Impressões: BMW M440i Coupé é um carro moderno à moda antiga – ainda bem!
BMW M440i Coupé tem tecnologia, potência, performance e algumas falhas. Seu jeito único de reunir tudo isso faz com que esse cupê seja cada vez mais raro
No interior da Baviera, na Alemanha, onde a BMW vem desenvolvendo tecnologias que arrancam suspiros, como o SUV elétrico iX Flow, capaz de mudar de cor em tempo real, um movimento de resistência se organiza.
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Não se trata de terroristas ou qualquer memória mais amarga que envolva a passagem de tropas pela região, mas sim da produção de um dos últimos cupês esportivos da marca, o BMW M440i Coupé, que está à venda no Brasil e faz questão de ser do contra: a combustão (híbrido leve), grande e sisudo. Quase politicamente incorreto, mas divertido e provocante.
Ele é disforme de uma maneira agradável. Seus 4,7 m de comprimento parecem realçados pela existência de apenas duas portas (um cupê raiz), e o curto balanço traseiro contrasta com o imenso capô, que tampa o motor 3.0 de seis cilindros em linha e 387 cv, com comportamento versátil.
Sendo jovem e mais acostumado com uma “nova BMW”, queridinha de influenciadores, estrelas da música e outros endinheirados mais famosos, o M440i quebra minhas expectativas e lembra tempos que, para muitos compradores maduros, são bem românticos.
É como se seus R$ 604.950 permitissem esquecer a busca constante por eficiência e rendimento, nos concentrando na diversão. A sensação de algo diferente é reforçada pelos excelentes bancos esportivos, com couro Vernasca de ótima textura.
Pelo preço, a refrigeração do assento faz falta, mas a ampla possibilidade de ajustes (altura, inclinação, profundidade, encosto de cabeça e largura da concha) permite encontrar a posição perfeita de dirigir à moda esportiva, bem baixinho.
Obviamente meus trajetos urbanos não são feitos no modo Sport, uma vez que as respostas violentas dos pedais tornariam qualquer deslocamento desconfortável.
No Comfort, entretanto, ele se torna cruzador dócil e ligeiro, que na estrada me faz compreender toda a nostalgia de quem viveu a era de ouro dos cupês de grande porte.
Quanto à transmissão, vale usar o jargão de árbitros de futebol: “Quanto mais imperceptível melhor”, e realmente nem parece que há o câmbio de oito marchas comandando o motor, que também tem modo Eco.
Em vias ruins, a suspensão M Sport,calibrada para oferecer mais firmeza em buchas e amortecedores, sempre entende bem o terreno e age com louvor, ainda que dê baques em certas imperfeições.
Com centro de gravidade bem próximo ao solo e tração traseira, mesmo curvas mais fechadas são executadas com ótima suavidade e diversão.
A aceleração tem violência de sobra e o kickdown é completado pela força do sistema híbrido leve, com alguns segundos de atuação. Curiosamente, o limitante dessas manobras acaba sendo o volante, que é bem grosso e com couro escorregadio.
PONTE PARA O FUTURO Com design que lembra bem o BMW i4 – novíssimo cupê elétrico –, confesso que esperava algum atrevimento do interior do M440i.
Não que fosse necessário “profanar” o modelo com a parafernália de elétricos, mas claramente a operação do esportivo acaba sendo contida por alguns detalhes que quebram o encanto e a praticidade.
Um deles é o alumínio utilizado no acabamento do painel, que não carece de qualidade, mas sim de um charme a mais.
Sua textura não entrega a qualidade do material e ele acaba refletindo muito a luz solar, nos olhos do motorista, sendo um defeito sério e que me faz usar menos o teto solar, para evitar a entrada de luz.
Quanto à central multimídia de 10,25’’, não há dúvidas de que ela está abaixo do que um modelo desse exige, com botões redundantes que poderiam ceder lugar a visor maior, explorando ainda mais recursos como o sistema de estacionamento automático que poupa tempo e estresse com sua precisão e várias câmeras.
O mesmo não vale para o quadro de instrumentos digital de 12,3’’, que tem interface muito bonita e funcional. O head-up display também é versátil e projeta até o GPS no vidro.
Só não é perfeito porque a imagem projetada tem foco diferente do resto da pista, necessitando um “ajuste” nos olhos toda vez que mudo o olhar do HUD para a rua e vice-versa.
Completando os altos e baixos, há um espetacular sistema de som da marca Harman Kardon com 16 alto-falantes e que merece sempre a companhia de um app de música de alta fidelidade, como o Tidal.
O isolamento acústico realça a audição, que, ironicamente, é quebrada pelo mau isolamento do porta-malas, de onde até sacolas chacoalhando podem ser ouvidas, roubando o prazer da audição. Culpa do apoio de braço da segunda fileira, que não veda bem a abertura de acesso ao generoso compartimento traseiro.
E se pouco foi dito sobre a segunda fileira, é porque não há muito mesmo. Os dois ocupantes estão bem servidos de ar digital e tomadas, mas não espere pelo maravilhoso espaço da frente e nem por janelas que se abrem. Repito: é um cupê raiz.
Por isso o BMW M440i Coupé é uma das últimas chances de experimentar o que está virando “passado”. Em um mundo cada vez mais pró-eficiência máxima, suas imperfeições me fazem entender o saudosismo de carros mais “humanos”. Mas não que seja sustentável e barata essa brincadeira.
Veredicto Quatro Rodas
Performance excelente, mas poderia ter maior funcionalidade dos sistemas de conectividade e assistência ao motorista.
Ficha Técnica – BMW M440i
Preço: R$ 604.950
Motor: gasolina, dianteiro, 6 cil., 24V, turbo, 2.998 cm3; 387 cv a 5.800 rpm, 51 kgfm a 1.800 rpm
Câmbio: automático, 8 m., tração traseira
Direção: eletro-hidráulica, diâm. giro, 12 m
Suspensão: braços sobrepostos (diant.), multibraços (tras.)
Freios: disco ventilado (diant. e tras.)
Pneus: 225/40 R19 (diant.), 255/35 R19 (tras.)
Dimensões: compr., 477 cm; larg., 185,2 cm; alt., 139,3 cm; entre-eixos, 285,1 cm; vão livre, 12,9 cm; peso, 1.740 kg; porta-malas, 440 l; tanque, 59 l
Desempenho: 0 a 100 km/h, 4,8 s; veloc. máx., de 250 km/h