Não há como negar que o projeto do Corcel II, lançado em 1977, foi dos mais bem aproveitados da história da Ford no Brasil. Mais que variações de carroceria, ele ganhou a missão de cobrir variados segmentos do mercado nos anos 80.
Além do sedã médio de duas portas e sua perua Belina, ele deu origem ao luxuoso Del Rey e à perua Scala, uma Belina mais sofisticada, e à picape Pampa. Lançada em 1982, ela foi a primeira derivada de um veículo de passeio na linha Ford e a segunda picape compacta da nossa indústria, repercutindo a boa aceitação da Fiat 147 Pick-up/City.
Até então, picape Ford era grande e, na maior parte, equipada com motor V8, caso das F-100. De quatro cilindros até já havia a F-1000 a diesel, mas nenhuma delas era prática para trânsito urbano ou vagas apertadas.
Para fazer o Corcel II peitar 600 kg de carga (motorista incluso), a Ford precisou alongar o vão entre os eixos de 2,44 para 2,58 metros para distribuir melhor o peso, aumentar a distância do solo em 3 centímetros (para 16,5) e usar pneus maiores.
As molas helicoidais da suspensão traseira do sedã foram trocadas por feixes de molas semi-elípticas, mais aptas a suportar a carga extra. A tração ainda era dianteira e o motor, o mesmo quatro-cilindros de 1,6 litro, mas o câmbio de cinco velocidades tinha escalonamento próprio.
A estréia da Pampa na QUATRO RODAS se deu em abril de 1982. “O desempenho da Pampa é semelhante ao do Corcel: velocidade máxima de 148 km/h e aceleração de 0 a 100 km/h em 17,5 segundos são as marcas mais significativas”, dizia o texto de Cláudio Carsughi. Segundo ele, a válvula equalizadora da Pampa evitava que os freios travassem as rodas traseiras com a caçamba vazia, comum em picapes.
Foi na edição de fevereiro de 1984 que a revista apresentou o ponto alto da história da Pampa, sua versão 4×4. No lugar da quinta marcha, o câmbio tinha a caixa de transferência para a tração nas rodas de trás. O eixo traseiro deu lugar a outro rígido, com diferencial nas extremidades dos semi-eixos e roda automaticamente livre com a tração traseira desligada.
A capacidade de carga era reduzida para 440 kg, graças ao peso extra. A grade era dividida em retângulos e os pneus eram lameiros. O modelo marcou 136 km/h e 21,68 segundos para ir de 0 a 100 km/h no 4×4. Apesar da boa primeira impressão, o sistema seria criticado mais tarde pela pouca durabilidade.
Com a Chevrolet Chevy 500, VW Saveiro e Fiat 147 City, no comparativo de agosto de 1984, a Pampa 4×2 foi a que acelerou menos e teve a direção mais pesada, a pior estabilidade e, então com 67 cv, levava só 500 kg. Ainda assim, as vendas só subiam.
Em outubro de 1986, a GL, com opcionais como direção hidráulica e ajustes dos bancos, teve o melhor nível de ruído, apesar da falta de espaço para quem tinha mais de 1,80 metro e o consumo maior do que nas rivais.
Então, em 1987 era lançada a versão Ghia, que trouxe um pouco da sofisticação do Del Rey. A frente usava os faróis trapezoidais que chegaram a Corcel e Del Rey em 1985. Líder do segmento, a Pampa vinha com o painel do modelo de luxo da Ford, mas a direção hidráulica não era sequer um opcional.
Como fruto da Autolatina, parceria entre a Ford e a VW de 1986 a 1994, para 1990 o motor já podia ser o mesmo AP-1800 da Saveiro, que na Pampa rendia 92 cv.
O exemplar fotografado pertence ao médico e apaixonado por Corcel Sérgio Minervini. É uma S 4×2 1993 a álcool. Com acabamento mais esportivo e sofisticado, a versão nasceu em 1991. O dono sabe de cor os itens que diferenciam sua S das demais Pampa.
“Ela tem spoiler dianteiro, dois retrovisores, rádio digital, rodas pintadas de branco pérola, janela traseira, grade da cor do carro, pára-brisa degradê, vidros verdes, faróis de milha, adesivos exclusivos, encostos de cabeça e painel do Del Rey Ghia.”
Última herdeira em linha do projeto do Corcel II, a Pampa durou até 1997 – único ano em que foi equipada com injeção eletrônica – para dar lugar à Courier.
Porém, produzida até 1994, apesar das críticas, foi a opção de tração 4×4 que fez da Pampa um caso até hoje sem igual no segmento de picapes derivadas de carros de passeio. Numa época como a atual, em que até hatches compactos ganham visual off-road, sua coerência deveria servir de inspiração.
Ficha técnica
- Motor: dianteiro, longitudinal, 1 781 cm3, carburador de corpo duplo, a gasolina
- Diâmetro e curso: 81 x 86,4 mm
- Taxa de compressão: 8,5:1
- Potência: 80 cv a 5 400 rpm
- Torque: 14 mkgf a 3 400 rpm
- Câmbio: manual de 5 marchas
- Dimensões: comprimento, 438 cm; largura, 167 cm; altura, 135 cm; entreeixos, 258 cm
- Peso: 920 kg
- Suspensão: Dianteira: independente, braços superiores transversais e inferiores triangulares. Traseira: eixo rígido, feixes de molas longitudinais
Teste QUATRO RODAS – JUNHO DE 1992
- Aceleração 0 a 100 km/h – 14,72 s
- Velocidade máxima – 150,8 km/h
- Frenagem 80 km/h a 0: 34,6 metros
- Consumo – 9,33 km/l (urbano), 12,61 km/l (estrada, vazio)
Preço
Maio de 1992 – CR$ 33.877.278
Atualizado – R$ 136.780 – IGP-M (FGV)