A indústria motociclística, ainda muito lentamente, começa a oxigenar o vácuo existente entre as motos de 300 e 600 cc no mercado brasileiro desde o fim da Honda CB 500, que havia saído de linha em 2004, e da Suzuki GS 500. Esta saiu de linha em 2005 e voltou a ser comercializada em 2007, mas por apenas um ano, até desaparecer como modelo 2009, embora produzido em 2008. A simpática coreana Kasinski Comet GT 650 não preenche esse perfil em termos de cilindrada do motor. Já o preço, ah, esse sim está exatamente no lugar.
Mesmo sem ter design e nível de acabamento da Kawasaki ER-6n, sua concorrente direta em termos de projeto e pacote técnico (ambas têm motor bicilíndrico refrigerado a água de 650 cc, câmbio de seis marchas e chassi tubular de aço), a Kasinski tem desenho contemporâneo e custa custa 21.390 reais na versão 2012/13, contra os R$ 23.990,00 da japonesa. A versão 2012/12 é encontrada pelo mesmo valor da Honda Falcon 400, que foi relançada por cerca de 17.000 reais. A ER-6n é mais bonita e bem-cuidada, mas tem apenas 72,1 cv de potência máxima, contra 81,5 cv da Comet. A coreana tem 9,4 cv a mais.
No segmento, a também bicilíndrica (com seis marchas e chassi tubular) NX 700 da Honda (27 490 reais) corre por fora. Além de muito mais cara – 6100 reais são significativos -, tem apenas 52,5 cv de potência máxima em 669,6 cc. A Comet tem 29 cv a mais de potência, mais que uma CB 300 de lambuja. Cá pra nós, 35% de potência a mais é uma diferença e tanto…
Mas a vida no Brasil é dura: quer apostar qual vai vender mais? É claro que há outros fatores envolvidos, subjetivos, como peso e imagem da marca, além de outros bem objetivos, como confiabilidade, durabilidade e – talvez o mais crítico – valor de revenda, parâmetros que um simples teste como este não é capaz de aferir. Seria preciso para tanto a realização de um teste de longa duração, como os que a revista QUATRO RODAS faz com os carros.
A Comet GT 650 é mecanicamente idêntica à versão carenada GTR 650. Ambas têm motor V2 Hyosung – que nasceu há mais de uma década como um projeto Suzuki. É pesado, porém confiável. Tem duplo comando no cabeçote, quatro válvulas por cilindro, refrigeração a água, injeção eletrônica e rende bons 81,5 cv a 9250 rpm. Como todo V2, tem bom torque, oferecendo 6,9 mkgf a 7250 rpm. A NC 700X tem 6,4 mkgf e a ER-6n tem 6,7.
CAMISETA REGATA
Ela não só perdeu a carenagem como ganhou guidão mais alto. Na GT 650, as costas não ficam dobradas e os braços também não têm que sustentar todo o peso do corpo como na versão esporte. Ela ficou mais urbana, mais confortável, e não perdeu nada da esportividade oferecida pelo motor.
O painel é completo, os freios são superdimensionados e as suspensões, eficientes. As bengalas dianteiras invertidas (as únicas entre as rivais) contam com regulagens de compressão – e o amortecedor traseiro também pode ser ajustado.Todavia, boa parte do mérito da boa ciclística da Comet GT 650 deve-se aos pneus Metzeler Sportec. Eles oferecem excelente poder de frenagem, são eficientes no molhado e garantem aderência suficiente nas curvas, em sintonia com a boa potência.
As traves superiores do quadro são de aço. A ponteira de escape é grande e pesada e isso colabora para os 193 kg a seco. Mesmo assim, a NC 700X pesa 202 kg, 9 a mais – a Kawasaki declara o peso em ordem de marcha (200 kg), o que dificulta a comparação, mas faz prever um peso a seco pouco abaixo do da Comet. A Comet marcou 6,3 segundos para acelerar de 0 a 100 km/h e atingiu quase 180 km/h de velocidade máxima na pista. Em termos de dirigibilidade, ela esterça pouco, inconveniente no trânsito. O câmbio da Kasinski também não é dos melhores: os engates são imprecisos.
De qualquer modo, levar o V2 de 650 cc mais potente, mais rodas de liga, duplo disco de freio na dianteira, suspensões invertidas e ser capaz de atingir 180 km/h pelo menor preço não deixa de ser uma ideia sedutora. Em outubro havia modelos 2012/12 em oferta por 18500 nas revendas.
TOCADA
Com o guidão alto instalado em cima da mesa, ela é muito mais confortável que sua irmã com carenagem completa.
★★★★
DIA A DIA
Uma boa opção para quem precisa se deslocar por rodovias para ir ao trabalho. Vai bem na cidade e melhor ainda na estrada.
★★★★
ESTILO
Lembra uma famosa italiana de meia-idade. Claramente inspirada nas primeiras Ducati Monster, ainda chama atenção.
★★★
MOTOR E TRANSMISSÃO
Tem todas as boas qualidades de um V2, que, além do torque exuberante, faz a moto ser estreita e equilibrada. O câmbio poderia ser mais macio e bem sincronizado.
★★★
SEGURANÇA
Os pneus trabalham bem, em conjunto com o superdimensionado conjunto de freios. Bom sistema de iluminação, com farol de boa luminosidade e lanterna traseira com leds.
★★★★
MERCADO
Ela era mais barata, custava 19 990 reais há um ano. Quem sabe negociando na revenda?
★★★★