Com 512 cv, Chevrolet Corvette Z06 tinha V8 7.0 projetado para corridas
Fazendo de 0 a 100km/h em 5,1 segundos, o Z06 foi um rival de peso para Ford GT e Viper
Publicado originalmente em julho de 2006
Com os 505 cavalos sob o capô do Z06 fica mais fácil carregar o peso da tradição do nome Corvette. A versão feroz capitalizou a experiência da GM adquirida com o Corvette C5-R nas competições. Custa $65.690 dólares por lá — 21500 a mais que o Corvette “normal”, de 400 cavalos — e ruge de igual para igual com rivais do naipe de Ford GT e Dodge Viper, com 550 e 500 cavalos, respectivamente.
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O Chevrolet é um ímã de olhares por onde passa. Ainda que seja assim, a GM bem que poderia ter dado ares mais exclusivos ao Z06. Em relação ao Corvette C6 convencional, ele tem os para-lamas traseiros mais largos, totalizando 8,4 centímetros a mais de largura.
O esportivo também se diferencia pela entrada de ar sobre o capô, bem acima do logo, que leva ar fresco ao motor. Outra tomada de ar, maior, fica no para-choque e ventila os radiadores – de água e óleo – e os freios dianteiros. Os traseiros ganham uma brisa vinda das laterais. Completando as modificações visuais, rodas de aro 18 na dianteira e 19 na traseira e as ponteiras duplas de escape. São alterações funcionais, discretas até.
É no desempenho que as diferenças se evidenciam. Em relação ao original, o Corvette Z06 é 22 quilos mais leve, e pesa 1.420 kg. Parte da boa forma vem dos materiais empregados no chassi. O berço do motor é feito de magnésio e o sub-chassi dianteiro — onde vão fixados os braços da suspensão — é de alumínio.
Mais que emagrecer o esportivo, tais soluções têm como objetivo melhorar a distribuição de peso — até a bateria foi para o porta-malas –, que, segundo a GM, é de 50% na dianteira e 50% na traseira.
O interior do esportivo é generoso se comparado ao de um Viper. São 17 centímetros a mais de entre eixos e o piloto ainda tem a seu dispor volante com regulagem de altura e profundidade, bancos estilo concha e alavanca de câmbio bem posicionada.
Além disso, há o ar-condicionado digital, computador de bordo e revestimento de couro nas portas e no painel. E, ali, uma curiosidade. Por ser feito para o mercado americano, o velocímetro marca até 200 milhas por hora. Mas é possível alterar a unidade de milhas para quilômetros. Nessa configuração, o velocímetro só vai até 200 km/h. Ainda bem que há o mostrador digital refletido no vidro dianteiro, que indica com precisão a velocidade, o giro do motor, a temperatura e a aceleração lateral.
No console central, atrás da alavanca de marchas, fica um botão, que aciona o controle de tração, com três modos de atuação. No mais seguro, o sistema trabalha com o Active Handling (controle de estabilidade) e o controle de tração.
No Competitive Mode, o Z06 desabilita apenas o Active Handling. E no terceiro, em que tudo fica desligado, é a precisão do pé do piloto que fará o Corvette se sair bem “ou não” em uma curva.
Máquina de fazer fumaça
A assistência se justifica pelo V8 de 7 litros (LS7), desenvolvido nas pistas de competição. Na hora de acelerar, é bom contar com toda a ajuda, já que, quando as rodas ameaçam patinar, o equipamento intervém de forma sutil e permite uma saída eficiente. Assim, o esportivo chegou aos 100 km/h em 5,1 segundos.
Nos Estados Unidos, o Z06 tem 505 horse-power. No Brasil, 512 cavalos. O motivo é a diferença entre as normas para medição de potência. Aqui vigora a ABNT, enquanto lá é a SAE. Um “cavalo americano” equivale a 1,014 cavalo nacional.
