento em países como Austrália e Nova Zelândia.
Instalada de vez, a empresa sinaliza que aproveitará o estágio embrionário dos EVs no país para garantir fatia importante no segmento. Ao mesmo tempo, seguirá comercializando modelos bons de venda, produzindo-os localmente.
Segundo o CEO Wei Jian Jun, é hora de “acelerar a expansão”, pautada em muito mais do que mecânica.
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