A hegemonia da Fiat Strada no mercado é incontestável. Ela é não só a picape mais vendida do Brasil, mas também o carro. A receita do sucesso reside em vários fatores. Um deles é que a Fiat não fica apenas se defendendo das investidas da concorrência, que são muitas, mas parte para o ataque, como é a estratégia de suas mais novas versões equipadas com motor 1.0 turbo.
Esse lançamento nada mais é que uma ofensiva contra a Chevrolet Montana, sua rival de longa data, que ganhou porte intermediário este ano e tem motor turbo, câmbio automático e versões na mesma faixa de preço, como é o caso de Montana LTZ e Strada Ultra T200, alinhadas neste comparativo.
Decidimos reunir as duas para avaliar se o incremento de potência, desempenho, estilo e conforto da Strada é capaz de compensar o porte e espaço maiores da Montana, assim como o desempenho e conteúdo superiores.
A grande novidade da linha 2024 da Strada é a introdução do motor 1.0 turbo, o 1.0 mais potente do Brasil. Ele estreou no Fiat Pulse e já equipa o Fiat Fastback e o Peugeot 208. Trata-se de um propulsor muito bem-vindo na Strada, que passa a ter 130 cv e 20,4 kgfm, ganhando agilidade nas retomadas e também tempo nas acelerações. Ela sai da imobilidade e chega aos 100 km/h em 11 s, enquanto a versão com motor aspirado 1.3 cumpre essa prova em 14,8 s.
Já a Montana equipada com motor 1.2 turbo (133 cv/21,4 kgfm) traz apenas 3 cv e 1 kgfm extras, mas o suficiente para a picape da Chevrolet ser mais rápida acelerando em 9,9 s, ou 1,1 s de vantagem.
As retomadas da Montana também foram superiores e o motor demonstrou ter mais fôlego, em especial na retomada de 80 a 120 km/h que fez em 7,3 s, enquanto a Strada Turbo precisou de 8,7 s. É uma diferença significativa e é perceptível na estrada, condição que esse tipo de retomada é mais utilizada.
É nítido que em uma situação de ultrapassagem a Montana se comporta com mais naturalidade, contribuindo para um motor mais silencioso. Enquanto a 120 km/h medimos 73,8 decibéis no interior da Strada, tivemos 69,2 decibéis na Montana.
Nas medições de consumo, a vantagem troca de lado e é a Strada a mais econômica, com médias de 12,5 km/l e 15,9 km/l (cidade/estrada), contra 11,3 km/l e 14,9 km/l, da Montana. Lembrando que a Chevrolet tem porte maior e é mais pesada, 1.310 kg, contra 1.253 kg da picape da Fiat.
A transmissão também é decisiva nesse quesito e enquanto a Montana traz câmbio automático convencional com conversor de torque e seis marchas, a Strada opta por um CVT, o mesmo que equipa o Pulse, que simula sete marchas – esse tipo de transmissão traz a vantagem de privilegiar o consumo e a marcha extra também ajuda.
Personalidades distintas
Outra diferença entre as picapes é o conjunto de suspensão, que acaba interferindo diretamente no comportamento dinâmico. A Montana, desde o seu lançamento, recebe elogios pelo seu comportamento digno de um SUV, ganhou até o apelido: “Tracker com caçamba”.
Ele faz jus ao que o motorista sente ao volante e esse conforto é atribuído ao duplo batente de rigidez variável dos amortecedores, que atua especialmente nas situações mais críticas para uma picape, quando ela tende a ter a traseira mais solta: com a caçamba vazia. A suspensão dianteira é McPherson, enquanto a traseira é eixo de torção – combinação que traz boa absorção de impactos e trabalho silencioso. A direção leve e direta contribui para a agradável condução.
A Strada também tem bom comportamento dinâmico, mas o fato de manter o eixo rígido com feixe de molas no eixo traseiro torna a condução ligeiramente mais arisca, com a carroceria oscilando mais. A engenharia da Fiat adotou uma nova geometria de suspensão e amortecedores nas versões equipadas com motor turbo e há batentes hidráulicos no eixo dianteiro que impedem as batidas secas ao entrar em um buraco.
