* Reportagem originalmente publicada em novembro de 2014
Maio de 2013. A concessionária Alpes faz uma entrega desastrosa do 208. O técnico disse que o primeiro abastecimento deveria completar o tanque e ser feito apenas com gasolina.
Em seguida, reforçou que era obrigatória a realização da primeira revisão exclusivamente na Alpes. Mais tarde, contatamos o 0800 da Peugeot – que, claro, desmentiu tais informações.
Esse primeiro contato nos levou a imaginar que nada havia mudado desde a passagem de outros dois Peugeot (307 em 2006 e 3008 em 2012) pelo Longa Duração.
Ou seja, a rede continuava permissiva e descompromissada. Felizmente, os 60 000 km de convívio mostraram que, apesar da derrapada inicial e de alguns deslizes pelo meio do caminho, houve uma melhora.
Bem calçados
Logo de cara, percebemos que a Peugeot indica calibragens de pneus para três aplicações distintas: carro vazio (29 libras), carregado (33/36 libras) e redução de consumo (36 libras).
Levamos o 208 para a pista e percorremos os nossos percursos urbano e rodoviário. Rodando tanto com 29 libras quanto com 36 libras, registramos média de 7,5 km/l na cidade.
Na estrada, com 29 libras, média de 10,6 km/l e, com 36 libras, 11 km/l. Decidimos, então, adotar como padrão a calibragem para carro vazio.
A medida indicada para redução de consumo não apresentou resultados significativos e ainda gerou uma perda acentuada do nível de conforto e dirigibilidade.
Na época, registramos que o carro ficou duro e muito oscilante em alta velocidade. O ganho, definitivamente, não compensava a perda.
A decisão não teve qualquer impacto negativo nos pneus. Com rodízio, alinhamento e balanceamento efetuados em cada revisão, o 208 chegou ao fim do teste com o conjunto original.
Este, aliás, foi alvo da pior revisão do 208, aos 50 000 km, feita pela paulistana Paris-Morumbi, em São Paulo.
Lá, além de dispensar um atendimento nada cordial, o consultor condenou os pneus e tentou empurrar um jogo (por R$ 2.016), alegando o fim de sua vida útil.
Saímos de lá e, num revendedor autorizado Pirelli (fabricante dos pneus do 208), ouvimos do técnico exatamente o contrário: “Chegam até 60 000 km, pelo menos. E os quatro saem por R$ 1.450”.
Com o restante do carro, o convívio foi tranquilo. A buzina apresentou problemas em duas ocasiões, mas foi trocada em garantia em ambas.
Incômodo mesmo tivemos com a cobertura do teto. Bipartida, ela é mais fina do que o espaço reservado no trilho duplo.
Assim, a trepidação de pisos irregulares faz com que ela vibre, transformando-se numa fonte de ruído perto dos ouvidos.
Na primeira revisão, a autorizada Paris condenou o tampão do teto e devolveu o carro alegando ter feito a troca da peça. Mas de novidade só encontramos os amassados nos trilhos originais e a sujeira no forro do teto.
Viagem de despedida
Próximo do fim do teste, como de praxe, nosso consultor técnico, Fabio Fukuda, percorreu com o 208 as ruas próximas à Fukuda Motorcenter, a oficina onde são feitos os desmontes.
“Assim, consigo dar atenção aos pontos anotados no diário de bordo pelos usuários ao longo dos 60 000 km. Além disso, tiro minhas impressões e coloco o motor em temperatura de trabalho, condição necessária para o início do processo de desmonte”, diz.
Na oficina, o 208 começou a ser examinado. A pressão de óleo estava dentro do limite mínimo nas três condições aferidas: em rotação de marcha lenta, a 2 000 e a 4 000 rpm.
“Nessa fase inicial, aproveito para fazer uma inspeção visual do motor. No 208, nada de plásticos trincados, borrachas secas ou vazamento de fluidos”, diz Fukuda.
Ao verificar a pressão de compressão dos cilindros, tivemos problemas técnicos que nos impediram de realizar a medição. Mesmo assim, Fukuda se sente seguro para garantir que estava tudo bem.
