Elon Musk anda a mil. Num espaço de duas semanas, desafiou o governador da Califórnia ao desrespeitar ordens de confinamento na fábrica de Fremont; a sua empresa aeroespacial, SpaceX, lançou a primeira missão e ainda lhe sobrou tempo (e criatividade…) para batizar o seu sexto filho com o nome intrigante X Æ A-Xii Musk.
A Tesla, sua fábrica de carros elétricos, por sua vez, segue ainda em busca de mais sucesso no mercado com o lançamento do Model Y, posicionado no segmento dos crossovers compactos.
Não é de admirar que o controverso CEO sul-africano queira produzir mais unidades do Model Y no médio prazo do que das outras três séries (S, X e 3) juntas porque dispõe de uma receita vencedora: o carro oferece a funcionalidade de um SUV e o desempenho de esportivo, com preço atraente.
Este crossover custa apenas US$ 39.900 (nos EUA) na versão de entrada. Ele estará disponível em três versões. A básica terá um motor (rendimento estimado de 238 cv), tração traseira e autonomia de 400 km (bateria de 60 kWh).
Depois, a versão intermediária Long Range virá com autonomia de 505 km (graças a uma bateria de 75 kWh) e um motor em cada eixo (potência total ao redor de 350 cv).
E, finalmente, a versão Performance, equipada com a mesma bateria de 75 kWh, mas com mais rendimento (480 cv, graças a um motor dianteiro mais potente e o mesmo traseiro de 200 cv), mas com autonomia um pouco inferior, de 480 km. A capacidade das baterias é estimada, uma vez que a Tesla não divulgou números oficiais.
Tivemos a chance exclusiva de guiar o primeiro Y a rodar em estradas europeias. A unidade era uma versão Performance. No momento em que se pisa no pedal, esse Y quase dá um salto para a frente, deixando para trás tudo o que pode ser considerado crossover compacto. Mesmo os AMG e os M da vida podem se ver em apuros tendo em conta o disparo do Y, de 0 a 100 km/h em apenas 3,7 segundos.
E, embora apenas alguns SUVs movidos a gasolina nesta classe atinjam a velocidade máxima de 244 km/h, o Tesla é o único elétrico que consegue chegar lá – ainda que um pouco mais lento que o irmão Model 3 devido à aerodinâmica menos avançada e ao peso superior (2.003 kg, ou seja, 150 kg mais pesado).
Mas, para colocar essa velocidade em perspectiva, os elétricos do Grupo Volkswagen, com base na arquitetura MEB, terão uma velocidade máxima na ordem dos 180 km/h e os BMW elétricos do futuro não deverão ultrapassar os 200 km/h.
No entanto, não é apenas a velocidade que diferencia o Tesla do resto da concorrência. É também o modo como foi afinado: o Y consegue envolver mais o motorista na missão de dirigi-lo na comparação, por exemplo, com o Skoda Enyaq, que recentemente foi mostrado, ainda como protótipo, na Europa.
Enquanto o crossover elétrico tcheco foi desenvolvido para proporcionar uma qualidade de rolamento, o Tesla Y consegue mais emoções com uma afinação geral muito mais rígida do chassi (talvez até seco demais para alguns) como se fosse um esportivo puro.
Como tudo tem seu preço, talvez seja boa ideia evitar usar toda a potência de uma vez, porque cada kick-down custa imediatamente de 20 a 30 km de autonomia e, mesmo se tivermos intactos os quase 500 km na bateria, depressa vão desaparecer. Usar o modo de dirigir Chill drive, em vez do Sport ajuda.
E fará melhor escolha quem optar pela versão Long Range –porque mesmo que a autonomia adicional nessa opção seja de apenas 25 km, a verdade é que as acelerações continuam a ser muito rápidas.
A direção é bem direta (apenas duas voltas entre batentes), mas não impressiona em termos de precisão e deveria permitir entender melhor a relação das rodas com o asfalto, considerando a rapidez com que o Y engole curvas, longas ou curtas, lentas ou rápidas.
É verdade que se pode ajustar seu peso através do software, mas o modo Comfort é muito leve, o Sport é muito pesado, pelo que a afinação de série (intermédia) fornece o melhor compromisso.
E, mesmo que o Model Y não consiga dissimular o seu centro de gravidade mais alto comparado com o Model 3, é muito mais equilibrado do que o SUV grande e pesado da família, o Model X: seus movimentos de carroceria são bem contidos, mesmo a ritmos rápidos em sucessões de curvas.