Ao avaliarmos a ergonomia, a Montana acaba saindo na frente por trazer o volante com regulagem de altura e profundidade e a tela da central multimídia de 8” voltada para o condutor, tornando mais acessível todos os comandos da multimídia.
–
A Strada Ultra, versão topo de linha, traz bancos dianteiros mais largos na região dos ombros – o que contribui para segurar melhor o corpo. E também ganhou o mesmo volante do Pulse, que tem empunhadura mais confortável e oferece uma direção elétrica recalibrada que está mais precisa e direta. A central multimídia continua sendo a Uconnect de 7” com conexão sem fio com smartphones. Ela é intuitiva e tem touch responsivo, mas merece uma tela maior – nem que fosse apenas nas versões mais caras.
Capacidade de carga ou conforto?
A Strada carrega 50 kg a mais (650 kg) na caçamba do que a Montana (600 kg), mas a Chevrolet compensa com um espaço interno generoso – um quesito que pode definir a compra dos clientes que buscam uma picape urbana e que não usam o máximo da capacidade de carga rotineiramente.
A Montana é maior em todas as medições inclusive no entre-eixos, que tem 280 cm, enquanto a Strada mede 273,7 cm. Nas dimensões internas, a Chevrolet leva a melhor com o melhor espaço para os ombros e cabeça, garantindo carregar três ocupantes com conforto no banco traseiro.
A plataforma da Strada é a mesma do Mobi e não tem milagre: a cabine é apertada e essa é a grande desvantagem da líder em relação à rival.
Um outro calcanhar de aquiles é o fato de que a capota marítima da Strada é alvo de críticas por não ser à prova d’água e poeira. Com a nossa picape de Longa Duração é extensa a lista de reclamações de entrada de água na caçamba – o que impede de usá-la como porta-malas e reduz sua principal vantagem como picape para o uso na cidade.
A Chevrolet garante que a capota marítima é bem vedada graças a uma canaleta esculpida no plástico que rodeia o compartimento com essa missão, a água que se acumula na canaleta é direcionada para um dreno debaixo do veículo. E, de fato, durante a nossa convivência de uma semana com a picape, mesmo enfrentando chuvas fortes no período, sua caçamba ficou incólume.
A Strada Ultra, por sua vez, também não sofreu infiltrações, pois apesar de ter sido testada na mesma semana, não ficou tão exposta às chuvas como a Montana. E, segundo a Fiat, não houve mudanças no sistema de vedação da capota.
Design moderno
As duas versões topo de linha da Strada que trazem o motor 1.0 turbo são as que oferecem uma mudança estética na dianteira – com um hexagonal maior na grade, novas entradas de ar e novos nichos dos faróis de neblina, que remetem aos do Pulse. O para-choque também é novo e suas linhas anguladas destacam o volume do capô.
A Montana está prestes a completar um ano de mercado e seu design se mantém atual e é atrativo graças aos faróis afilados, à grade horizontal e a área envidraçada reduzida, contribuindo para a sensação de robustez.
No interior, a Montana traz um painel com boa montagem e há materiais de qualidade, com destaque para a faixa central que imita couro perfurado e tem toque emborrachado. O quadro de instrumentos decepciona por ter mostradores analógicos e uma tela monocromática no centro. Um painel digital combinaria com a proposta tecnológica da picape e poderia ser de série apenas na opção mais cara.
A picape da Fiat evoluiu por dentro na linha 2024, retirando alguns plásticos duros e introduzindo estofados mais confortáveis e bonitos. Mas o plástico rígido continua presente. O quadro de instrumentos, por sua vez, tem grafismos mais modernos e a tela em TFT é maior e colorida.
Custo/benefício
Para este comparativo, alinhamos a versão topo de linha Ultra da Strada e consideramos a opção intermediária da Montana, a LTZ. Ela está mais alinhada em termos de conteúdo e preço com a versão topo de linha da picape da Fiat.
Ambas trazem controle de tração e estabilidade, monitoramento da pressão dos pneus, protetor de caçamba, sensor de estacionamento traseiro, câmera de ré, assistente de partida em rampa e retrovisores elétricos.
Mesmo sendo a versão intermediária, a Montana LTZ traz ainda alguns itens exclusivos como seis airbags (dois a mais que a Strada), chave presencial com partida por botão, piloto automático, sensor crepuscular, alerta de frenagem de emergência e wi-fi.
