Em 2023, várias marcas chinesas anunciaram sua chegada em breve ao Brasil. É o caso de Omoda e Jaecoo (grupo Chery), Yangwang (submarca de superesportivos da BYD) e Poer e WEY (ambas da GWM, focadas em picapes e carros premium, respectivamente).
Mas QUATRO RODAS descobriu que ainda há outras novidades a caminho: existem mais três chinesas e uma outra vietnamita de malas prontas para desembarcar aqui. Todas trazendo veículos elétricos, mas com planos estratégicos diferentes.
VINFAST
A estreante mais curiosa de todas é a VinFast, fundada em 2017 como parte do esforço do Vietnã em ter suas empresas campeãs nacionais. A pouca idade foi compensada por planos ambiciosos, que envolveram a contratação de altos executivos e mais de 50 brasileiros vindos de marcas ocidentais e acordos de comércio e tecnologia com BMW e General Motors.
Atualmente, a VinFast só produz carros elétricos. Os principais são os SUVs VF6, VF7, VF8 e VF9, que crescem em tamanho e performance em ordem numérica. Dentro de pouco tempo, ao menos um membro dessa família estará nas ruas brasileiras, pois a marca já trabalha pesado para iniciar suas operações aqui.
No LinkedIn, a vietnamita abriu vagas em São Paulo para vários cargos de gerência. Explicitamente, são os primeiros passos para se estabelecer no país, com promessa de boa remuneração para atrair talentos. É provável que a VinFast lance modelos como o VF7: um SUV médio prestes a ser fabricado e que, com um ou dois motores, varia entre 177 e 354 cv e pode exceder os 430 km de autonomia.
O pequenino VF3 (de 3,11 m de comprimento e 136 cv) ou um SUV compacto como o VF e34 também teriam espaço. E o que pode ser um trunfo importante é o recente acordo de livre-comércio entre o Mercosul e Singapura: a marca concentra parte de suas operações na cidade-estado, podendo aproveitar de generosa isenção fiscal.
Mas os desconfiados têm argumentos fortes. Em 2023, a VinFast chegou com tudo aos Estados Unidos, até construindo uma fábrica no país. Lá já são comercializados os grandões VF8 e VF9, mas o fracasso de público e crítica foi retumbante. Além das vendas ruins, houve certa unanimidade na imprensa local ao avaliá-los como alguns dos piores carros à venda no país.
Questões como design e conforto foram elogiadas, mas não faltaram relatos de problemas, que vão do ar-condicionado, que só funciona em uma temperatura, a freadas bruscas feitas repentinamente pelo computador do veículo.
ZEEKR
Mais experiente é a Zeekr, que, apesar de pouco conhecida, é irmã de gigantes como Volvo e Lotus. Todas pertencem ao imenso grupo Geely, cujos carros sob seu próprio nome foram importados para o Brasil entre 2014 e 2018, com modelos a combustão desajeitados e de pouco sucesso.
Hoje, a Geely atua mais como uma holding. Uma das suas especialidades é aproveitar estruturas e profissionais de grandes marcas europeias e alinhá-los ao que os chineses fazem como ninguém — principalmente baterias
e motores elétricos. Assim, é possível realizar projetos que servem a diferentes marcas e têm mais capilaridade.
Descobrimos a Zeekr também pelo LinkedIn, mas a reportagem conseguiu um encontro pessoal com Charles Wang, o chefão das operações brasileiras. Wang confirmou planos de lançamento já neste ano, com dois modelos.
Um deles é a perua Zeekr 001, cujo design é assinado pelo escritório da marca e da Volvo em Gotemburgo e tem versões impressionantes, incluindo a esportiva 001 FR – quadrimotor de 1.265 cv e 130,5 kgfm. Também há série limitada com bateria de 140 kWh, que supera os 1.000 km de autonomia.
São variantes caríssimas, que não devem chegar à América do Sul. Quem vem é a Zeekr 001 mais simples (mas nada modesta), com um motor em cada eixo, tração integral, 544 cv, 70 kgfm e 580 km de autonomia. Trata-se de um veículo de luxo, que poderia superar a faixa dos R$ 400.000.