Sem os controles, é quase impossível arrancar. Ao soltar a embreagem e acelerar, uma nuvem de fumaça branca surge no retrovisor e só depois de engatar a segunda o Z06 sai do lugar. E leva 5,8 segundos para chegar aos 100 km/h. Nos dois modos de operação, ele ultrapassa 230 km/h ao atingir os 1000 metros de reta. Enquanto o motor ruge e o ponteiro do velocímetro arremete, o volante permanece sem vibrações.
Se você está impressionado com os números e acha que o Corvette é difícil de guiar nas ruas, está enganado. A embreagem não é tão pesada quanto a de um Viper e apenas um pouco mais dura que a de uma Ranger Turbodiesel.
É fato que, em primeira marcha e em baixa velocidade, os solavancos são insuportáveis — o ideal é utilizar a segunda. As trocas de marcha não oferecem complicações, mesmo quando o motorista tem pressa. Os engates são curtos e justos, como manda o figurino esportivo, ainda que a boa elasticidade do motor faça você esquecer o câmbio. Em terceira, o Corvette vai de 40 a 140 km/h em 9,5 segundos.
Mas que dureza…
Os pneus de perfil baixo (35 na dianteira e 30 na traseira) não fazem a menor cerimônia em reportar aos ocupantes as irregularidades encontradas pela frente. A suspensão tem a geometria do modelo “normal”, mas os braços de controle inferior e superior são de alumínio, e as molas transversais e amortecedores são esportivos — que, ao contrário da versão mais mansa, não contam com o sistema magnético, que regula sua dureza.
Originalmente, Z06 era um pacote de acessórios, lançado em 1963, que transformava o Corvette num carro de corrida para as ruas. Em 2001, a GM ressuscitou a nomenclatura para a versão mais esportiva.
O carro é fácil de ser pilotado. A direção apresenta boa dose de progressividade e, graças à largura dos pneus, o carro parece andar sobre trilhos em velocidades normais (leia-se até 120 km/h). O sistema de freio é o que se espera de um esportivo — discos de 355 milímetros na dianteira com pinças de seis pistões.
A novidade são as múltiplas pastilhas. Em vez de uma em cada lado da pinça, o Corvette tem três. A traseira segue o mesmo padrão: discos de 340 milímetros e pinças de quatro pistões e quatro pastilhas. A novidade melhora a ação dos pistões e reduz a vibração numa frenagem. Ainda que o carro testado por nós já tivesse dado mais de 100 voltas em Interlagos, ele obteve números surpreendentes nos testes.
Saindo dos 120 km/h, levou 50,4 metros para atingir a imobilidade. Um Porsche Boxster, medido na edição de setembro, parou 3 metros adiante. Para frear vindo a 200 km/h o Z06 percorreu 136 metros. Parece muito. Mas fez todo o percurso em 5,3 segundos, sem desviar a trajetória ou pedir correções ao volante. Impressionou também a atuação silenciosa dos freios. Como se pode ver, ele é rápido até para parar.
A verdade é que sobra carro. Dificilmente será possível desfrutar de toda a sua esportividade. Mas é bom saber que o Z06 se trata de um carro para iniciados. Em alta velocidade, ele pede perícia, com tendência a sair de traseira, mesmo com os controles ligados. Sem o amparo da eletrônica, as rodas patinam e o Z06 pede contra-esterço no volante, controle preciso do acelerador e boa dose de fé em seu santo protetor.
Extração de força
O motor LS7 V8 é montado a mão, no Performance Build Center, em Wixom, no Michigan, Estados Unidos. Ele compartilha o bloco de alumínio com o Corvette normal, mas tem 3,2 milímetros a mais no diâmetro dos cilindros.
Para chegar aos 7 litros (ante os 6 originais), a GM alongou em 9,6 milímetros as bielas e, consequentemente, o curso dos pistões. O ganho de 105 cavalos (totalizando 505) não veio só do aumento no deslocamento volumétrico. A GM utilizou materiais nobres na construção do V8 para garantir desempenho e durabilidade.
O virabrequim é de aço forjado e as novas bielas são feitas de titânio (pesam 30% menos que as convencionais). Os pistões têm cabeça plana e são de alumínio. O ganho na redução de peso no conjunto pistão-biela diminui a inércia e permite ao motor trabalhar em rotações mais elevadas.
