Longa Duração: o desmonte do Jeep Compass Longitude 4×4 diesel
60.000 km depois, é chegada a hora de o SUV campeão de vendas no Brasil em 2018 mostrar do que é capaz, peça por peça
Desde 1997, quando a picape Ford F-1000 foi desmontada, o Longa Duração não tinha um carro movido a diesel. Exatos 20 anos depois, em 2017, o Jeep Compass Longitude 4×4 encerrou o jejum. Nosso Compass chegou carregado de respostas a dar.
Seu desempenho (no dia a dia e no desmonte) seria melhor que o do Renegade? A performance off-road seria a de um autêntico Jeep? As revisões a cada 20.000 km dariam conta do recado? Eis as respostas. Antes, confira um vídeo com a apresentação do SUV desmontado, peça por peça.
Se no Renegade 1.8 de Longa Duração (desmontado em dezembro de 2016) a letargia em acelerações e retomadas foi a principal reclamação dos usuários, no Compass esses mesmos dois itens foram justamente os pontos mais elogiados.
A suspensão, apesar da necessidade de reapertos por conta do barulho em quase todas as visitas à rede, também se mostrou melhor que a do irmão menor.
Nossa confiança no Compass, no entanto, foi levemente abalada por dois pequenos problemas. Primeiro, foi o lampejo involuntário do facho alto. Acionado pela alavanca da seta, bastava sinalizar para a esquerda ou direita para o farol alto piscar.
Na estrada, isso é um problema nas ultrapassagens, pois o lampejo acontecia após o carro da frente ceder passagem. Acumulamos muitos olhares de reprovação nessa fase.
Presenciamos ainda três episódios de apagão conjunto da central multimídia e do painel de instrumentos: sem nenhum motivo aparente, ambos desligavam, voltando a funcionar normalmente após alguns segundos.
Relatamos os problemas repetidas vezes à rede e obtivemos sempre as mesmas respostas: “A alavanca de seta é assim mesmo. Sobre o painel, fizemos uma varredura na central eletrônica e não encontramos nenhum registro de erro. Mesmo assim, aplicamos o software mais recente”.
O segundo problema atingiu o câmbio de nove marchas do SUV.
Nas descidas em velocidade reduzida, bastava um leve toque no acelerador para um tranco na transmissão assustar o motorista. Com o tempo – e três reclamações junto à rede Jeep –, o problema finalmente desapareceu.
Logo no início da jornada dos 60.000 km, submetemos o Compass a um tira-teima na terra. Para isso, chafurdamos na lama, em um dia de muita chuva, com cinco ocupantes a bordo e suas respectivas bagagens lotando o porta-malas.
Na ocasião, depois de provar diferentes modos de tração, o motorista do Compass disse: “O seletor no console é muito intuitivo e fácil de operar. Mesmo no 4×4 normal, sem reduzida, o SUV subiu a ladeira enlameada sem dificuldade alguma e absolutamente sob controle. Uma picape 4×2 talvez subisse, mas exigiria muito mais habilidade e esforço do motorista”.
Quanto à vida a bordo, o uso ao longo dos 60.000 km rendeu muito mais elogios do que críticas.
Adquirido com o pacote Premium, que inclui um upgrade no sistema de áudio, com alto-falantes da marca americana Beats, o sistema de som se destacou positivamente entre os 21 motoristas que se revezaram ao volante do Compass.
À exceção de um ruído junto à coluna B, resolvido logo na primeira visita à rede autorizada, aos 10.000 km, nenhum outro apontamento relevante foi registrado no diário de bordo.
O convívio nos deu a possibilidade de descobrir alguns segredos do SUV. Nunca entramos numa situação em que fosse necessário o seu rebocamento.
Felizmente, pois (ao contrário do que as tampinhas removíveis das capas dos para-choques levam a crer) ele não tem roscas nas barras dos para-choques para acoplamento de terminais de reboque.
Consultada à época de nossa descoberta, a FCA não respondeu ao nosso pedido de explicação.
Mais recentemente, uma fonte ligada à marca disse que em alguns mercados o Compass oferece o sistema de rosca fêmea embutida na estrutura do SUV e que o terminal é um dos itens de série.
Só não soube dizer por que o item ficou de fora no Brasil e as tampinhas permaneceram incorporadas às capas de para-choque.
Na estrada, a boa capacidade de contorno de curvas foi outro destaque positivo ao longo do teste. Mérito da suspensão, que, apesar da necessidade de constantes reapertos por conta do barulho de funcionamento, sempre se mostrou bem calibrada.
No entanto, na revisão dos 40.000 km, o par de amortecedores dianteiros foi condenado.
Sem sinais de mau uso, disseram que a troca seria feita em garantia. Após 39 dias de espera – por não comprometer a segurança, o SUV continuou rodando nesse período –, a concessionária fez a susbstituição do jogo completo.
