Impressões: Volvo S60 é o melhor sedã alemão que não vem da Alemanha
Modelo importado dos EUA volta ao Brasil superando seus rivais de Audi, BMW e Mercedes em desempenho e equipamentos
No papel, a terceira geração do Volvo S60 tem atributos de sobra para superar a concorrência germânica. Em todas as versões ele supera ou equipara potência, equipamentos e desempenho do Audi A4, Mercedes Classe C e do novo BMW Série 3.
Isso elevou as expectativas para nosso primeiro contato com o carro, em Santiago (Chile). O modelo chega nos próximos dias aos 36 concessionários da Volvo em quatro versões, todas com motor 2.0 turbo.
A gama começa na T4 Momentum (R$ 195.950) de 190 cv, passa pela T5 Inscription (R$ 229.950) de 254 cv e termina na T8 híbrida, que pode ter 407 cv no pacote R-Desing (R$ 269.950) e chega a 420 cv na variante Polestar, única sem preço revelado.
QUATRO RODAS pôde avaliar as versões T5 e T8 em um trajeto de 260 km misturando ruas, estradas e a pista de corrida do autódromo de Codegua.
Quase completo
Brigar com uma concorrência consolidada e tradicional exige oferecer mais por menos. Então a Volvo tratou de rechear seu sedã médio com um amplo pacote de equipamentos, com destaque para os recursos de tecnologia semiautônoma.
No entanto, há detalhes inusitados na divisão dos itens de série entre as versões.
Todo S60 no Brasil terá controlador de velocidade adaptativo com frenagem autônoma de emergência (EAB) e assistente de manutenção de faixa de série. O alerta de tráfego cruzado, porém, vem apenas nas versões Inscription e superiores.
Esse sistema, presente em modelos como Chevrolet Cruze e Volkswagen Tiguan, normalmente exige os mesmos sensores que alertam a presença de veículos no ponto cego, chamado de Blis nos modelos Volvo.
E, como o Blis do S60 é oferecido apenas nos pacotes a partir do Inscription, o alerta de tráfego cruzado veio a tiracolo.
Mais exótica é a ausência de uma simples chave presencial na versão de entrada T4, que será responsável por 40% das vendas. Quer abrir seu S60 novo sem precisar revirar os bolsos? Só se desembolsar quase R$ 230.000.
Felizmente, frugalidades (para o segmento) como sensores de estacionamento, bancos dianteiros elétricos, faróis em leds e sistema multimídia vêm sempre de série.
Os S60 T5 e T8 adicionam, além dos itens citados acima, teto solar elétrico panorâmico, bancos dianteiros com ventilação e aquecimento, faróis direcionais com facho alto automático e sistema de som Harman Kardon de 800W.
Fazem falta o ar-condicionado digital de quatro zonas (o padrão é duas) e a tomada de 220V para o banco traseiro. Mas, considerando as outras virtudes do S60, esses detalhes ficam pequenos – ao contrário das medidas do sedã.
Poderosos centímetros
O novo S60 ganhou 9,6 cm só de entre-eixos. Também houve ganhos no comprimento (12,6 cm), largura (2,5 cm) e porta-malas, com 62 litros a mais.
O reposicionamento dos bancos fez com que não houvesse perda de espaço para a cabeça, mesmo com o teto 5,3 cm mais baixo.
O mérito é da plataforma modular Spa, versátil a ponto de ser usada até o enorme XC90.
Com isso, o sueco supera os rivais germânicos em diferentes quesitos, ainda que se equipare à tríade alemã no inevitável túnel central elevado, necessário para as versões de tração integral convencionais – por aqui, o único S60 que envia força às quatro rodas é a híbrida plug-in T8.
No interior, também houve um crescimento generoso nas telas do quadro de instrumentos digital e do sistema multimídia. Este último, aliás, é o excelente Sensus já presente nos outros modelos da Volvo.
Sua tela capacitiva de alta resolução tem orientação vertical, o que facilita o intuitivo manuseio do sistema pelo motorista.
Triplo DNA
Entender o propósito do S60 exige uma contextualização de suas origens. O S60 foi desenvolvido pelos suecos de olho em um segmento dominado por alemães.
Apesar disso, a marca teve um cuidado especial em agradar o público americano, montando, inclusive, uma fábrica só para ele na Carolina do Sul.
Isso explica, por exemplo, a ótima ergonomia dos principais comandos no painel, característica com impacto direto na segurança.
