Impressões: Hyundai Creta 1.6 anda bem, mas brilha com motor 2.0
SUV compacto da Hyundai traz preços na média do segmento, boa oferta de equipamentos e dinâmica acertada
Não dá para dizer que a Hyundai não tem tradição com SUVs. Dos estranhos Galloper e Terracan aos bem-sucedidos Santa Fe, Veracruz, Terracan e, principalmente Tucson, que está nas lojas brasileiras desde 2005. O Hyundai Creta, contudo, é o primeiro SUV compacto da marca no Brasil – e é aí que está a importância dele.
A primeira vista, o Creta parece um filho bastardo da Hyundai. Se os Creta vendidos na Rússia, China e Índia têm design mais próximo do Santa Fe, o nosso segue um caminho diferente, com a grade mais alta e larga, e prolongamento cromado que termina nos faróis. O para-choque dianteiro também muda, com neblinas horizontais e peça prateada que simula protetor de motor maior, a ponto de envolver a entrada de ar inferior. Tudo isso o deixa mais próximo do New Tucson.
Na traseira, além das lanternas com disposição diferente das luzes, a régua sobre a placa é cromada e o plástico sem pintura na base do para-choque é maior a ponto de envolver os refletores. As rodas diamantadas aro 17″ (as versões manuais trazem rodas aro 16″ convencionais) também ajudam a dar aspecto mais imponente ao carro brasileiro.
Cidadão urbano
A versão Pulse 1.6 com câmbio automático de seis marchas custa R$ 85.240 e traz de série sistema start-stop, direção elétrica, travas elétricas nas portas e porta-malas, retrovisores externos com ajuste elétrico, repetidores de seta, monitor de pressão dos pneus e sistema Isofix são de série, bem como controles de estabilidade (ESP) e tração (TCS), assistente de partida em rampa (HAC), sensor de estacionamento traseiro, piloto automático com comandos no volante e rodas aro 17″.
É a configuração mais próxima de Jeep Renegade Sport automático (R$ 85.900) e Nissan Kicks SV Limited (R$ 84.900) e também a mais completa com o motor 1.6 16V com duplo comando variável e coletor de admissão variável, que com etanol gera 130 cv a 6.300 rpm e torque de 16,5 mkgf a 4.850 rpm.
Não são números extraordinários, mas estão na média. Com 1.359 kg (intermediário entre o Renegade e o HR-V) o Creta também não é dos mais leves, mas as três primeiras relações curtas do câmbio automático ajudam tirá-lo da imobilidade. A propósito, a marcha mais utilizada em uso urbano é a terceira, o que é bom: em vez de esticar a segunda marcha, o câmbio tem trocas rápidas o suficiente para fazer reduções apenas quando é necessário. Em ladeiras, isso é inevitável.
Quando o ambiente muda para rodovias, o Creta 1.6 mostra alguma limitação em retomadas e acelerações – principalmente depois de romper a barreira dos 100 km/h. Isso não tira dele o rodar confortável. A suspensão é firme o suficiente para não permitir que a carroceria incline muito em curvas, mas confortável o suficiente para não passar a vibração de uma rua de pedras ou o impacto com uma lombada. E, como um bom Hyundai, a traseira afunda um pouco ao passar em ressaltos da via.
Boa surpresa vem da direção elétrica, bastante leve em manobras mas pesada a ponto de parecer artificial demais em velocidades elevadas. Alguns podem estranhar, mas é uma característica que transmite segurança ao motorista sem prejudicar o tempo de resposta das rodas.
Vida a bordo
Já falamos anteriormente que o Creta usa a mesma plataforma de Elantra e Kia Soul. Isso fica mais visível quando se abre o capô e vemos o motor em posição baixa no cofre, ajudando a reduzir o centro de gravidade. Mas a melhor herança desta plataforma são as dimensões generosas: 4,27 m de comprimento, 1,78 m de largura, 1,63 m de altura e 2,59 m de entre-eixos, com 431 L de porta-malas.
Por dentro, o espaço não é tão amplo quanto no HR-V, mas satisfaz. O banco do motorista é confortável e tem variação de altura considerável, enquanto o volante tem bom ajuste de altura e profundidade. Quem sentar atrás não poderá reclamar de espaço para as pernas nem do conforto dos bancos. Não sobra muito espaço para os ombros do passageiro do meio, mas o túnel central baixo não o incomodará.
Ao contrário dos concorrentes, o Creta não tem material de toque macio em nenhuma parte do painel – há apenas textura diferente na faixa central dele. Apesar de bem encaixados, os plásticos são duros e brilham tanto quando os de um HB20, o que prejudica a percepção de qualidade. Ao menos as portas recebem couro sintético no apoio de braços.
Potência extra
Por R$ 92.490 (ou R$ 7.250 a mais que o Pulse 1.6 AT) leva-se o Creta 2.0 Pulse. Além do motor mais potente, com até 166 cv a 6.200 rpm e torque de 20,5 mkgf a 4.700 rpm, o modelo ganha faróis do tipo projetor com luzes de posição e DRL de leds, faróis com iluminação lateral Cornering Light, saídas de ar-condicionado para o banco traseiro e abertura e fechamento dos vidros elétricos pela chave.
Na prática, é o mesmo conjunto mecânico do ix35 em um SUV 17 cm menor e 200 kg mais leve. O câmbio automático de seis marchas trabalha com as mesmas relações do 1.6, mas com relação de diferencial final mais longa para compensar a força extra.
Uma diferença gritante está nas respostas ao acelerador. A não ser que você goste de reduções de marcha para qualquer pressão mais forte no pedal, a reação normal será dosar o pé para aproveitar ao máximo as marchas mais elevadas – o que melhora o consumo e o conforto acústico, já que o motor trabalhará com rotações mais baixas.
O Creta 2.0 passa a sensação de ser mais vigoroso que todos os concorrentes, com exceção ao novo Chevrolet Tracker, que ganhou motor 1.4 turbo. Talvez por isso a Hyundai espere que 60% das unidades vendidas sejam do 2.0. O preço é competitivo: por R$ 92.490, ele fica na mesma faixa de Renegade Longitude 1.8 flex (R$ 90.990) e Honda HR-V EX 1.8 (R$ 93.000).