“Como a marca dos amortecedores originais (Tenneco) era diferente da dos novos (Cofap), a fábrica optou pela troca do conjunto inteiro”, disse o técnico.
Ainda falando da rede autorizada Jeep, tivemos o maior gasto durante a parada dos 50.000 km. Na ocasião, trocamos as pastilhas de freio dianteiras e pagamos uma conta de R$ 1.057.
No geral, as concessionárias da marca mostraram alguma evolução na qualidade dos serviços em relação ao que vimos durante o teste do Renegade, mas ainda há o que melhorar.
Erraram algumas vezes no rodízio de pneus e poderiam ter se mostrado mais interessadas em resolver de maneira definitiva o apagão do painel, dos ruídos de suspensão e dos trancos no câmbio, problemas que só deixaram de nos incomodar na segunda metade da jornada.
Perguntas e Respostas
Os sistemas ligados aos três itens campeões de reclamação receberam atenção especial no desmonte.
Nosso consultor técnico, Fabio Fukuda, constatou: “O sistema elétrico, com chicotes bem isolados e presos, conectores firmes e isentos de sinais de oxidação levam a crer que os apagões da tela e do painel e os trancos do câmbio tinham a ver com softwares de gerenciamento, afinal tudo havia voltado à normalidade na reta final do teste”.
Quanto à suspensão, o veredicto foi outro. “Reaperto geral, de fato, costuma eliminar ruídos, mas ao tomar ciência de que o barulho sempre voltava, a rede deveria ter se aprofundado na investigação. É provável que a troca dos amortecedores, decretada apenas aos 40.000 km, devesse ter sido executada antes”, avaliou Fukuda.
Com números de desempenho próximos entre o primeiro e o segundo teste – realizados, respectivamente, aos 1.000 e 60.000 km –, a expectativa era de encontrar tudo certo no motor. E assim foi.
Seguindo o nosso padrão, a pressão de compressão dos cilindros foi aferida por três vezes nos quatro cilindros, para obtenção de uma média confiável.
Apesar de a Jeep não divulgar o número mínimo tolerado, a média nos cilindros 1, 2, 3 e 4 (301,33/300,66/ 302,66/306,66 psi) ficou muito próxima à do valor nominal considerado pela fábrica (304 a 362 psi).
Ou seja, aos 60.000 km, o motor do nosso Compass está com saúde similar à de um recém-saído da linha de montagem.
Fukuda também aferiu os cilindros (diâmetro, conicidade e ovalização) e os pistões (diâmetro, folga em relação ao cilindro, e folga de entre-pontas dos anéis).
“Tudo estava dentro dos parâmetros tolerados pela Jeep. Só não posso afirmar o mesmo quanto à folga entre os pistões e os cilindros, pois os valores de referência não constam no manual de reparação”, analisou.
Na desmontagem das suspensões, buchas de bandejas, pivôs, amortecedores e mancais da barra estabilizadora foram encontrados em ótimo estado de conservação, assim como os elementos da direção (caixa, terminais e barras axiais).
Apenas as ligações da barra estabilizadora se mostraram com folga além do ideal, sobretudo a do lado direito.
Na reta final do teste, apontamos os rolamentos de roda como prováveis causadores de um ruído que aumentava de intensidade consoante à velocidade.
Mas eles eram inocentes. “Testei cada rolamento e o ruído não se repetiu. Logo, os pneus desgastados assumem o posto de suspeitos número um”, afirmou Fukuda.
No limite legal de desgaste (1,6 milímetro), os pneus merecem atenção especial por parte dos donos de Compass.
Em vez de seguirmos o plano de manutenção oficial, com revisões a cada 20.000 km, decidimos fazer uma parada extra entre as revisões, mantendo o padrão do Longa Duração de fazer alinhamento, balanceamento e rodízio a cada 10.000 km.
Não fosse essa medida – além da correção dos rodízios mal executados pela rede Jeep –, os pneus teriam sucumbido bem antes dos 60.000 km, o que significaria um gasto de cerca de R$ 2.500 com um jogo novo.
Com pastilhas dianteiras trocadas aos 50.000 km, o sistema de freio, como era de se esperar, foi encontrado em perfeito estado no desmonte.
Com base na curva de desgaste e na espessura dos discos dianteiros apurados por Fukuda, podemos concluir que estes componentes precisariam ser substituídos aos 70.000 km.
Ou seja, os discos não suportam nem sequer dois ciclos completos de pastilhas, o que encarece o custo de manutenção.
Fica a nossa sugestão para a fábrica optar por um disco mais durável ou que instrua sua rede a recomendar a troca do conjunto completo (disco e pastilha) quando a manutenção for necessária.
Como de praxe, o câmbio automático teve o lubrificante analisado por Fukuda.
