Fiat Stilo Abarth tinha motor 2.4 do Marea e passaria dos R$ 230.000 hoje
O Abarth, versão nervosa do Stilo, quer ser rápido na cidade e encher o motorista de mimos. Mas será que conforto combina bem com esportividade?
Publicado originalmente em novembro de 2002
“Canhão para a cidade.” A “classificação” foi apresentada pela Fiat em setembro passado durante o lançamento do Stilo Abarth, a versão esportiva do seu novo carro.
Segundo a montadora, ele é um modelo com qualidades para uso urbano – conforto para os ocupantes, facilidade de manobra e dimensões compactas, entre outros itens – aliadas a um desempenho esportivo, ou seja, rapidez nas acelerações e retomadas.
Não é uma combinação simples. Versões nervosas de carros comuns podem entregar um 0 a 100 km/h poderoso mas, não raro, o motorista leva em troca uma suspensão dura na hora de enfrentar os buracos das ruas, sacolejos extras e direção mais pesada. Belo desafio para o Stilo Abarth resolver.
Rodamos cerca de 800 quilômetros com o Abarth em São Paulo. Em matéria de trânsito urbano, não há laboratório com maior variedade de situações. Dificuldades nas ultrapassagens? Não será a bordo deste Stilo que você vai sofrer nas subidas ou esperar o motor encher para passar o carro da frente.
O acelerador by wire tem curso longo, mas antes mesmo de botar o pé lá no fundo o Abarth já está pronto para a manobra. No teste de retomada de 40 a 80 km/h em terceira marcha, ele levou 7,4 segundos.
Agradeça ao motor 2.4, importado do Marea. Uma entrada mais forte nas mal projetadas curvas das vias expressas paulistanas? Nenhum susto para colocar na ficha desta versão que, nos testes, chegou à boa marca de 0,95 g de aceleração lateral (contra 0,84 g do Stilo 8V, apresentado na edição de setembro).
Para equipar o modelo, os engenheiros da Abarth, empresa responsável pelas versões esportivas da Fiat, fizeram algumas alterações no motor 2.4 de cinco cilindros. Eles desenvolveram um novo sistema de admissão, ampliando o diâmetro e alterando a geometria variável dos coletores para melhorar o fluxo do ar para os cilindros. Acrescentaram também um filtro de ar maior e redimensionaram o sistema de escape.
No fim, a potência foi de 160 para 167 cavalos. Houve ainda alterações no câmbio e, nesse caso, elas não agradaram. Os engates continuam bem resolvidos, mas o escalonamento das marchas poderia ser mais curto, já que um esportivo pede trocas rápidas. As relações do Abarth são mais longas que as do Marea.
Segundo a Fiat, os novos valores de torque e potência permitiriam fazer a mudança e ainda oferecer uma pegada esportiva. Vá lá, o 2.4 é um belo motor e entrega torque em baixa rotação (21 kgfm a 1400 rpm), mas algo me diz que o pessoal na Fiat que defende o conforto ao rodar venceu essa parada em particular.
Marchas mais longas num motor com boa elasticidade realmente facilitam a vida de quem dirige sem preocupações com radares. E aqui começa o ponto em que o Abarth (para ser justo, todos os Stilo) abre larga vantagem sobre a concorrência: a vida a bordo.
Cercado por 24 centralinas, o motorista precisa ser pentelho para reclamar dos sistemas eletrônicos à disposição. A direção é elétrica, com Dual Drive, que permite torná-la ainda mais leve em velocidades inferiores a 60 km/h – excelente para estacionar o carro. Fica a sugestão para a Fiat afinar o acerto da direção em velocidades maiores. Está um pouco leve demais e não é tão precisa, dois pecados para uma versão esportiva.
Diante do computador de bordo do Stilo, a concorrência parece entregar uma calculadora de quatro operações. Batizado de My Car, ele oferece 18 funções, que tomam 42 páginas do manual do proprietário. Tem até agenda de compromissos. As informações aparecem no meio do painel de instrumentos. Uma boa solução. O desenho dos marcadores é simples e, com o ajuste de altura e profundidade do volante e do banco, motoristas de qualquer tamanho encontram boa visão da área.