Em todos os Volvos modernos, mudar a música ou ativar algum sistema semiautônomo não leva mais de dois segundos.
O acabamento é impecável, como se espera de qualquer sedã premium na faixa de R$ 200.000.
O requinte é reforçado pela iluminação ambiente, teto-solar amplo e uso de materiais nobres mesmo na versão Momentum. Mas a rígida suspensão que geralmente equipa os três-volumes alemães não se repete no S60 T5 e T8.
Não que ele seja mole: em relação ao Toyota Camry, o Volvo é quase um esportivo. Mas dá para encarar a buraqueira padrão das ruas brasileiras sem o desconforto de um 330i, por exemplo.
Aliás, dentro da régua “ABM” (Audi, BMW e Mercedes), o S60 fica entre o neutro A4 e o macio C200.
Na pista isso se torna um revés, já que é mais difícil apontar a dianteira em curvas rápidas, apesar das barras estabilizadoras fazerem um excelente trabalho para conter a rolagem da carroceria.
Mas como o S60 será usado a maior parte do tempo na cidade, a calibragem do conjunto independente nas quatro rodas está mais do que adequada.
A dianteira poderia mergulhar um pouco menos em frenagens intensas, mas isso só será um problema para quem freia em cima da hora em valetas e lombadas.
Se nesse quesito as versões T5 e T8 pouco se diferenciam, no fator desempenho a coisa muda de figura – se você andar no modo dinâmico.
Nessa situação o T8 entrega um ritmo empolgante, respondendo rapidamente a cada pisada no acelerador e transformando a tensão de cada ultrapassagem em um momento divertido da viagem.
Não que o T5 seja lento: seus 254 cv são mais do que o suficiente para o uso diário, e apenas motoristas mais exigentes vão sentir falta da tração integral e dos 153 cv que separam a dupla.
Mas, para quem tem interesse (e condições) em gastar mais R$ 40.000, e não está tão ansioso assim, nossa recomendação é esperar pela versão Polestar, de 420 cv, com calibração esportiva e lançamento previsto para o último trimestre deste ano.
E depois?
Os investimentos da Volvo no pós-venda já começaram a surtir efeito para a marca no Brasil. O número de concessionários vem crescendo gradualmente, e chegará a 38 pontos até o final do ano.
Segundo a empresa, isso já cobre 99% dos mercados onde ela atua. A filial da empresa na região, aliás, passa a responder por todas as operações da Volvo na América Latina e Caribe.
A garantia do S60 é de dois anos, como a concorrência, mas suas revisões a preço fechado até 50 mil km totalizam R$ 7.445, abaixo de Classe C (R$ 8.450) e A4 (R$ 9.429).
A proteção de fábrica pode ser estendida em um (R$ 2.965) ou dois anos (R$ 5.645), sendo que o serviço de concierge OnCall é gratuito nesse período.
Veredicto
A revolução promovida no S60 deixa claro que a Volvo não pretende ser coadjuvante da festa dominada até o momento pelos alemães.
Seu comportamento não é tão arisco quanto o de um BMW, o que pode ser uma virtude em nosso mercado, onde o macio Classe C vende quase 50% mais que seu rival de Munique.
Com um pacote de equipamentos superior a seus rivais e uma crescente rede de concessionários, o S60 tem potencial para ser um ponto de virada para a marca no segmento no Brasil.
Ficha técnica – Volvo S60 T5 Inscription
- Motor: gasolina, dianteiro, transversal, 4 cilindros, 1.969 cm³, 16V, turbo, injeção direta, 82,0 x 93,2 mm, 10,8:1, 254 cv a 5.500 rpm, 35,7 mkgf a 1.500 rpm
- Câmbio: automático, 8 marchas, tração dianteira
- Suspensão: McPherson (dianteira), multibraço (traseira)
- Freios: disco ventilado (dianteira e traseira)
- Direção: elétrica, 11,3 m (diâmetro de giro)
- Rodas e pneus: 235/40 R19
- Dimensões: comprimento, 476,1 cm; largura, 185 cm; altura, 143,1 cm; entre-eixos, 287,2 cm; peso, 1.850 kg; tanque, 55 litros; porta-malas, 442 litros
- Preço: R$ 229.950
- Desempenho: 0 a 100 km/h em 6,5 s; vel. máx., 240 km/h (dados oficiais)