E o centro de gravidade relativamente baixo ainda é capaz de ajudar a mitigar o peso total de duas toneladas deste SUV.
A arquitetura da suspensão é independente nas quatro rodas, com estrutura de alumínio. Uma característica comum a todos os Tesla, o isolamento acústico do habitáculo é mediano ou fraco, na comparação com concorrentes equipados com motores elétricos ou a combustão, de marcas premium ou generalistas.
O Y se parece com um Model 3 de teto elevado (ele é 18 cm mais alto), o que não é sem razão, uma vez que os dois compartilham 75% dos componentes e, pela primeira vez, Elon Musk mostra-se interessado em reduzir custos, compartilhando arquiteturas.
No interior, não há sinais de características revolucionárias, apesar do teto panorâmico maior e da tampa traseira elétrica. E também não há alterações substanciais nos revestimentos e acabamentos. Ou seja, mais uma vez, temos o cockpit despido e vazio, com o grande tablet (15”) no centro do painel e os poucos botões físicos existentes localizados nas portas, principalmente.
Apenas o pisca-alerta e os vidros elétricos são operados por botões, enquanto todo o resto é controlado pela central multimídia. Nada de novo ainda na qualidade percebida. Plásticos, madeiras e couro simplesmente não estão no nível do que esperamos em um carro de luxo.
O fato de terem sido acrescentados dois dedos à altura do solo e dez à linha do teto permite facilitar entradas e saídas (em vez de nos sentarmos e levantarmos ao entrar e sair do carro, basta deslizar o corpo para dentro e para fora) e melhora a visibilidade externa através dos vidros maiores.
A distância entre-eixos é quase idêntica à do Model 3 (foi aumentada em apenas 1,5 cm), mas o comprimento total foi esticado em 6 cm (para 4,75 metros). Como a altura livre aumentou, os passageiros da segunda fila podem viajar um pouco mais eretos e isso cria um espaço extra para as pernas (o mesmo ocorre com os pés, debaixo dos bancos dianteiros).
Os apoios de cabeça são um pouco baixos para os ocupantes mais altos (mesmo depois de ajustada a posição) e um reforço da estrutura localizado na traseira, já próximo do final do teto de vidro, fica bem perto da cabeça dos ocupantes. Mas, em comparação com o Model 3, os passageiros adultos conseguem ter mais conforto no banco de trás, que agora dispõe de um encosto ajustável.
E se o colocarmos ao lado de um SUV com motor de combustão com dimensões exteriores semelhantes, ou até maiores, percebemos que o Y é muito mais espaçoso (porque os sistemas de propulsão elétrica possuem muito menos componentes).
A maior diferença para o Model 3 está no porta-malas. Enquanto o sedã tem apenas uma pequena tampa e um volume de carga limitado, aqui a grande abertura com dobradiças articuladas oferece um amplo acesso a um impressionante espaço que, com o banco traseiro (tripartido), com rebatimento elétrico, chega a 1.900 litros.
Em apenas 17 anos de atividade, a Tesla (criada em 1º de julho de 2003)ultrapassou muitas montadoras de automóveis tradicionais em termos de imagem e de valor em bolsa.
Porém, por mais impressionantes que sejam as vendas do pioneiro fabricante de carros elétricos (mais de 1 milhão vendidos globalmente), ainda continua a ser uma marca de nicho em comparação com VW e Cia. Com o Model Y, seu polêmico e criativo CEO, Elon Musk, quer mudar isso.
VEREDICTO
O Tesla Y oferece versatilidade de SUV, desempenho de esportivo e preço atraente no segmento
FICHA TÉCNICA
Motor: 2 elétricos, 1 por eixo; 287 cv (diant.); 200 cv (tras.); potência total, 80 cv; torque máximo 65,3 kgfm
Baterias: íons de lítio, 75kWh
Câmbio: automático, 1 marcha, tração integral
Suspensão: duplo A (diant.)/ multibraços (tras.)
Freios: disco ventilado nas quatro rodas
Direção: elétrica
Dimensões: comprimento, 475,1 cm; largura, 192,1 cm; altura, 162,4 cm; entre-eixos, 289 cm; peso, 2.003 kg; porta-malas, 1.900 l (máximo)
Desempenho: de 0 a 100 km/h, 3,7 s; velocidade máxima, 244 km/h
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