O sucesso do BYD Dolphin no Brasil está mais do que atestado. Lançado por aqui em julho de 2023, o modelo caiu no gosto do mercado e conquistou, já em setembro, o posto de carro elétrico mais vendido do país. Ele foi o primeiro elétrico da história a vender mais de 1.000 unidades em um único mês.
Porém, a BYD quer mais para 2024, como se pode observar em suas ações para chamar a atenção com maciços anúncios em horários nobres e programas de grande audiência da televisão. E essa estratégia inclui o Dolphin Plus, a nova versão topo de linha do modelo com mais equipamentos, autonomia, desempenho e R$ 30.000 mais caro que a versão de entrada. Ou seja, sai por, ainda atraentes, R$ 179.800.
O Dolphin Plus não chega sozinho, no entanto. Não por acaso, ele estreia ao mesmo tempo que o GWM Ora 03 GT, compacto elétrico que é seu maior rival, aqui, no Brasil, e na China. Os preços dos oponentes são semelhantes e, na versão de topo GT, o Ora 03 custa R$ 184.000. Qual deles é o melhor?
Os dois compactos têm aparência descolada e divertida, especialmente nas configurações mais caras. O Dolphin Plus vem com novos e maiores para-choques (que aumentam seu comprimento total em 16 cm), de aspecto mais esportivo, e rodas de 17 polegadas com detalhes na cor predominante da carroceria – a qual é sempre em dois tons. Faróis e lanternas são de led, e há bastante personalidade.
No Ora 03 GT, detalhes dão o tom de esportividade da sigla, como os plásticos externos com estampa e textura que imitam fibra de carbono, apliques em vermelho e rodas de 18 polegadas. Ele também tem o conjunto de led e sua traseira chama atenção, já que parte das lanternas está embutida no vidro.
A dianteira, porém, ainda se beneficia do antigo hábito das chinesas de copiar outros modelos. É possível ver um pouco de Mini Cooper, Fusca e Porsche. É um bom resultado, mas isso pode pesar contra o GWM.
O elétrico da BYD também vai melhor no interior, com traços fora do comum (que imitam ondas e escamas, em uma temática oceânica) e acabamento excelente, mas com combinações de cores que beiram o duvidoso. Há revestimento que imita couro em bancos e painel, boa montagem e variações de texturas, como o plástico das portas que parece ser tecido, mas não é.
Também há boa disposição de porta-objetos e teto solar panorâmico. O destaque fica para as telas, especialmente a da central multimídia, com 12,8 polegadas e rotação eletrônica – ela pode ser visualizada na horizontal ou na vertical. Reproduz Android e Apple via cabo. O quadro de instrumentos é digital, com uma pequena, mas eficiente, tela de 5 polegadas.
No GWM, o acabamento é igualmente caprichado, com materiais macios, imitação de couro e combinações de cores e materiais com estilo mais maduro e sério. E, aqui, o teto solar tem abertura elétrica. As telas, ambas de 10,25 polegadas, também exibem maior equilíbrio estético.
Elas têm ótima qualidade de imagem e apresentação de informações, além de ser compatível com Android e Apple sem fio. Há escorregões como os botões centrais, inspirados em elementos dos Mini Cooper, o volante com aro demasiado grande e fino, e o seletor de marcha giratório, que tem funcionamento lento.
Quem precisar viajar atrás ficará confortável em ambos os modelos, mas se acomodará melhor no Dolphin. Além do entre-eixos 5 cm maior, ele tem mais espaço lateral, para ombros, e vertical, para cabeça. Além disso, o assoalho é todo plano, enquanto no Ora 03 existe um pequeno ressalto no centro.
Há duas portas USB do tipo C, contra apenas uma do tipo A, no GWM. O mesmo vale para o conforto das bagagens. No BYD, são 345 litros de capacidade – mais do que em qualquer hatch compacto à venda aqui. No Ora 03, apenas 228 litros. No entanto, o GWM tem abertura e fechamento do porta-malas elétricos, indisponível no BYD.
As listas de equipamentos dos compactos elétricos são extensas e muito parecidas. Na comparação com a versão de entrada, o Dolphin Plus ganha bancos dianteiros elétricos com aquecimento, teto solar, airbag central, carregador de celulares por indução e sistemas de segurança como piloto automático adaptativo, alerta de colisão com frenagem automática de emergência, alerta de pontos cegos laterais, assistente de permanência em faixa com centralização, alerta de tráfego cruzado traseiro com frenagem automática, leitura de placas de velocidade e sistema anticolisão lateral.
Tudo isso também está presente no Ora 03 GT – que troca apenas o aquecimento dos bancos por ventilação. Mas o Ora tem itens a mais: o já dito porta-malas elétrico, bancos dianteiros com memória e massagem, faróis altos automáticos e sistema de estacionamento autônomo.
Ele também tem seis modos de condução (Eco, Normal, Esportivo, Esportivo+, Automático e Individual), contra quatro no BYD (Eco, Normal, Sport e Neve/Gelo), e dispensa o botão de partida do motor.
Basta entrar no veículo com a chave presente, mudar o câmbio para R ou D, e partir. Os dois têm ainda ar-condicionado digital bizona, freio de estacionamento eletrônico, faróis e lanternas de led, e câmeras 360o para manobras.
O sobrenome Plus, do Dolphin, não para no visual e nos equipamentos, muito pelo contrário. A palavra, que significa “mais”, em português, tem como outro foco o rendimento. Para relembrar, o Dolphin de entrada tem motor de 95 cv e 18,4 kgfm.
