O plano do governo está dando certo até agora, ao menos no sentido de estimular o desenvolvimento da indústria automotiva local. As chinesas JAC e Chery, por exemplo, aceleram o quanto podem a construção de suas fábricas – respectivamente, em Camaçari (BA) e Jacareí (SP). Para não perder tempo quando chegar a hora de ativar as prensas e os robôs no Brasil, em 2014, ambas apresentam agora versões próximas dos carros que irão inaugurar suas linhas de montagem. O J3 receberá ainda este ano um face-lift, enquanto o Celer deve aproveitar o tempo até lá para evoluir em qualidade de materiais e montagem. Numa espécie de avant-première, J3 e Celer dão a partir de agora uma prévia da competição que pode acontecer no futuro.
2º Chery Celer
QUATRO RODAS avaliou o Celer pela primeira vez na edição de novembro de 2010. À época, o nome do carro (Fulwin) era provisório, mas o conjunto mecânico, com motor 1.5 e câmbio manual de cinco marchas, estava definido. As maiores mudanças, no entanto, ficaram nos bastidores. O antigo importador da marca saiu de cena. Em seu lugar, entrou a própria Chery.
Ao assumir as operações no Brasil, a Chery fez algumas alterações no projeto, as principais delas na cabine. Das três ilhas de informação isoladas (duas à frente do volante e uma voltada para o passageiro) que tomavam o painel, sobrou apenas o principal, diante do motorista. Tanto o botão giratório dos faróis como o grafismo e disposição dos instrumentos do painel lembram o dos Volks dos anos 90.
Plásticos e tecidos trocaram o bege-claro por alguns tons de cinza, mais ao gosto do brasileiro. Os plásticos, no entanto, pedem mais evolução: a unidade avaliada apresentava alguns com rebarba ou empenamento decorrente de encaixes mal projetados. Nessa lista de itens a evoluir é preciso incluir bancos (duros e com ajustes um tanto travados), pneus (ruidosos, da marca chinesa Giti) e pedais (assim como os do velho Fulwin, são muito altos).
Ao suspender os dois chineses no elevador, o especialista Alberto Trivellato, da Suspentécnica, disse: “A suspensão do Celer é muito parecida com a dos Golf mais antigos. É simples, mas é tão robusta e eficiente que ainda hoje é aplicada em modelos menos sofisticados. A do J3 é ainda mais antiga. A dianteira lembra a do Renault 21 e a traseira a do Escort, ambos projetos dos anos 80”.
Quanto aos equipamentos, a boa receita chinesa de sempre: tudo é de série – ar-condicionado, direção hidráulica, trio elétrico, som, ABS e airbag duplo. O Chery Celer já está à venda, por 35 990 reais (hatch) e 36 990 reais (sedã).
DIREÇÃO, FREIO E SUSPENSÃO
A direção é um pouco pesada e o pedal do freio, muito alto, exige tempo para adaptação.
★★★
MOTOR E CÂMBIO
O motor é o destaque negativo do Celer. O câmbio, pouco preciso, também limita o prazer de dirigir.
★★★
CARROCERIA
O design do Celer agrada. Há poucos parafusos aparentes. A qualidade da pintura é inferior à da do rival.
★★★★
VIDA A BORDO
Todos os Chery têm um cheiro característico de plástico – e ele não é agradável. O espaço para pernas e cabeça é ligeiramente maior que o do J3.
★★★
SEGURANÇA
O teste de colisão do China NCap utilizou a versão sedã do Celer, mas os resultados após a colisão frontal valem para o hatch.
★★★★
SEU BOLSO
O Celer tem cinco anos de garantia, ante seis do J3. O modelo brasileiro estreia no primeiro semestre de 2014. Ou seja, há muito trabalho pela frente.
★★★
1º JAC J3
O J3 dava sinais de que iria nadar de braçada em nosso mercado. Lançado em março de 2011, sacudiu o segmento dos compactos, deflagrando uma queda geral de preços. O J3 também fez bonito enquanto integrou a frota de Longa Duração de QUATRO RODAS, revelando uma manutenção de custo aceitável e feita por uma rede cordial e eficiente. Mas aí vieram as nuvens. Alta do dólar, novas regras para importados e, mais recentemente, um péssimo resultado no teste de impacto no Latin NCap, de onde saiu com apenas uma estrela – dentro de cinco possíveis. Mas nem assim o J3 é carta fora do baralho.
Ao volante, o JAC é mais agradável do que o Celer em vários aspectos. Nas curvas, sua carroceria não rola tanto quanto a do rival e o motor tem funcionamento mais suave. Ou seja, a engenharia local da JAC conseguiu dar à suspensão um acerto mais sintonizado às necessidades do brasileiro, apesar da concepção mais antiga que a do Chery. O motor do J3 é muito mais moderno, com partida a frio por aquecimento nos bicos injetores e duplo comando de válvulas no cabeçote com variador de fase – o do Celer tem tanquinho no cofre do motor e o comando, apesar do cabeçote multiválvulas, é simples e fixo. Com tanta diferença, o nível de potência ficou em patamares bem distintos: 127/125 cv no J3 e 108 cv no Celer, tanto com etanol quanto com gasolina.
No acabamento, nova vantagem do JAC, decorado com mais esmero na escolha dos materiais e principalmente na montagem. Superior na pista e no acabamento e mais harmonizado com o motorista, o J3 sai vitorioso por uma vantagem que o Celer conseguiu reduzir ao obter um ótimo resultado no crash-test do China NCap: quatro estrelas. Por enquanto, o motor 1.5 é exclusivo do J3 hatch, de 37 490 reais.
DIREÇÃO, FREIO E SUSPENSÃO
A suspensão do JAC J3 tem melhor compromisso entre desempenho e conforto do que a do Celer.
★★★☆
MOTOR E CÂMBIO
Motor tem mais pegada, bebe menos e é mais suave e silencioso que o do concorrente.
★★★★
CARROCERIA
A geração brasileira não deverá ter grandes mudanças estruturais, uma vez que utilizará a mesma plataforma do J3 atual.
★★★☆
VIDA A BORDO
A ergonomia é boa, mas o acionamento da trava do sistema de ajuste de altura do volante é duro e para subir os retrovisores elétricos é preciso apertar o botão para baixo. E vice-versa.
★★★
SEGURANÇA
As frenagens são mais equilibradas no JAC que no Chery, mas o péssimo resultado no teste de impacto acendeu a luz de alerta.
★★★
SEU BOLSO
A expectativa da chegada de uma versão remodelada não fará bem à atual. Ainda assim, o J3 é melhor compra que o Celer.
★★★☆
VEREDICTO
A diferença de desempenho nos testes de segurança a favor do Celer por pouco não tirou a vitória do J3 – ele só chegou lá porque a JAC soube sanar seus defeitos mais evidentes. Com temas importantes a resolver, nenhum dos dois é bom negócio.
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