Desde que a nova Ram 2500 chegou ao Brasil, há cerca de um ano, muitos fãs da marca criaram expectativa em torno de outra picape: a 1500. Afinal, essa irmã menor dispensa habilitação para caminhão – além das restrições de circulação e limitações de velocidade.
Mas aí vieram a alta do dólar, a pandemia da Covid-19… e, o que parecia certo, se tornou cada vez mais distante. E não é que, agora, a empresa resolveu bater o martelo?
Só que a novidade não chegará às lojas como uma opção mais acessível, já que os preços partem de R$ 429.990 – e até puxaram a 2500 para cima na tabela.
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Em relação ao tamanho, não espere que a “caçula” norte-americana seja concorrente para Chevrolet S10, Ford Ranger e VW Amarok.
Para ter ideia, com 5,92 m de comprimento, a Ram 1500 é quase 60 cm maior que uma Toyota Hilux. E, só no entre-eixos de 3,67 m, caberia um Fiat Mobi (e ainda sobrariam 10 cm de folga).
Na altura, os 2,01 m superam com facilidade até verdadeiros trambolhos, como o finado Hummer H1, sem falar que os 2,08 m de largura ultrapassam a Mercedes-Benz Sprinter.
É claro que esse latifúndio garante espaço de sobra – e não apenas para pessoas: há dois bagageiros nos para-lamas traseiros, com 103 litros cada um e até tomada de 115 V.
Dentro, há 151 litros divididos em diferentes porta-objetos, que incluem dois compartimentos sob o assoalho traseiro e um vão sob os assentos da segunda fileira.
No console central, cabe até um notebook de 15 polegadas e também há outra tomada de 115 V. E a picape ainda tem espalhados nove portas USB e um carregador sem fio.
Durante o lançamento, os executivos da fábrica insistiram em falar do apelo de luxo que a Ram 1500 terá por aqui. Por isso, a lista de equipamentos é recheada de itens que nem sequer existem na irmã maior, como o teto solar panorâmico (o head-up display chegará em breve à 2500).
E não faltam aquecimento em todos os bancos e volante, retrovisor com câmera traseira, ajuste elétrico da altura dos pedais e sistema de som da Harman Kardon de 900 W com 19 alto-falantes e subwoofer, entre outros.
Galeria de fotos – Ram 1500 Rebel
Mas é bem provável que, apesar de todos esses recursos, a principal estrela da cabine seja a central multimídia de 12 polegadas, exatamente igual àquela utilizada pela irmã maior.
Afinal, ela não controla somente funções de áudio, mas também o funcionamento e as configurações do próprio veículo, assim como ar-condicionado digital bizona.
Dividida em duas partes, permite que o usuário escolha a disposição da melhor maneira. E ainda oferece câmeras de 360 graus, além de conexão por Apple CarPlay e Android Auto.
Para quem procura vida mansa, a boa notícia é que a Ram 1500 também tem condução semiautônoma, com piloto automático adaptativo (com função Stop&Go, que permite o uso no trânsito, por exemplo), sistema de frenagem de emergência com reconhecimento de pedestres, assistente de permanência em faixa capaz de atuar diretamente na direção e assistente automático para balizas.
Para facilitar a vida na cidade, até o freio de estacionamento por pedal foi trocado por um botão.
Se o V8 5.7 Hemi é suficiente para garantir o título de picape mais potente do país, com 400 cv, também serve como calcanhar de Aquiles para a estreante. Afinal, é movido somente a gasolina. Em relação ao torque, são 56,7 kgfm (a 2500, 6.7 turbodiesel, tem 365 cv e 110 kgfm).
A fábrica diz que a novata chega aos 100 km/h em 6,4 segundos. Já o consumo pelo Inmetro é 5,6 km/l na cidade e 6,6 km/l na estrada.
E olha que, para melhorar as médias, esse modelo (que supera 2,5 toneladas) tem motor que desativa até quatro de seus cilindros e grade dianteira ativa que favorece a aerodinâmica.