No Plus, esses números saltam para inesperados 204 cv e 31,6 kgfm, também muito superiores aos 171 cv e 25,5 kgfm do Ora 03 – que tem o mesmo conjunto mecânico na versão Skin, de entrada. Essa superioridade ficou evidente em nossos testes. O Dolphin Plus precisou de 7,3 segundos para ir de 0 a 100 km/h, contra 8,1 segundos do Ora 03 GT. O Dolphin comum leva 12,3 segundos.
Há também novidade na bateria, que é de 60,5 kWh no Plus e 44,9 kWh no comum, e 63 kWh no GWM. Porém, mesmo mais potente e com bateria menor que no rival, o Dolphin Plus tem maior autonomia: 330 km, segundo o Inmetro, contra 319 no Ora 03. O Dolphin básico tem 291 km.
No comportamento, o Dolphin parece andar mais do que deveria. Ele tem acelerações muito rápidas, divertidas e empolgantes, mas destraciona sem cerimônias em saídas com o pé fundo no acelerador, ou até mesmo em retomadas a velocidades menores, como 40 km/h.
Parte da culpa pode ser dos pneus 205/50, que poderiam ter vocação esportiva para aguentar tanto torque. Por outro lado, a suspensão melhora em relação ao Dolphin comum. Por ser multilink na traseira (contra eixo de torção no mais barato e no Ora), tem ajuste mais firme e mais estável, sem perder o conforto. A direção ficou mais leve e direta.
O Ora 03 também empolga e diverte, sem fazer tanto alarde com cantadas de pneus. Ele pode até destracionar, mas é mais comedido. Além disso, tem um temperamento mais esportivo, com direção ainda mais direta (que seria mais bem aproveitada com um volante menor) e uma suspensão mais firme e rígida. Neste caso, imperfeições do piso podem incomodar.
É o preço da esportividade. Ainda em movimento, o BYD precisa de melhores ajustes nos sistemas de permanência em faixa e leitura de placas de velocidade. Eles são invasivos e bruscos, com alertas ou correções que podem assustar e irritar quem estiver no veículo. Esse comportamento acaba por incentivar o motorista a desligar esses recursos, abrindo mão de segurança. No GWM eles são mais sutis e ajudam sem assustar.
O GWM Ora 03 GT é um carro interessante e sua aparência, apesar de polêmica, cativa mais pessoalmente. Ele também conquista pela tocada esportiva e por ser mais equipado que o Dolphin Plus. Por outro lado, o Dolphin compensa com mais espaço, desempenho, autonomia, conforto em percursos urbanos e personalidade no visual. E ainda custa menos. Por isso, o BYD vence este comparativo.
Veredicto Quatro Rodas
O Dolphin Plus vence por ter uma extensa lista de equipamentos, mas principalmente por desempenho, autonomia, espaço, conforto e personalidade contra o GWM Ora 03 GT.
*Agradecimentos ao DAE Jundiaí / Mundo das Crianças
Teste Comparativo Quatro Rodas
Aceleração | BYD Dolphin Plus | GWM Ora 03 GT |
0 a 100 km/h | 7,3 s | 8,1 s |
0 a 1.000 m | 28,3 s – 166,9 km/h | 30,2 s – 166,6 km/h |
Velocidade máxima* | 160 km/h | 160 km/h |
Retomadas | ||
D 40 a 80 km/h | 2,8 s | 3,1 s |
D 60 a 100 km/h | 3,6 s | 4,1 s |
D 80 a 120 km/h | 4,5 s | 5,9 s |
Frenagens | ||
60/80/120 km/h a 0 | 15/27,2/64,4 m | 14,4/26,1/58,8 m |
Consumo | ||
Urbano | 6,6 km/kWh | n/d |
Rodoviário | 6,4 km/kWh | n/d |
Ruído interno | ||
Neutro/RPM máx. | n/d | n/d |
80/120 km/h | 59,8/72,9 dBA | 60,3/74,2 dBA |
Aferição | ||
Velocidade real a 100 km/h | 98 km/h | 99 km/h |
Rotação do motor a 100 km/h em 5a marcha | n/d | n/d |
Volante | 2,5 voltas | 2,5 voltas |
SEU Bolso | ||
Preço básico | R$179.800 | R$184.000 |
Concessionárias | 18 | 69 |
Garantia | 5 anos | 5 anos |
Condições de teste: alt. 660 m; temp., 31,5/28°C; umid. relat., 67/66%; press., 758/757 mmHg
Ficha Técnica BYD Dolphin Plus:
Motor: elétrico, dianteiro, 204 cv, 31,6 kgfm
Bateria: íon-lítio, 60,5 kWh
Autonomia: 330 km (Inmetro)
Câmbio: automático, 1 marcha + ré, tração dianteira
Direção: elétrica
Suspensão: McPherson (diant.), multilink (tras.)
Freios: disco nas quatro rodas
Pneus: 205/50 R17
Peso: 1.658 kg
Dimensões: comprimento, 429 cm; largura, 177 cm; altura, 157 cm; entre-eixos, 270 cm; porta-malas, 345 litros
Ficha Técnica GWM ORA 03 GT:
Motor: elétrico, dianteiro, 171 cv, 25,5 kgfm
Bateria: íon-lítio, 63 kWh
Autonomia: 319 km (Inmetro)
Câmbio: automático, 1 marcha + ré, tração dianteira
Direção: elétrica
Suspensão: McPherson (diant.), eixo de torção (tras.)
Freios: disco nas quatro rodas
Pneus: 215/50 R18
Peso: 1.580 kg
Dimensões: comprimento, 425,4 cm; largura, 184,8 cm; altura, 160,3 cm; entre-eixos, 265 cm; porta-malas, 228 l