Sitcom é o gênero mais popular de comédia televisiva norte-americana, contração de situation comedy. Um grupo de personagens interage em um cenário fixo, ao som de risadas pré-gravadas, liberadas a cada gracejo como um sinal de que você também deve achar graça…
Citycom, nome que alude a esse show de origem no rádio (daí as risadas), é um maxi-scooter da fabricante chinesa de Taiwan Sanyang (Sym) que a Dafra acaba de apresentar. Só não tem nada de comédia: pelo contrário, parece despontar como um sério competidor no mercado brasileiro. Em comum com as sitcoms, apenas o público: urbano, descolado e jovem, como o que Friends queria atingir, por exemplo.
A empresa do grupo Itavema de distribuição automotiva passa a montar em suas modernas instalações manauaras mais uma marca, ao lado da indiana TVS, da BMW G 650 GS (em operação gerida pela marca alemã) e das motos chinesas da fornecedora Haojue (que não adotam marca própria, sendo vendidas sob a marca Dafra).
As principais credenciais desse scooter são o preço, de convidativos 12290 reais, o bom porte de design atual, as rodas de 16 polegadas (adequadas à buraqueira reinante) e o baixo nível de ruído e vibrações. O motor é surpreendente, assim como o desempenho. Tecnicamente, há outros atributos: ótimos pneus Metzeler, freios impecáveis e eficientes, injeção eletrônica Keihin (do grupo Honda) e um assento aconchegante para condutor e garupa. A Dafra apregoa seu produto como sendo o mesmo que disputa mercados competitivos, como o europeu, com o objetivo de valorizar sua qualidade intrínseca.
Do lado das suas – raras – mazelas, estão alguns materiais transparentes, como a desbotada lente canelada da lanterna traseira e o alto para-brisa dianteiro, que distorce ligeiramente as imagens, nos cantos e nas curvas. Parece também um pouco ameaçador de tão perto que fica do rosto, especialmente quando se usa capacete custom.
Quanto ao acabamento, foco de atenção quando se trata de produtos chineses, ele é surpreendente: talvez Taiwan, a nada comunista ilha de Formosa, reduto dos que eram contrários à revolução maoísta de 1949, esteja um ponto acima dos produtos continentais nos cuidados com os processos industriais.
Por pertencer a uma economia sempre exposta ao livre mercado e à competição empresarial, ou porque a Sanyang trabalhou para a Honda até 2002 (ano em que transferiu sua parceria automotiva para a sul-coreana Hyundai, passando a produzir motociclos por conta própria), ou ainda por uma conjunção desses fatores, a Sym tem um padrão de acabamento que tende mais para o habitual japonês que para o popular chinês. Você sabe do que estou falando. Até detalhes como o arremate dos plásticos e a precisão do painel de instrumentos (bastante completo) transmitem uma boa impressão.
Não bastasse isso, o preço é sensacional para o que o Citycom oferece. O Suzuki Burgman 400 (que é bem mais moto…) custa quase 27000 reais – acima do dobro! Apesar da motorização, do desempenho e da imponência superiores do scooter da marca japonesa, a diferença de preço, nesse caso, é maior que a diferença entre os produtos. O Burgman 125 custa 6500 reais, mas é bem menorzinho, como o Honda Lead 110, que custa cerca de 6100 reais – ambos estão em faixa claramente abaixo. O scooter da Sym ocupa mesmo uma faixa intermediária, desocupada, entre os bem pequenos e o Burgman 400. Pela projeção do maxi-scooter taiwanês, ele vale cada centavo. O Citycom 300i é grandão, imponente, vai à estrada.
PRATICIDADE URBANA O Citycom 300i é extremamente prático no uso urbano, com força suficiente para escapar das agressivas investidas de motoristas furiosos – nesse sentido, é bem mais seguro que as motonetas 110 e 125 que lideram o segmento. Também permite viagens de curso médio, com as vantagens do confortável banco e do para-brisa alto, na medida certa, que protege contra vento e garoa. Proteção aliás ratificada pelo escudo frontal: é bem melhor andar com o Citycom na chuva que de moto. Os sapatos (e os joelhos) ficam mais secos e limpos. O laptop viaja abrigado sob o banco (ali cabe um capacete aberto e até um fechado, se não for dos maiores). O Citycom tem um pequeno porta-luvas no escudo.
Um adulto com altura acima de 1,80 metro, ou com peso acima de 90 kg (situação, convenhamos, mais comum), fica meio engraçado sobre um scooter de 125 cc, mas forma um conjunto harmônico com o porte avantajado desse 300i. Também garupa é quase inviável nos scooters de entrada – no Citycom, ao contrário, ela é privilegiada.
