O que é um SUV? Reunimos quatro Renault que se dizem SUVs para responder
Marca francesa força na estratégia de marketing considerando quatro carros completamente diferentes como SUVs. Até onde ela está certa?
Entre compactos, médios e grandes, os SUVs já representam mais de 25% dos automóveis vendidos no Brasil. Mas cuidado: o que define um SUV hoje são atributos muito diferentes do passado.
O segmento que nasceu com variantes fechadas de picapes, mantendo as grandes dimensões, carroceria separada do chassi e tração traseira ou 4×4, ganhou popularidade com os carros de estrutura monobloco e tração dianteira.
Isso não é resultado apenas de uma adaptação aos anseios do consumidor, mas também fruto dos avanços técnicos em suspensões e rigidez torcional, por exemplo.
Enquanto cada fabricante tem sua própria classificação para SUV, quem acaba decidindo é o consumidor.
Pesquisa realizada por QUATRO RODAS com o público de internet (que pode ser vista logo acima) revelou que espaço interno, motor potente, porta-malas grande, posição elevada de dirigir e design robusto são os atributos que mais caracterizam os SUVs. Só depois aparecem a suspensão elevada e a tração 4×4, por exemplo.
Nunca foi tão fácil – e rentável – criar um SUV. Basta ver que a maioria dos SUVs compactos, cujos preços variam entre R$ 70.000 e R$ 140.000, é derivada de hatches pequenos, que por sua vez custam entre R$ 45.000 e R$ 85.000.
Há modelos baseados em um mesmo projeto sendo vendidos pelo dobro do preço.
Como a Renault é a fabricante que mais se aproveita disso, reunimos aqui todos os modelos que ela considera SUV. Afinal, Kwid, Stepway, Duster e Captur podem realmente ser chamados assim?
Enquanto não existe uma classificação global para separar aventureiros urbanos e SUVs, juntamos os quatro Renault para entender o que eles são diante do mercado e perante o governo.
Quem faz essa classificação é o Inmetro, que divide os modelos em categorias, em função do tamanho e de algumas características técnicas.
Cada subdivisão serve de base para a definição das notas de eficiência energética de cada carro no Programa Brasileiro de Etiquetagem Veicular (PBEV). Por isso, tomamos essas normas como base para classificar cada Renault.
Pela Portaria nº 377 do Inmetro, de 2011, e editada em 2013, um “utilitário esportivo compacto” deve ter área menor que 8 metros quadrados e cumprir quatro dos cinco requisitos a seguir:
Ter ângulo de entrada de no mínimo 22 graus, ângulo de saída de 19 graus, altura livre do solo de 18 cm, ângulo de transposição de rampa mínimo de 9o e altura livre do solo em relação aos eixos de 16 cm.
Caso tenha tração nas quatro rodas, “pneus de série de uso em todo tipo de terreno”, ângulo de ataque de 25o e ângulo de transposição de rampa de 13o, o modelo é promovido a “veículo fora de estrada compacto”. É o caso de Suzuki Jimny, Troller T4 e do Jeep Renegade diesel.
Para Duster e Captur, a dúvida pode não ser tão grande, mas ambos são baseados na plataforma B0, que estreou no Brasil com Logan em 2007.
São diferentes no design, comportamento dinâmico e, principalmente, preço: o Duster Dynamique 1.6 CVT custa R$ 79.990 e o Captur Intense 1.6 CVT, R$ 91.740. Mas são praticamente iguais nas dimensões externas e desempenho.
Por sinal, o motor 1.6 16V de 120 cv é comum aos dois, assim como o câmbio CVT, fornecido pela Jacto e capaz de simular seis marchas em algumas situações.
O Duster não tem molduras nas caixas de roda ou estepe pendurado na traseira, e o Captur não tem rack de teto nem peça de plástico no para-choque imitando quebra-mato.
Apesar do longo entre-eixos de 2,67 m, ambos têm ângulo de transposição de rampa adequado e cumprem os outros itens exigidos pelo Inmetro de aspirantes a SUVs.
Curiosamente, o Duster 4×4, com motor 2.0 e câmbio manual de seis marchas, é classificado como “utilitário esportivo compacto 4×4” e não como fora de estrada.
Cumpre todos os critérios, mas seus pneus Bridgestone Dueler são os mesmos das versões convencionais.
O Stepway vive dualidade ainda mais peculiar por causa das regras do Inmetro. Nasceu Sandero Stepway, mas se emancipou da família há alguns anos e agora, com visual renovado, se apresenta como SUV compacto.
Seus ângulos de ataque, saída e transposição de rampa não foram divulgados, mas superam os parámetros, ao contrário do vão entre os eixos e o chão e seu vão livre em relação ao solo, que condenam sua classificação como SUV.