Entre os diferenciais da Strada Ultra estão, ar-condicionado digital, bancos em imitação de couro, carregador por indução e faróis de led, presentes na Montana Premier, topo de linha e que ilustra as fotos deste comparativo. Já os itens exclusivos são o estribo lateral e o modo Sport, que faz a transmissão priorizar rotações mais altas e deixa o carro ligeiramente empolgante em altas velocidades.
A diferença de preço entre as picapes é de R$ 9.050 e a Strada é mais barata, custando R$ 132.990, enquanto a Montana LTZ sai por R$ 142.040. Nessa faixa de preço essa diferença não é tão significativa e a Montana leva a melhor pelo conjunto da obra: melhor desempenho e vida a bordo tanto na direção quanto no espaço. O conteúdo tecnológico é mais rico e há mais itens de segurança. A Strada se defende bem com o motor mais potente, mas o pacote de tecnologia e equipamentos poderia ser melhor.
Veredicto Quatro Rodas
A Montana ganha por oferecer mais espaço, melhor desempenho e conteúdo mais tecnológico. A Strada é mais barata e traz motor moderno, mas tem cabine apertada.
Ficha técnica
CHEVROLET MONTANA:
Motor: flex, diant., transv., 3 cil., 12V, turbo, 1.199 cm³, 133/132 cv a 5.500 rpm, 21,4/19,4 kgfm a 2.000 rpm (etanol/gasolina)
Câmbio: automático, 6 marchas, tração dianteira
Direção: elétrica
Suspensão: McPherson (diant.), eixo de torção (tras.)
Freios: disco ventilado (diant.), tambor (tras.)
Pneus: 215/60 R17
Dimensões: compr., 471,7 cm; largura, 179,8 cm; altura, 165,9 cm; entre-eixos, 280 cm; caçamba, 874 l, capacidade de carga, 600 kg
FIAT STRADA ULTRA:
Motor: flex, dianteiro, transversal, 3 cilindros, 12V, 999 cm³, 130/125 cv a 5.750 rpm (gasolina/etanol), 20,4 kgfm a 1.750 rpm
Câmbio: automático, CVT, 7 marchas, tração dianteira
Direção: elétrica
Suspensão: McPherson (diant.), eixo rígido com feixe de molas (tras.)
Freios: disco ventilado (diant.), tambor (tras.)
Pneus: 205/55 R16
Dimensões: compr., 444,8 cm; largura, 178,1 cm; altura, 160,1 cm; entre-eixos, 273,7 cm; caçamba, 844 l; capacidade de carga, 650 kg
Testes Quatro Rodas
Aceleração | Chevrolet Montana | Fiat Strada |
0 a 100 km/h | 9,9 s | 11 s |
0 a 1.000 m | 31,5 s – 163,6 km/h | 32 s – 156,2 km/h |
Velocidade máxima | 160 km/h* | 180 km/h* |
Retomadas | ||
D 40 a 80 km/h | 4,4 s | 4,9 s |
D 60 a 100 km/h | 5,8 s | 6,3 s |
D 80 a 120 km/h | 7,3 s | 8,7 s |
Frenagens | ||
60/80/120 km/h a 0 | 13,3/23,5/53,2 m | 13,9/23,7/55,5 m |
Consumo | ||
Urbano | 11,3 km/l | 12,5 km/l |
Rodoviário | 14,9 km/l | 15,9 km/l |
Ruído interno | ||
Neutro/RPM máx. | 44/67,5 dBA | 45,8/67,4 dBA |
80/120 km/h | 63,2/69,2 dBA | 66,5/73,8 dBA |
Aferição | ||
Velocidade real a 100 km/h | 97 km/h | 98 km/h |
Rotação do motor a 100 km/H | 2.000 rpm | 2.000 rpm |
Volante | 2,7 voltas | 2,7 voltas |
Seu Bolso | ||
Preço básico | R$142.040 | R$132.990 |
Garantia | 3 anos | 1 ano |
Condições de teste: alt. 660 m; temp., 25/30°C; umid. relat., 77/45%; press., 1.013,5/759 mmHg
*Agradecimentos à Ecoparada Madero