O local é a pista de testes de Balocco, campo de provas do grupo Stellantis localizado a pouco mais de meia hora de Milão, na Itália. Diante de mim está a versão 2021 do Giulia GTA, modelo mais extremo do sedã lançado em 2016, e que terá produção limitada a 500 unidades.
Clique aqui e assine Quatro Rodas por apenas R$ 8,90
Explorando a superfície de metal, fibra de carbono e titânio, encontro uma discreta assinatura da Sauber Engineering sob as portas traseiras, uma clara indicação de que a Alfa buscou apoio nos 50 anos de experiência da empresa suíça na construção de carros de competição (metade dos quais na F1).
E também não abriu mão da contribuição de seus pilotos na categoria para o acerto do carro, caso do jovem italiano Antonio Giovinazzi e do veterano campeão finlandês Kimi Raikkonen. Do trabalho em equipe surgiu um foguete de 540 cv, a maior potência da categoria.
E estamos falando de uma categoria que tem entre seus integrantes o BMW M3 Competition e o Mercedes-AMG C 63 S. O preço? Nada menos que 195.000 euros ( R$ 1.176.750) no GTA e 199.500 (R$ 1.203.910) no GTAm, que traz itens ainda mais radicais.
A sigla GTA (de Gran Turismo Alleggerita) significa que o modelo passou por um minucioso processo de alívio de peso, combinado com um extenso trabalho aerodinâmico.Como exemplo, no GTAm os vidros das portas traseiras são de policarbonato, as molas da suspensão são mais leves, os bancos utilizam fibra de carbono e as maçanetas internas foram trocadas por fitas de tecido.
O primeiro impacto é visual. A carroceria foi alargada, para acomodar as bitolas maiores (5 cm atrás e 2,5 cm na frente), e existe fibra de carbono exposta por onde quer que se olhe. Ela está por exemplo no spoiler sob o para-choque dianteiro, para uso exclusivo em pista.
Ele projeta-se 4 cm à frente e reduz a distância em relação ao solo, com o objetivo de melhorar a carga aerodinâmica. Segundo Daniel Guzzafame, engenheiro de desenvolvimento do GTA, esse componente aumenta em 80 kg a pressão aerodinâmica na frente, com o carro em velocidade máxima (300 km/h). É a mesma pressão exercida pelo aerofólio traseiro.
O difusor traseiro é ornamentado com duas imponentes saídas de escape centrais (de titânio, da especialista eslovena Akrapovic), e as rodas aro 20” têm apenas um parafuso central, como em carros de competição. Os pneus Michelin Pilot Cup 2 empregam dois tipos de borracha, adequados tanto para uso em pista como nas ruas. E os freios são de carbono-cerâmica.
A personalidade de competição está também no interior das duas versões, embora de forma mais dramática no GTAm. Nele, até os bancos traseiros foram retirados. No lugar, a área revestida de Alcantara tem suporte para dois capacetes, extintor de incêndio e estrutura de reforço tubular de fibra de carbono. Os bancos dianteiros também são de fibra de carbono recobertos de Alcantara e têm cintos de seis pontos.
Se o Giulia Quadrifoglio já era capaz de se igualar aos 510 cv dos concorrentes alemães, no GTA ele se supera. Com novas bielas, jatos de óleo suplementares e novo mapeamento, o 2.9 V6 biturbo saltou para 540 cv. O torque de 61,2 kgfm é igual ao do C 63, mas o do M3 chega a 66,3 kgfm.
Outra vantagem do sedã italiano está no peso. Contra os 1.580 kg do GTAm e 1.605 kg do GTA, o Mercedes-AMG C 63 S acusa 1.755 kg na balança, enquanto o M3 Competition salta para 1.805 kg.
De acordo com a Alfa, o GTAm faz 0 a 100 km/h em 3,7 segundos, ante 3,9 s do M3 e 4 s do C 63 S AMG. Curiosamente, a máxima de 300 km/h é menor do que os 307 km/h do Giulia Quadrifoglio, embora maior que a dos rivais, que é de 290 km/h nos dois casos.
O esportivo tem o tradicional controle rotativo de modos de condução, batizado de “DNA” (Dynamic, Nature e Advanced Efficiency), que neste carro recebe adicionalmente a opção Race. Trocando números por sensações, o modo Race só é recomendável a pilotos experientes, já que ele desativa o controle de estabilidade por completo.
Nesse caso, em curvas mais fechadas e altas velocidades, a traseira tende a balançar tal qual cauda de cachorro quando vê o dono. O mais sensato é manter o modo Dynamic, que conserva a assistência eletrônica em estado “vigilante” para momentos mais delicados, e conta ainda com a ação do sistema de vetorização de torque e com o autoblocante traseiro (mecânico). Ele até autoriza drifts controlados em curva, mas com muito maior grau de certeza de que as coisas terminem bem.
De acordo com a Alfa, a transmissão foi recalibrada e as mudanças levam 150 milissegundos no modo Race. Além disso, nessa condição, o diferencial traseiro e a suspensão ficam preparados para a guerra.
Com a chegada do Giulia Quadrifoglio, em 2016, a Alfa Romeo conseguiu colocar a competência dinâmica – com o motor preparado e o chassi bem acertado – ao mesmo nível da beleza das suas linhas. Mas, claro, ao custar praticamente o dobro de um Giulia Quadrifoglio (111.000 euros, ou R$ 669.840), a compra não se justifica nem pela exclusividade de uma série limitada nem por alguns segundos ganhos em tempos por volta.
E tampouco pela inclusão do Experience Package, kit que inclui capacete Bell especialmente decorado, além de capa para o veículo e macacão de competição. Assim, estamos diante de um modelo destinado a excêntricos multimilionários colecionadores de automóveis.
VEREDICTO:
Trata-se de um carro stupendo, como diriam os italianos. Mas com preço pouco convidativo.
Ficha Técnica – Alfa Romeo Giulia GTam
- Preço: 199.500 euros
- Motor: gas., diant., V6, 24V, injeção direta, biturbo, intercooler, 2.891 cm3; 540 cv a 6.500 rpm, 61,2 kgfm a 2.500 rpm
- Câmbio: automático, 8 m., tração traseira
- Direção: elétrica, diâm. de giro, 11,3 m
- Suspensão: duplo A (diant.), multi-braços (tras.)
- Freios: disco cerâmico ventilado nas quatro rodas
- Pneus: 265/35 R20 (diant.), 285/30 R20 (tras.)
- Dimensões: comprimento, 466,9 cm; largura, 192,3 cm; altura, 139,7 cm; entre-eixos, 282 cm; peso, 1.580 kg; porta-malas, 480 l; tanque, 58 l
- Desempenho: 0 a 100 km/h, 3,7 s; veloc. máx., de 300 km/h