Isso nas versões Intense (R$ 70.990) e Iconic (de R$ 73.990), como a testada aqui. Elas têm motor 1.6 16V SCe de 118 cv e câmbio CVT.
De tão grande, a caixa continuamente variável reduz a altura livre do solo em 4 cm, para 14,5 cm. Também por esse motivo todas as versões de Logan e Sandero com câmbio CVT receberam as mesmas suspensões do Stepway na linha 2020.
Só o Stepway Zen, de R$ 61.190, único com câmbio manual de cinco marchas, tem distância em relação ao solo de 18,5 cm e, portanto, é classificado como SUV compacto. Já as versões automáticas seguem consideradas hatch compacto.
E a capacidade do porta-malas, tão importante para o consumidor, é até grande: tem 320 litros, a mesma do Renegade.
Pequeno e marrento
O Kwid vive outra situação particular. Modelo de entrada da Renault no Brasil e autointitulado o “SUV dos compactos”, ele tem elementos de design característicos de SUVs.
Na comparação com as demais versões, o Kwid Outsider, de R$ 44.990, não tem muito mais do que molduras maiores para os faróis de neblina, frisos plásticos nas portas, calotas pintadas de preto, rack plástico no teto e apliques prateados na base dos para-choques.
Nada disso melhoraria sua vida em uma estrada de terra, nem perante as normas do Inmetro.
Ainda assim, mesmo com a altura livre do solo no limite de 18 cm, garante o título de utilitário esportivo compacto e até tira vantagem da situação: é o único da categoria com nota “A” em eficiência energética, graças ao pequeno motor 1.0 de três cilindros de 70 cv.
Este, aliás, é um é assunto delicado para SUVs. A altura maior aumenta a área de contato com o ar, o que piora a aerodinâmica, e seus pneus mais largos geram maior atrito com o asfalto, o que prejudica o consumo.
Por outro lado, o Kwid também é o menor e mais fraco de sua categoria. Se fosse classificado como subcompacto, como seus concorrentes de preço, dividiria a nota “A” com Fiat Mobi e Volkswagen Up!.
Ter um título que não é reconhecido não adianta muito – alguns times de futebol podem falar melhor sobre isso. O Kwid não tem os quatro principais atributos que o consumidor espera de um SUV (veja o gráfico ao lado).
O interior é estreito e o teto fica próximo da cabeça dos ocupantes, o motor está longe se ser potente, o porta-malas de 290 litros só é bom para carros de entrada e o motorista se senta a 32,4 cm do solo contra 69 cm em um EcoSport.
Na prática, as exigências do Inmetro para que um automóvel seja tratado como SUV são muito flexíveis e permitem exceções. Só dizem se o carro raspará a frente, o assoalho e o escapamento na ladeira do estacionamento do shopping ou não.
Tudo bem, é exatamente o que o comprador de um SUV quer.
Já a classificação para veículos fora de estrada não considera questões importantes, como a capacidade de imersão, rampa máxima e inclinação lateral máxima. Mas é suficiente para reunir modelos com vocação para incursões no meio do mato, ainda que exijam alguma adaptação após a compra.
Ficha técnica – Renault Kwid Outsider
Preço: R$ 44.990
Motor: flex, dianteiro, transversal, 3 cilindros em linha, 999 cm³, 12V, 69 x 66,8 mm, 10:1, 70/66 cv a 5.500 rpm, 9,8/9,4 mkgf a 4.250 rpm
Câmbio: manual, 5 marchas, tração dianteira
Suspensão: McPherson (dianteira), eixo rígido (traseira)
Freios: disco sólido (dianteira), tambor (traseira)
Direção: elétrica, 3,5 voltas
Pneus: 165/70 R14
Dimensões: comprimento, 368 cm, largura, 157,9 cm; altura, 147,4; entre-eixos, 242,3 cm, porta-malas, 290 l; tanque, 38 l; peso, 806 kg