A taxa de compressão subiu de 10,9:1 para 11:1 e os cabeçotes receberam atenção especial. Feitos de alumínio, são resultado de horas e horas de testes em bancada. Em relação aos cabeçotes “originais”, os do LS7 têm fluxo 18% mais eficaz. As válvulas também são de titânio e as molas de retorno foram especialmente calibradas para o LS7.
O comando de válvulas, que fica no bloco, é diferenciado para aumentar tempo de abertura e levante de válvula (que é de 15 milímetros) e trazer ainda mais fôlego. Com o maior desempenho veio a necessidade de um cárter seco de 7,6 litros. É um reservatório extra de óleo, fora do motor, que trabalha em conjunto com um radiador para resfriar o lubrificante.
Chevrolet Corvette Z06
Bolso
Preço do carro | U$ 65.690 |
Garantia | 2 anos sem limite de km |
Número de concessionárias | 535 |
Consumo cidade (km/l) | 6,4 |
Consumo estrada (km/l) | 10,8 |
Tanque de combustível/autonomia (l)/(km) | 68,1 / 738,4 |
Conforto
Ar-condicionado | s |
Direção hidráulica | s |
Rodas de liga leve | s |
pintura metálica | s |
CD player/comandos no volante | s/- |
Vidros/travas elétricos | s/s |
Espelhos/teto solar | s/s |
Computador de bordo/bancos de couro | s/s |
Banco traseiro rebatível | 2/3; 1/3; – |
Câmbio automático/cruise-control | -/s |
Segurança
ABS/BAS/EBD | s/s/s |
Controle de tração/estabilidade | s/s |
Airbags (frontais/laterais/cabeça) | s/-/- |
Encosto de cabeça | – |
Cinto de 3 pontos para 5º passageiro | – |
Alarme | s |
imobilizador | s |
brake-light | s |
Desempenho
0-100 km/h (s) | 5,1 |
0-1000 m (s) | 22,8 |
3ª 40 a 80 km/h (s) | 3,7 |
4ª 60 a 100 km/h (s) | 4,4 |
5ª 80 a 120 km/h (s) | 6,7 |
Velocidade máxima (km/h) | 305 |
Frenagem 120/80/60 km/h a 0 (m) | 50,4 / 22,8 / 13,2 |
Ruído interno PM/RPM máx (dB) | 55,0 / 86,4 |
Ruído interno 80/120 km/h (dB) | 68,8 / 73,8 |
Velocidade real a 100 km/h (km/h) | 100 |
Ficha técnica – Chevrolet Corvette Z06
Motor/posição | dianteiro / longitudinal |
Construção/cilindrada (cm3) | 7 cilindros em V / 7011 |
Diâmetro/curso (mm) | 104,8 / 101,6 |
Taxa de compressão | 11,1:1 |
Potência (cv a rpm) | 505 a 6300 |
Torque (mkgf a rpm) | 65 a 4800 |
Câmbio (tipo/marchas/tração) | manual / 6 / traseira |
Direção (tipo/nº voltas) | hidráulica / 3 voltas |
Suspensão dianteira | braços de controle e molas transversais |
Suspensão traseira | braços de controle e molas transversais |
Freio (tipo/dianteiro/traseiro) | hidráulico / disco ventilado / disco ventilado |
Pneus (dianteiro/traseiro) | 275/35 ZR18 / 325/30 ZR19 |
Dimensões
Comprimento/entre eixos (cm) | 446 / 269 |
Altura/largura (cm) | 193 / 124 |
Porta-malas (litros) | 635 |
Peso (kg) | 1420 |
Peso/potência (kg/cv) | 2,8 |
Peso/torque (kg/mkgf) | 21,8 |
Diâmetro de giro (m) | 9,6 |
Veredicto
É um superesportivo em reais condições de luta contra Ford GT e Viper. A briga não é das mais fáceis, mas o Corvette tem a seu favor a ajuda da eletrônica ” que pode ser desabilitada ” e o comportamento mais manso na cidade. E também não decepciona quando o piloto pede uma tocada bem mais esportiva.
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