Os SUVs compactos foram declarados culpados pelo fim dos hatches médios, dos aventureiros e pelo encolhimento do segmento dos sedãs médios. Mas, 20 anos atrás, o que o brasileiro buscava para levar a família e toda sua bagagem sem grandes problemas eram as minivans e as peruas. O Citroën C3 Aircross é, de certa forma, uma perua moderna.
Explico: enquanto a maioria dos SUVs compactos disputa clientes usando seus faróis full-led, assistentes autônomos, um novo pedaço de vinil no painel e equipamentos que seriam esperados de carros de segmentos superiores, o C3 Aircross nasceu focado naquilo que realmente é essencial: tem muito espaço para os passageiros, acesso facilitado à cabine e porta-malas enorme (são 493 litros). E não teme valetas ou lombadas. É como as VW Parati Track & Field, Fiat Palio Weekend e Chevrolet Spin Activ, mas melhor em alguns aspectos.
Um deles, em especial, é o motor. O C3 Aircross é o primeiro Citroën com o motor 1.0 GSE Turbo, que surgiu primeiro no Fiat Pulse e que também é usado pelo Fastback, pela Strada e pelo Peugeot 208. Talvez seja essa sua melhor aplicação até agora.
O Aircross (até a Citroën costuma dispensar o “C3” no nome) nem sequer tem opção de câmbio manual. É sinal dos tempos, mesmo. Seu câmbio é sempre um automático CVT com simulação de sete marchas com calibração irretocável para o carro. Reage rápido, faz o SUV parecer leve nas acelerações e, especialmente nesse carro, conseguiram eliminar um tranco que outros modelos têm nas retomadas de velocidade.
A simplicidade do projeto custou a existência de borboletas para trocas sequenciais (que só os Fiat têm), mas há trocas na alavanca e o carro simula mudanças de marchas a todo momento, deixando as sensações melhores. Ativando o modo Sport, em um botão à frente do joelho esquerdo do motorista, as passagens são feitas em rotações mais altas e o motor reage mais rápido ao acelerador. Mas o peso da direção elétrica e o grafismo do quadro de instrumentos digital não mudam.
Como é praxe, foi com o modo Sport que fizemos os testes de aceleração. O 0 a 100 km/h foi cumprido em 10,9 segundos, 1 s mais lento que um Pulse com o mesmo motor. Mas o consumo até foi melhor: 12,6 km/l em ciclo urbano e 15,5 km/l em ciclo rodoviário, enquanto o SUV compacto da Fiat fez 10,4 km/l e 14,2 km/l, respectivamente, também com gasolina.
A suspensão contribui com a sensação de leveza. É macia no início do curso, o que ajuda muito a filtrar as ondulações e emendas do asfalto. Mas faz isso sem deixar o carro bobo, permitindo que contorne curvas ou em trechos sinuosos com boa estabilidade, mesmo com a carroceria alta e suspensa a 20 cm do solo. Está longe de ser esportivo, mas tem o rodar agradável esperado de um carro de uso cotidiano. Ou das antigas peruas.
Uma questão é que este é um C3 Aircross Shine, da versão topo de linha e que custa R$ 129.990. Por isso tem rodas aro 17 diamantadas, detalhes cromados e em piano black, teto com cor contrastante (também pode ser preto, a depender da cor da carroceria) e faróis de neblina, por fora. Mas, por dentro, o que ganha são os bancos e volante forrados de vinil, câmera de ré, piloto automático com limitador de velocidade… E só.
O quadro de instrumentos digital de 7 polegadas (com conta-giros!) é compartilhado com a versão abaixo, Feel Pack (R$ 119.990), e a central multimídia de 10” equipa também a versão de entrada, Feel (R$ 109.990). Faltam mimos na cabine para que o Aircross Shine pareça completo e dê alguma satisfação a quem pagou mais R$ 10.000 por essa versão.
Começaria por uma parte macia para apoiar os braços nas portas, ajuste de profundidade da direção e carregador sem fio para smartphone (que é acessório), mas talvez sensores de chuva e luminosidade e ar-condicionado automático pudessem garantir algum efeito surpresa, mesmo tendo que espetar a chave em formato de faca (ficou devendo a do tipo canivete) atrás do volante.
São itens encontrados no Fiat Pulse Impetus, que custa R$ 131.990. Este também se limita aos quatro airbags, mas tem itens de segurança avançados como frenagem de emergência ou assistente de faixa, que nenhum Aircross tem.
O efeito “uau!” vem, mesmo, na hora que se abre a porta traseira. Os 2,67 m de entre-eixos fazem sobrar espaço para as pernas no banco traseiro. Como as versões de cinco lugares têm o assento mais recuado, dá para um adulto cruzar as pernas com tranquilidade. Isso nenhuma perua compacta dos bons tempos tinha. E se rebater os bancos, esse Citroën também levará mais carga que elas nos 1.068 litros que poderão ser ocupados.
O C3 Aircross é simplório, talvez até mais que o Renault Duster atual. É o tipo de carro para quem segue a lógica do “o que o carro não tem não peça e não dá defeito”. Definitivamente, não dá para dizer que este é como os Citroën dos velhos tempos.
Veredicto Quatro Rodas
Ser espaçoso e barato são argumentos fortes do C3 Aircross, mas talvez seja simples demais para seu segmento.
Ficha Técnica – Citroën C3 Aircross Shine
Motor: flex, diant., transv., 3 cil. em linha, turbo, 999 cm3; 12V, 130 cv a 5.750 rpm, 20,4 kgfm a 1.750 rpm
Câmbio: CVT, 7 marchas simuladas, tração dianteira
Direção: elétrica, 10,8 m (diâmetro de giro)
Suspensão: McPherson (diant.), eixo de torção (tras.)
Freios: disco ventilado (diant.), tambor (tras.)
Pneus: 215/60 R17
Dimensões: comprimento, 432 cm; largura, 179,6 cm; altura, 167,3 cm; entre-eixos, 267,5 cm; peso, 1.216 kg; porta-malas, 493 litros; tanque, 47 litros
Teste Quatro Rodas – Citroën C3 Aircross Shine
Aceleração | |
0 a 100 km/h | 10,9 s |
0 a 1.000 m | 32,8 s – 156,4 km/h |
Velocidade máxima | n/d |
Retomadas | |
D 40 a 80 km/h | 4,9 s |
D 60 a 100 km/h | 6,3 s |
D 80 a 120 km/h | 8,5 s |
Frenagens | |
60/80/120 km/h a 0 | 14,7/26,7/59,9 m |
Consumo | |
Urbano | 12,6 km/l |
Rodoviário | 15,5 km/l |
Ruído interno | |
Neutro/RPM máx. | 40,4/60,4 dBA |
80/120 km/h | 59,7/72,1 dBA |
Aferição | |
Velocidade real a 100 km/h | 95 km/h |
Rotação do motor a 100 km/H | 2.000 rpm |
Volante | 2,7 voltas |
SEU Bolso | |
Preço básico | R$129.990 |
Garantia | 3 anos |