Bem mais em conta é o SUV compacto Zeekr X, feito sobre a mesma plataforma do Volvo EX30, que já está em pré-venda no Brasil. Dadas as semelhanças estruturais, fica fácil notar que a chinesa se difere no apelo tecnológico menos sóbrio, com estética e bugigangas que devem agradar os mais jovens.
Entre elas, há a tela multimídia de 14,6”, que desliza pelo painel e pode se alinhar ao passageiro da frente. O console central traz, em seu baú, um refrigerador capaz de manter as bebidas bem geladas e opcionais transformam o X em uma barraca de camping energizada, com espaço para colchões e energia para equipamentos diversos.
Duas configurações do Zeekr X estão confirmadas: a monomotor de tração traseira e 272 cv e outra bimotor de tração integral, com 428 cv e prometendo ir de 0 a 100 km/h em 3,9 s. Com uma bateria de 60 kWh, a autonomia declarada varia entre 512 e 560 km no otimista ciclo chinês.
Na Alemanha, onde X e EX30 já são vendidos, o Zeekr é mais caro que o Volvo. É importante citar que em nosso mercado as operações serão distintas, mas, caso os preços se correlacionem, o SUV chinês poderia chegar aos R$ 300.000.
RADAR
De acordo com Wang, há estudos para trazer a caçula da Geely ao Brasil. Ainda mais desconhecida, estamos falando da Radar, voltada exclusivamente para veículos elétricos com pegada off-road. Mesmo na China, sua proposta é nova. Mas, outra vez, a expertise de tantas marcas vem sendo usada com fartura para entregar produtos promissores.
Outros lançamentos vêm em breve, mas a estreia em nosso mercado seria feita, naturalmente, pela Radar RD6. Até agora o único produto da marca, essa é uma picape com aparência de Chevrolet Montana, mas que é maior do que uma Toyota Hilux.
O compartimento de baterias tem papel estrutural, possibilitando o uso de carroceria monobloco. A caçamba é completada pelo porta-malas dianteiro sob o capô e, além de energizar instrumentos de camping, a RD6 ainda pode reabastecer outros EVs.
Há três opções de bateria, e a maior provê alcance declarado de 632 km. Só há uma opção de powertrain, com motor traseiro de 272 cv e 39,2 kgfm. A falta de tração integral é uma falha, assim como a capacidade de carga de 450 kg (ainda que reboque 3 t).
O primeiro aspecto deve ser corrigido com nova versão, que somará um motor ao eixo dianteiro e, além da tração nas quatro rodas, potência e torque devem ir para mais de 400 cv e 70 kgfm.
HOZON
Outra fabricante chinesa que iniciou o processo de contratação de executivos para atuarem no Brasil foi a Hozon. A montadora está de olho em profissionais com experiência em diferentes áreas do setor automotivo e que já trabalharam em outras empresas do ramo.
A Hozon também já registrou seu primeiro carro no INPI (Instituto Nacional de Propriedade Industrial). Trata-se do Neta GT e aqui vale explicar que ‘Neta’ é uma das marcas da montadora. O modelo é um cupê esportivo de quatro lugares, com linhas curvas, faróis afilados e uma traseira que lembra o do Tesla Model 3, um de seus rivais no mercado chinês.
Na China, o Neta GT é vendido em diferentes versões. Basicamente, as variantes dividem-se entre aquelas com um e dois motores. As mais simples, podem ter a opção de bateria de 64,27 kWh e alcance de 560 km ou então um pacote de 74,48 kWh para chegar aos 660 km de autonomia. Nos dois casos, a potência é de 231 cv e o torque de 31,6 kgfm.
Enquanto isso, o modelo bimotor tem 462 cv e 63,2 kgfm e pode ir de 0 a 100 km/h em cerca de 3,7 s. A bateria é de 780 kWh e pode andar até 580 km com apenas uma carga.
Apesar de estreante no Brasil, a Hozon já é conhecida no Uruguai. A montadora atua no país vizinho há cerca de dois anos e, de acordo com seu site, vende apenas o SUV U Pro, que na China também é vendido pela marca Neta. O SUV tem 163 cv e 21,4 kgfm, além de uma bateria de 58 kWh que garante 400 km de autonomia, de acordo com o ciclo NEDC, e pode ser carregada de 30 a 80% em 30 minutos.