Ainda que os números pareçam de esportivo, não se deixe levar por essa ideia. Na verdade, a Ram 1500 corresponde melhor às expectativas de quem procura conforto e versatilidade.
Talvez por isso o ajuste de suspensão, cerca de 2,5 cm mais alta e que tem amortecedores da Bilstein nessa configuração Rebel (única trazida ao Brasil), seja melhor para absorver buracos e imperfeições do que para conter rolagens da carroceria nas curvas.
E a direção elétrica segue a receita voltada à maciez.
Todas as respostas são progressivas e anestesiadas, como era a fórmula dos veículos norte-americanos de décadas atrás. Não há reações rápidas aos movimentos do volante, que é pouco comunicativo.
E nem mesmo a aceleração não parece tão brutal quanto a ficha técnica faz parecer.
Para completar o isolamento da cabine – não somente nas reações, mas também nas sensações que transmite aos ocupantes –, a estreante tem cancelamento ativo de ruídos e vidros dianteiros laminados.
Naturalmente, como em qualquer picape, a tendência é sair de traseira – contribuem os pneus de uso misto, piores no asfalto.
Só que o controle de estabilidade ultraconservador está sempre presente e atua para que, antes mesmo do limite da aderência, a Ram 1500 fique mais dianteira (reduzindo riscos de acidentes).
Para conseguir alguma ousadia ao volante, é preciso desligar as assistências, o que não é recomendado para o dia a dia. Foi assim que produzimos a foto queimando pneus e derrapando.
É fora de estrada que a picape realmente se destaca. Não apenas pela distância em relação ao solo de 24,9 cm, mas pela capacidade de ignorar boa parte dos obstáculos sem colocar em risco o conforto a bordo.
Já o sistema de tração nas quatro rodas, que tem as funções High e Low (essa segunda serve só para baixas velocidades), não tem diferencial central, o que limita a utilização em terra e lama, por exemplo.
E, como já é padrão, todos os acionamentos são feitos eletronicamente por botões.
Claro que há algumas incoerências para nosso mercado, como a capacidade de carga de apenas 610 kg – 40 kg menos que a Fiat Strada de cabine dupla.
Mas a caçamba também tem soluções engenhosas, principalmente para o uso no dia a dia previsto pelo fabricante no Brasil, como é o caso da tampa traseira multifuncional, que abre para baixo, como nas picapes tradicionais, e também para os lados, facilitando o acesso à parte traseira dentro de uma garagem.
Com lançamento confirmado para abril de 2021, a novata chegará, inicialmente, só com o pacote completo, Rebel.
E a marca não revela quantas unidades pretende vender ano que vem, mas vale dizer que a Ram 2500 chegou às lojas com meta de 700 unidades em 12 meses e deve fechar este ano com 1.500 emplacamentos.
Agora resta saber se o público também receberá bem uma picape movida só a gasolina pelo preço da irmã maior (referência no segmento). Se for pela CNH especial, talvez seja melhor voltar à autoescola.
Veredicto
Confortável e bem recheada, novata repete os trunfos da Ram 2500, mas esbarra no motor a gasolina e no preço próximo ao da irmã.
Ficha técnica
Preço: R$ 429.990
Motor: gasolina, dianteiro, longitudinal, V8, 16V, 5.654 cm3; 400 cv a 5.600 rpm, 56,7 kgfm a 3.950 rpm
Câmbio: automático, 8 marchas, tração 4×4
Suspensão: duplo A (dianteira) / eixo rígido com molas helicoidais (traseira)
Freios: disco ventilado (dianteiro) / disco sólido (traseiro)
Direção: elétrica,
Rodas e pneus: liga leve, 275/65 R18
Dimensões: comprimento, 592,9 cm; largura, 208,4 cm; alt., 201,2 cm; entre-eixos, 367 cm; peso, 2.610 kg; tanque, 98 l; caçamba, 1.200 l; capacidade de carga, 610 kg
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