Seu público-alvo deve ser encontrado entre os usuários de pequenos scooters dispostos a dar-lhes um upgrade, ampliando suas possibilidades e raio de alcance. O executivo Creso Franco, presidente da Dafra, vê também um filão composto pelos usuários estreantes no mundo das duas rodas, fartos de congestionamentos e de horas perdidas em deslocamentos urbanos – e em busca de maior economia.
REFRIGERAÇÃO ÚNICA O scooter Citycom 300i obedece à cartilha das motonetas modernas: freios nos manetes e transmissão CVT (continuamente variável, por correia em polias de diâmetro mutante), sem trocas de marchas. O motor, de refrigeração líquida, com alimentação e ignição digitais, oferece 23 cv a 7500 rpm de potência máxima e, muito mais importante para as suas características de uso e transmissão, torque máximo de 2,4 mkgf a 5500 rpm. Para efeito de comparação, a Honda CB 300R tem 26,5 cv às mesmas 7500 rpm e a Yamaha Fazer 250 tem 21 cv a 8000 rpm.
O nível de vibração é compatível com a proposta do veículo e o desempenho, aferido em pista, também. Claro que perde dos 34 cv a 7300 rpm do motor do Suzuki Burgman 400 (não perca o preço de vista: é menos da metade), mas as marcas de aceleração e retomada são satisfatórias para uso urbano.
Não se pode, entretanto, criticar um scooter de pouco mais de 250 cc que atinja os 100 km/h em 17,1 segundos e que alcance 118,4 km/h (o Burgman 400 faz de 0 a 100 km/h em 12,4 segundos e atingiu 148 km/h no teste).
Com o Citycom você pode pegar uma estrada mantendo as velocidades permitidas por lei, sem constrangimento. Para pequenas viagens, vai numa boa, gastando pouco. O consumo médio é de 24 km/l, excelente para a cilindrada e o peso de 182 kg em ordem de marcha (a seco, são 169 kg).
O quadro em treliça de tubos de aço tem o ângulo de cáster bem fechadinho (27,5 graus), normal nas motonetas (a ideia da enceradeira), o que favorece a condução urbana, em espaços exíguos, entre os carros, com diâmetro de volta bem curto.
A suspensão dianteira, de telescópio curto, com curso de 10 cm, absorve bem as freadas determinadas que o esplêndido grupo de freios possibilita, sem atingir o fim de curso – em buracos mais abruptos e perigosos, ele às vezes chega. A traseira, bichoque, com os amortecedores e molas posicionados por trás do eixo em uma balança triangular retilínea de alumínio, tem menor curso e é mais rígida, proporcionando boa estabilidade. Apenas com o piloto, é muito difícil que se atinja o limite das molas e a estabilidade, auxiliada pelos ótimos pneus Metzeler, é superior à proposta.
O elogiável sistema de freios tem uma peculiaridade: indica o uso de fluido Dot 5.1 sintético, pouco solicitado no mundo das duas rodas, geralmente destinado a motos de competição. Não há dúvida de que o fluido com essa especificação é melhor, evitando formação de bolhas e a cavitação no sistema, mas também é bem mais caro.
40 000 KM DEPOIS…
Experimentamos um dos modelos pré-série do Citycom 300i que foi massacrado em testes pela fábrica. Os freios eram novos, mas o conjunto parecia firme, sem chacoalhar e sem ruídos estranhos ao fim de 40000 km.
TOCADA Macia, confortável: boa na cidade, de acordo com o espírito das motonetas CVT. Se você gosta de agressividade e pauleira, não é sua praia, claro.
★★★★
DIA A DIA Poucas opções são melhores nessa situação. Pelo preço, é boa escolha para quem quer fugir das motinhos utilitárias e é grande para os miniscooters de 110 e 125 cc.
★★★★★
ESTILO Moderno e anguloso, sem forçar a mão. Elegante, tem imagem de status e bom porte. As rodas parecem de grife, sem ser.
★★★★
MOTOR E TRANSMISSÃO O motor a água é macio e econômico, com gerenciamento eletrônico. A transmissão CVT é suave e firme.
★★★
SEGURANÇA Um dos pontos altos do Citycom é o sistema de freios, a disco, com bom diâmetro e pegada justa, sem nenhuma tendência ao travamento ou à fadiga, mesmo na pista.
★★★★
MERCADO A Dafra, empresa de origem varejista, tem se posicionado bem na praça, mas o produto é novo, uma incógnita de mercado. Tem condições de agradar, mas depende também do pós-venda.
★★