O conforto interno é completado pelos bancos de couro com três memórias de posição e aquecimento, bancos traseiros bipartidos que avançam e reclinam, banco do passageiro rebatível que vira uma prática mesa, ar-condicionado com controles independentes para motorista e passageiro, comando do rádio no volante e, a maior atração, o Sky Window, o imenso teto solar dublê de zetaflex com suas cinco lâminas de vidro.
Pena que é tudo opcional e, junto a outros acessórios, fazem o preço pular de 48.400 reais para 70.030 reais – R$ 234.910 em 2020. Se puder, gaste os 3.500 reais do Sky Window. Não que a versão original seja pelada. Na ficha técnica é fácil perceber que sobram itens de série de qualidade. Destaque para o ABS, o airbag duplo e o controle de estabilidade e de tração.
Boa vida a bordo, bom espaço interno na frente e atrás, bom acabamento, boa posição de dirigir – na cidade, já que um esportivo pede um banco mais baixo –, bom nível de ruído, boa visibilidade, bom porta-malas para a categoria.
Bom, né? É, mas faltou a sensação de exclusividade que um esportivo tem de passar. Dentro, poderia ser confundido com o Stilo normal. É um mal típico das versões brasileiras. O Golf GTi faz isso, o A3 1.8 Turbo idem, o antigo Brava HGT também. O Astra GSi arrisca mais, mas só no exterior. Nessa área, o Abarth acrescentou um aerofólio (de série) e a roda aro 17 (opcional). Pouco para um carro que não nasceu com o desenho mais agressivo na história da Fiat. Longe disso.
Nós testamos o Abarth com aro 17 e pneu Pirelli P6000 215/50. Nessa configuração, as irregularidades do terreno são transmitidas ao volante. Mas, fora isso, o acerto da suspensão é uma agradável surpresa. No Abarth, a Fiat enrijeceu as molas e amortecedores. Ela aumentou a rigidez da barra estabilizadora dianteira para suportar os 54 quilos extras do 2.4 em relação ao 1.8 das duas outras versões do carro. Você recebe firmeza nas curvas e não há grandes solavancos ao passar por uma lombada.
E na estrada, o hábitat natural de um esportivo, como o “canhão para cidade” se comporta? De máxima, ele chegou a 205 km/h. Não é ruim, mas vale lembrar os 212 km/h do Golf GTi e os 217 km/h do A3, ambos com 180 cavalos. Na retomada de 80 a 120 km/h, não se mostrou tão prestativo quanto na cidade. Levou 10,4 segundos, com o câmbio em quarta marcha. O A3 foi 2,5 segundos mais rápido.
Na frenagem, o Abarth foi bem com seus discos dianteiros ventilados, como nas outras versões, mas 4 milímetros mais largos. Na traseira, os discos sólidos não mudaram. Pode parecer pouco, mas para frear de 120 a 0 km/h o Abarth precisou de 61,9 metros, marca 7 metros melhor que a obtida pelo Stilo 8V.
Ficha técnica
Motor: gasolina,Dianteiro transversal, 5 cilindros, 20 válvulas, 2.446 cm³, 83,0 x 90,4 mm, 167 cv a 5.750 rpm, 22,8 kgfm a 3.500 rpm
Câmbio: 5 marchas, tração dianteira; Direção: elétrica
Suspensão: McPherson (diant.), eixo de torção (tras.) Freios: disco ventilado (diant.) e sólido (tras.)
Pneus: 215/50 R 17
Peso: 1.330 kg
Peso/potência: 8,0 kg/cv
Dimensões: compr., 425 cm; larg., 175 cm; alt., 153 cm; entre-eixos, 260 cm; porta-malas, 397 l, tanque, 58 l
Principais Equipamentos de série: Ar-condicionado Dual Temp, airbags laterais dianteiros e traseiros, airbag de janela, bancos de couro, CD changer para 5 discos, faróis de xenônio, piloto automático, rodas de liga aro 17, teto solar elétrico
Preço Básico – 48.400 reais (R$ 162.354, IGP-M, agosto de 2020)
Preço Completo – 70.030 reais (R$ 234.910, IGP-M, agosto de 2020)
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