“A zona de assentamento de válvulas livre de carvão e os anéis de compressão dos pistões com folga dentro dos padrões da fábrica permitem concluir que não havia perda de pressão”, diz ele.
Os primeiros sinais de fuga de pressão são a perda de performance e o aumento de consumo. Isso é exatamente o contrário do que aponta a comparação dos testes de pista feitos aos 1.000 e aos 60.000 km (veja no final do texto).
No cabeçote, as válvulas de admissão apresentavam índice de carbonização de média intensidade.
“Os retentores, ainda flexíveis, são inocentes. O culpado é o sistema de recirculação de vapor de óleo. Encontramos as paredes das galerias de admissão do cabeçote com traços evidentes, e acima da média, de lubrificante”, explica Fukuda.
Um dos coxins mostrava estágio inicial de degradação da borracha. Não compromete a performance, mas pede atenção especial.
Destaque negativo para a suspensão. Fato raro, encontramos dois amortecedores com sinais de vazamento. Para piorar, o desmonte revelou ainda uma bucha da bandeja esquerda com rompimento parcial.
Os demais sistemas do 208 cumpriram bem sua função e chegaram aos 60.000 km em boas condições.
O freio dianteiro, com pastilhas e discos trocados (estes, desnecessariamente) na quarta revisão, estavam, lógico, em estado de novos. O traseiro, sem manutenção durante o teste, também foi bem.
A caixa de direção estava sem folgas, o que explica a atuação precisa e sem ruídos. Câmbio, acabamento e carroceria também estavam em perfeito estado.
Fim da linha. Apesar dos percalços, o 208 e a rede Peugeot mostraram sinais de evolução. Eles são claros, como também é clara a necessidade de que ela continue em curso.
Itens aprovados
Passagem do bloco
O desmonte do bloco do motor só trouxe boas notícias. Os pistões estavam com a cabeça com índice de carbonização compatível com a quilometragem.
Os anéis de compressão estavam todos com folga de entrepontas dentro dos limites aceitos pela fábrica.
No virabrequim, a medição de munhões, moentes e folga axial indicou números no centro da faixa de tolerância da Peugeot.
Mais altos do que baixos
A retirada do painel e dos revestimentos do 208 mostrou que a proteção da cabine contra a invasão de contaminantes como poeira e água continua sendo um dos pontos fortes dos carros da Peugeot.
Foi assim com o hatch 307 e com o crossover 3008 e se repete agora com o 208. Mantas e espumas espessas revestem o assoalho, o que ajuda também no isolamento sonoro.
O contraponto da qualidade de equipamento foi o tampão retrátil do teto panorâmico, uma fonte de ruído do início ao fim do teste.
Gasto à toa
Na quarta revisão, a rede Peugeot trocou as pastilhas, que de fato haviam chegado ao fim. Mas errou ao condenar também os discos. Resultado: gastamos R$ 392 sem necessidade.
Alimentação saudável
O índice de contaminação do corpo de borboleta, componente que regula a entrada da mistura de ar e combustível no sistema de admissão, estava compatível com a quilometragem.
Com as velas de ignição também em bom estado, a luz da injeção não acendeu em nenhum momento do teste.
Câmbio em alta
Muitos motoristas reclamaram de trepidação nas arrancadas do 208, o que nos levou a imaginar que a embreagem havia chegado ao fim.
Longe disso. O disco ainda estava com boa espessura do material de atrito, o que nos leva a imaginar que o material elástico perdeu sua máxima capacidade de gerar pressão.
No mais, tudo em ordem: nada de vazamento nas coifas das homocinéticas nem sinais de desgaste nas engrenagens, garfos e luvas de engate do câmbio.
Caixa forte
Auxiliada por um sistema elétrico capaz de proporcionar uma boa dose de leveza ao pequeno volante do 208, a caixa de direção se mostrou silenciosa e muito resistente.
Sem folga axial ou nos terminais de direção, ela chegou ao desmonte em estado de nova.
