A série especial Grazie Mille registra o encerramento da produção do Mille, mas não faz jus à significância do veterano Uno para a indústria brasileira. O compacto inaugurou a atual era do “carro 1.0” e foi um dos precursores dos automóveis mundiais modernos. A Fiat interrompeu a produção do modelo no último dezembro, por causa da falta de freios ABS e airbags, obrigatórios aos veículos fabricados a partir de 2014. Seria até possível instalar os equipamentos, mas inviável financeiramente.
O então Uno estreou em 1984 com desenho assinado por Giorgetto Giugiaro, e dá seu adeus após uma série de retoques que, por fim, distorceram um dos traços mais bem-sucedidos do design industrial. O formato de botinha é elementar e funcional: oferece ótima visibilidade e muito espaço interno.
Com mais de 3,7 milhões de unidades vendidas, o Mille continuará nas ruas presente por um bom tempo. Menos comum será a série final, limitada a 2 000 unidades. QUATRO RODAS avaliou o número 157, cedido pela concessionária Paulitália, de São Paulo.
A última série do Mille vem recheado de fábrica com ar-condicionado, direção hidráulica, vidros dianteiros elétricos, limpador no vidro traseiro e rádio com USB e Bluetooth. Por dentro, há tapetes em carpete, forração escura no teto, rodas de liga, ponteira de escape cromada e faróis com máscara negra. Toda essa lista, opcionalmente, qualquer Mille podia ter. A exclusividade da versão começa com a cor (verde Saquarema), adesivos na traseira e na soleira das portas, quadro de instrumentos e tecidos nos bancos que trazem o nome da versão. No centro do console, uma plaqueta de plástico em forma de Uno indica a numeração da série especial.
O pacote de agradecimento (Grazie Mille, em italiano significa “muitíssimo obrigado”) faz o carro custar 31 200 reais, valor encontrado em São Paulo sem sobrepreço. A Fiat optou por não vender um Mille supercaro, como a Volks fez com a Kombi Last Edition. Para aguçar os colecionadores, ela poderia ter criado uma versão que recuperasse o prestígio que o Uno já teve. No passado, ele trouxe algum luxo e esmero no acabamento. Em 1994, foi o primeiro turbo de série do Brasil. Teve duas versões esportivas e até motor 1.6.Após o auge no começo dos anos 90, o Uno perdeu equipamentos, opções de motorização e até o nome, tornando-se Mille – referência ao motor 1.0, único disponível então.
A reestilização de 2004 causou polêmica e indignação aos fãs do Uno original. Quatro anos depois chegava o Mille Economy, outra chancela de carro barato, que deu a ele o título de modelo mais econômico do país – no nosso teste fez 15,9 km/l na estrada.
Há 30 anos, o Uno foi lançado para elevar o nível do segmento de compactos, ajudando a tornar a clientela cada vez mais exigente. Esse é o legado de três décadas de serviços prestados.
VEREDICTO
O preço é menor do que a soma dos acessórios. Além disso, tem chances de virar raridade e se valorizar entre colecionadores.