Ficha de teste
Aceleração
0 a 100 km/h: 15,8 s
0 a 1.000 m: 37 s – 137,3 km/h
Retomada
3a 40 a 80 km/h: 9,5 s
4a 60 a 100 km/h: 16,1 s
5a 80 a 120 km/h: 27,3 s
Frenagens
60/80/120 km/h – 0 m: 15,3/27,5/63,2 m
Consumo
Urbano: 13 km/l
Rodoviário: 16,5 km/l
Ficha técnica – Renault Stepway Iconic
Preço: R$ 73.990
Motor: flex, dianteiro, transversal, 4 cilindros em linha, 1.597 cm³, 16V, 78 x 83,6 mm, 10,7:1, 118/115 cv a 5.500 rpm, 16 mkgf a 4.000 rpm
Câmbio: CVT, tração dianteira
Suspensão: McPherson (dianteira), eixo de torção (traseira)
Freios: disco sólido (dianteira), tambor (traseira)
Direção: eletro-hidráulica
Pneus: 205/55 R16
Dimensões: comprimento, 407 cm; largura, 173 cm; altura, 157 cm; entre-eixos, 259 cm; peso, 1,151 kg; tanque, 50 l; porta-malas, 320
Ficha de teste
Aceleração
0 a 100 km/h: 12,8 s
0 a 1.000 m: 35 s – 146,1 km/h
Retomada
D 40 a 80 km/h: 5,4 s
D 60 a 100 km/h: 7,7 s
D 80 a 120 km/h: 10 s
Frenagens
60/80/120 km/h – 0 m: 14,1/25,5/57,4 m
Consumo
Urbano: 10,1 km/l
Rodoviário: 13,1 km/l
Ficha técnica – Renault Stepway Iconic
Preço: R$ 73.990
Motor: flex, dianteiro, transversal, 4 cilindros em linha, 1.597 cm³, 16V, 78 x 83,6 mm, 10,7:1, 118/115 cv a 5.500 rpm, 16 mkgf a 4.000 rpm
Câmbio: CVT, tração dianteira
Suspensão: McPherson (dianteira), eixo de torção (traseira)
Freios: disco sólido (dianteira), tambor (traseira)
Direção: eletro-hidráulica
Pneus: 205/55 R16
Dimensões: comprimento, 407 cm; largura, 173 cm; altura, 157 cm; entre-eixos, 259 cm; peso, 1,151 kg; tanque, 50 l; porta-malas, 320
Ficha de teste
Aceleração
0 a 100 km/h: 12,8 s
0 a 1.000 m: 35 s – 146,1 km/h
Retomada
D 40 a 80 km/h: 5,4 s
D 60 a 100 km/h: 7,7 s
D 80 a 120 km/h: 10 s
Frenagens
60/80/120 km/h – 0 m: 14,1/25,5/57,4 m
Consumo
Urbano: 10,1 km/l
Rodoviário: 13,1 km/l
Ficha técnica – Renault Duster Dynamique 1.6 CVT
Preço: R$ 79.990
Motor: flex, dianteiro, transversal, 4 cilindros em linha, 1.597 cm³, 16V, 78 x 83,6 mm, 10,7:1, 120/118 cv a 5.500 rpm, 16,2 mkgf a 4.000 rpm
Câmbio: CVT, tração dianteira
Suspensão: McPherson (dianteira), eixo de torção (traseira)
Freios: disco sólido (dianteira), tambor (traseira)
Direção: eletro-hidráulica
Pneus: 215/65 R16
Dimensões: comprimento, 432,9 cm; largura, 182,2 cm; altura, 168,3 cm; entre-eixos, 267,4 cm; peso, 1.214 kg; tanque, 50 l; porta-malas, 475 l
Ficha de teste
Aceleração
0 a 100 km/h: 14,1 s
0 a 1.000 m: 35,8 s – 144 km/h
Retomada
D 40 a 80 km/h: 5,8 s
D 60 a 100 km/h: 8 s
D 80 a 120 km/h: 11 s
Frenagens
60/80/120 km/h – 0 m: 16,1/28,3/64,7 m
Consumo
Urbano: 10,5 km/l
Rodoviário: 12,8 km/l
Ficha técnica – Renault Captur Intense 1.6 CVT
Preço: R$ 91.190
Motor: flex, dianteiro, transversal, 4 cilindros em linha, 1.597 cm³, 16V, 78 x 83,6 mm, 10,7:1, 120/118 cv a 5.500 rpm, 16,2 mkgf a 4.000 rpm
Câmbio: CVT, tração dianteira
Suspensão: McPherson (dianteira), eixo de torção (traseira)
Freios: disco sólido (dianteira), tambor (traseira)
Direção: eletro-hidráulica
Pneus: 215/60 R17
Dimensões: comprimento, 432,9 cm; largura, 181,1 cm; altura, 161,9 cm; entre-eixos, 267,3 cm; peso, 1.286 kg; tanque, 50 l;
porta-malas, 437 l
Ficha de teste
Aceleração
0 a 100 km/h: 14,4 s
0 a 1.000 m: 35,9 s – 144,3 km/h
Retomada
D 40 a 80 km/h: 6 s
D 60 a 100 km/h: 8,2 s
D 80 a 120 km/h: 11,6 s
Frenagens
60/80/120 km/h – 0 m: 15,7/26,9/63,9 m
Consumo
Urbano: 10,1 km/l
Rodoviário: 13,2 km/l