Os planos da Great Wall Motors (GWM) para o Brasil são ambiciosos e incluem serviços de assinatura, vendas online e delivery de carros novos, tudo isso com cobertura nacional. Para 2024, a promessa é de iniciar a nacionalização de seus modelos, e a fábrica já existe: é a unidade que pertenceu à Mercedes-Benz, em Iracemápolis (SP), comprada pela gigante chinesa em 2021.
Porém, não sairá de lá (por enquanto) o primeiro modelo da marca no mercado brasileiro, o Haval H6, que chegará por aqui no segundo trimestre de 2023. Ele virá importado da China. Apesar da distância do lançamento, pudemos conhecer e andar no SUV híbrido, ainda em um protótipo (já adiantado) de testes. A versão final só chega no ano que vem.
Por aqui, o Haval (proncuncia-se “rával”) virá disputar espaço com os SUVs médios. Segundo a marca, que não revelou estimativa de preços, ele ficará posicionado acima do Corolla Cross e próximo às versões topo de linha do Compass a diesel. Ou seja: valores em torno de R$ 260.000, hoje.
Há mais de dez anos de olho no Brasil, incluindo uma participação no Salão do Automóvel de São Paulo, em 2012, a Great Wall conhece o potencial do mercado, segundo seus executivos. Por isso, a operação local tem liberdade para adaptar os modelos chineses à realidade brasileira, de acordo com esses mesmos funcionários. A começar pelo visual do H6.
Em nosso mercado, o SUV passou por uma dieta de cromados, que só aparecem na grade, em um friso inferior lateral e nos logotipos. Os demais, que existiam antes, foram substituídos por outros com acabamento preto brilhante. A GWM do Brasil entende que o excesso de cromados está pejorativamente ligado aos chineses. As rodas para o Brasil também são exclusivas, com 19 polegadas e acabamento diamantado.
Até mesmo a grande inscrição com o nome da marca na traseira foi refeita, com menor espaçamento entre as letras. Há ainda outras substituições mais óbvias, como dos logos com ideogramas chineses por emblemas em padrões internacionais. O próximo poderia ser pelo logotipo dianteiro. O fundo azul chama mais atenção que deveria.
Mais um ponto de entendimento do mercado vem na mecânica do modelo, que combina um motor 1.5 turbo a gasolina com outros dois elétricos, um em cada eixo, fazendo assim com que o H6 tenha tração 4×4 (que pode funcionar como 4×2, dianteira ou traseira). Este conjunto não equipa o H6 em nenhum outro lugar do mundo, é exclusividade de nosso mercado.
Definitivamente, a GWM não quer que o Haval H6 seja apenas mais um chinês ou mais um SUV. Por isso, o projeto do H6 busca argumentos para justificar sua chegada. Apesar da grade à la Peugeot, que parece recortar a carroceria, o H6 exibe personalidade própria: de carro bonito e de porte. Toda sua iluminação é de led e, na traseira, as lanternas percorrem a tampa inteira – esta com acionamento elétrico e ajuste de altura de abertura.
A tecnologia também é um fator-chave no modelo, com uma extensa lista de equipamentos de série. O único opcional será o teto solar panorâmico, já que ele influencia em blindagens. A lista inclui os clássicos piloto automático adaptativo, frenagem automática, alerta de tráfego cruzado e permanência em faixa e detector de fadiga.
Mas há diferenciais, como o Smart Dodge, que detecta veículos na faixa ao lado e é capaz de fazer pequenos desvios dentro da própria faixa, se necessário. Traz ainda a redução de velocidade em curvas durante a condução semiautônoma, estacionamento semiautônomo sem a necessidade de controlar o freio e o sistema que refaz em marcha a ré os últimos 50 metros percorridos (como nos BMW). E o mais sofisticado: reconhecimento facial para adaptação dos ajustes do carro feitos e memorizados previamente.
Por dentro, o H6 tem bom acabamento, com materiais emborrachados, mas as porções em preto brilhante e os frisos cromados não demonstram tanta qualidade, assim como o grande volante, resquícios chineses. Há duas telas, uma de 12,3” para a multimídia (com Android Auto e Apple CarPlay sem fio) e outra de 10,3” para o quadro de instrumentos.
Espaço também é um trunfo e todos vão com conforto em pernas e cabeça, mesmo quem precisar ir no assento central. O porta-malas tem bons 560 litros.
O conjunto de três motores já citado entrega impressionantes 393 cv quando combinados. O torque ainda não foi divulgado, bem como números de desempenho. Mesmo assim, em nosso contato com o SUV, foi plenamente possível atestar que ele anda como esportivo, com acelerações que fazem os ocupantes grudarem no banco.
É um desempenho além de qualquer outro concorrente em sua provável faixa de preços e pode variar entre os quatro modos: Normal, Eco, Sport e Neve. O funcionamento do SUV híbrido é quase o de um elétrico, já que o conjunto prioriza o funcionamento dos motores elétricos, que podem tracionar sozinhos até os 140 km/h – antes disso o motor a combustão só será acionado caso o motorista pise fundo no acelerador para exigir mais desempenho.
Mesmo que a carga das baterias chegue próxima de acabar, os motores elétricos ainda serão priorizados, mas, nesse caso, o motor a combustão passa a servir como um gerador para eles. Ou seja, o consumo de gasolina será sempre baixo. A autonomia projetada no modo totalmente elétrico é 170 km. O câmbio também é um sistema diferenciado, com duas marchas para o motor a combustão: uma para médias e outra para altas velocidades.
Por fim, na unidade avaliada, a direção tinha ajuste voltado ao conforto, assim como a suspensão, com calibragem macia, que absorve ondulações sem balançar excessivamente. Mas, segundo a fábrica, esses sistemas ainda serão ajustados: ganharão acertos mais firmes, de acordo com o gosto dos motoristas brasileiros.
Veredicto
Neste primeiro contato, o Haval H6 mostrou bom potencial para agradar. Mas depende do preço para ter sucesso nessa missão.
Galeria de imagens
Ficha técnica – Great Wall Haval H6 PHEV
Preço: R$ 270.000 (estimado)
Motor: dianteiro, transversal, gasolina, 1.499 cm³, turbo, 16V, injeção direta + dois motores elétricos; 393 cv (combinada)
Câmbio: automático, 2 marchas (combustão); 1 marcha (elétricos); tração integral
Bateria: capacidade, 34 kWh; autonomia, 170 km
Recarga: 0 a 100% em 6 horas (AC); 20 a 80% em 35 min (DC)
Direção: elétrica
Suspensão: McPherson (dianteira), multilink (traseira)
Freios: a disco nas quatro rodas
Pneus: 235/55 R19
Dimensões: comprimento 468,3 cm; largura, 188,6 cm; altura, 173 cm; entre-eixos, 273,8 cm; peso, 2.040 kg; porta-malas, 560 l