Itens de atenção
Morte anunciada
O coxim inferior, também chamado de coxim de torção, não fazia ruído nem transmitia vibrações para a carroceria em função da pequena trinca encontrada nele. Mas, com o uso, a tendência era de agravamento.
Culpados e inocentes
Os retentores de válvulas cumpriram seu papel, assim como os anéis de compressão dos pistões, todos dentro das especificações.
Logo, o elevado índice de contaminação das válvulas pode ser atribuído ao sistema de recirculação dos vapores de óleo.
Corrobora essa tese a presença de lubrificante na galeria das válvulas de admissão, exatamente o ponto por onde passam os vapores.
Itens reprovados
Fora de ação
A suspensão foi o único sistema reprovado no desmonte. Um amortecedor vazou e outro perdeu boa parte da pressão por problemas nos componentes internos.
Na bandeja esquerda, mais uma falta grave: uma bucha severamente danificada. A suspensão é, definitivamente, o ponto fraco da Peugeot, ao menos a dos modelos avaliados no Longa Duração.
Veredicto
Em outubro, quando fizemos a simulação de venda do carro, caiu a máxima de que francês tem desvalorização acima da média.
Na rede, as ofertas (ainda que condicionadas à compra de um outro Peugeot) foram muito boas. Nosso 208 contraria outra má fama dos franceses: a do custo elevado de manutenção.
Ele dá adeus ao Longa com um número só um pouco acima da média do segmento. A rede, apesar de ter mostrado alguma melhora, ainda carece de atenção da fábrica.
Histórico – Principais ocorrências
7.677 km | Tampa corrediça do teto panorâmico vibra e faz barulho |
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9.618 km | Buzina com som rouco e abafado |
28.032 km | Aparente perda de eficiência do ar-condicionado |
34.196 km | Embreagem trepidando nas saídas |
39.327 km | Chiado nas pastilhas de freio |
Folha Corrida
Preço de compra: | R$ 41.920 (agosto/2013) |
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Quilometragem total: | 60.092 km; 42.993 km (71,5%) rodoviário), 17.099 km (28,5%) urbano |
Consumo total: | 6.556,2 litros de etanol (R$ 13.114,23) |
Consumo médio: | 9,2 km/l (com etanol) |
REVISÕES | |
10.000 km | R$ 220 (PAris-Alphaville) |
20.000 km | R$ 390 (Alpes) |
30.000 km | R$ 240 (Super France) |
40.000 km | R4 646 (Port Andreta) |
50.000 km | R$ 408 (Paris-Morumbi) |
Alinhamento, balanceamento e rodízio | R$ 689 |
Peças extras às revisões | R$ 732 (discos e pastilhas de freio dianteiro) |
Custo por 1.000 km | R$ 273,60 |
Check-up
1.014 km | 60.000 km | Diferença | |
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0 a 100 km/h | 13,4 s | 12,6 s | + 5,97 % |
0 a 1.000 m | 34,9 s | 34,1 s | + 2,29 % |
retomada de 40 a 80 km/h (3ª) | 8,2 s | 7,9 s | + 3,66 % |
retomada de 60 a 100 km/h (4ª) | 11,4 s | 11,4 s | = |
retomada de 80 a 120 km/h (5ª) | 19,2 s | 18,9 s | + 1,56 % |
frenagem de 60 km/h a 0 | 17,1 m | 17,2 m | – 0,58 % |
frenagem de 80 km/h a 0 | 30,5 m | 30,2 m | + 0,98 % |
frenagem de 120 km/h a 0 | 71,4 m | 70,1 m | + 1,82 % |
consumo urbano | 7,6 km/l | 8 km/l | + 5,26 % |
consumo rodoviário | 11 km/l | 11,2 km/l | + 1,82 % |
ruído interno PM | 39,4 dBA | 41,7 dBA | – 5,84 % |
ruído interno RPM máximo | 72,4 dBA | 76,1 dBA | – 5,11 % |
ruído interno 80 km/h | 60,3 dBA | 64,1 dBA | – 6,3 % |
ruído interno 120 km/h | 65,6 dBA | 68,7 dBA | – 4,73% |