“Isento de partículas metálicas e com coloração, odor e viscosidade absolutamente normais, não há motivo para abrir a caixa”, constatou o técnico, que fez a mesma rigorosa vistoria nos diferenciais.
Levantou poeira
Na análise da carroceria, certa decepção. Apesar do bom nível de acabamento e da larga aplicação de massa seladora nas junções e soldas de chapas, a poeira invadiu o habitáculo.
“Uma pena, pois a quantidade de material isolante é sem dúvida a maior que já vi em um carro de Longa Duração. Ao menos não encontramos nenhum sinal de invasão de água”, comentou Fukuda.
Ostentar a marca Jeep não entrega ao Compass apenas status, robustez e tradição.
Dá a ele também a obrigação de não apresentar apagões elétricos, mau funcionamento de uma simples alavanca de seta, ruídos nas suspensãoes e, muito menos, idas e vindas à rede de assistência para sanar, sem sucesso, estes mesmos problemas.
Mas é justo destacar também a qualidade de rodagem, o acabamento convincente e o powertrain confiável e bem acertado.
No fim das contas, o bicampeão brasileiro de vendas entre os SUVs (2017 e 2018) também fez bonito por aqui e se despede da nossa frota de Longa Duração aprovado.
Veredicto QUATRO RODAS
A comparação da passagem dos SUVs da Jeep pelo Longa Duração deixa duas certezas: a de que o Compass foi melhor do que o Renegade e também a de que a marca ainda tem um pouquinho para aprimorar no produto e na rede de assistência.
Folha Corrida
Tabela de Preço
- Em setembro de 2017 – R$ 149.330
- Atual (modelo usado) – R$ 122.559
- Atual (modelo novo) – R$ 166.190
Quilometragem
- Urbano – 13.882 km (23%)
- Rodoviário – 46.515 km (77%)
Total – 60.397 km
Combustível
- Em litros – 4.919,20
- Em reais – 17.867,71
- Consumo médio – 12,3 km/l
Manutenção (revisão/alinhamento)
- 10.000 km – Sinal – R$ 270
- 20.000 km – Caltabiano – R$ 882/R$ 240
- 30.000 km – Fattore – R$ 240
- 40.000 km – Amazonas – R$ 1.360/R$ 170
- 50.000 km – Sinal – R$ 185
Extras (essenciais)
- Pastilha de freio – R$ 1.057
- Filtro de cabine – R$ 63
Extras (acidentais)
- Franquia de vidro – R$ 640
Custo por 1.000 km
- Combustível – R$ 295,84
- Revisões – R$ 37,12
- Alinhamento – R$ 18,30
- Extras (essenc.) – R$ 18,54
- Total – R$ 369,80
Ocorrências
- 6.773 km – Suspensão dianteira ruidosa
- 8.429 km – Ruído na coluna B, lampejo involuntário do farol
- 14.893 km – Tranco no câmbio
- 10.204 km – Apagão no painel
- 18.111 km – Apagão no painel, lampejo involuntário do farol
- 27.126 km – Atingido por uma pedra, para-brisa é trocado
- 29.857 km – Suspensão dianteira ruidosa
- 39.834 km – Tranco no câmbio, suspensão dianteira ruidosa
Testes
1.207 km | 60.031 km | Diferença | |
Aceleração de 0 a 100 km/h |
12,2 s |
12,1 s | 0,82% |
Aceleração de 0 a 1.000 m | 33,7 s / 151,9 km/h | 33,6 s / 153,6 km/h | 0,29% / 1,12% |
Retomada de 40 a 80 km/h | 5,6 s | 5,4 s | 3,57% |
Retomada de 60 a 100 km/h | 7,1 s | 6,9 s | 2,82% |
Retomada de 80 a 120 km/h | 9,3 s | 9,2 s | 1,07% |
Consumo urbano | 12,8 km/l | 13 km/l | 1,56 % |
Consumo rodoviário | 15,9 km/l | 16,2 km/l | 1,89% |
Ruído interno (neutro/RPM máx.) | 43,8/68,4 dBA | 46,6/67,8 dBA | 6,39% / 0,88% |
Ruído interno (80/120 km/h) | 61,4/65,5 dBA | 61,5 dBA/67,4 dBA | 0,16% / 2,90% |
Ficha técnica – Jeep Compass Longitude 2.0 4×4 diesel
- Motor: diesel, turbo, dianteiro, transversal, quatro cilindros em linha, 1.956 cm³, 16V, 83,0 x 90,4 mm, 16,5:1, 170 cv a 3.750 rpm, 35,7 mkgf a 1.750 rpm
- Câmbio: automático, sequencial, nove marchas, tração 4×4.
- Direção: elétrica, 2,6 voltas, 11,3 m (diâmetro de giro)
- Suspensão: indep., McPherson (diant.), indep., McPherson (tras.)
- Freios: disco ventilado (diant.), disco sólido (tras.)
- Pneus: 225/55 R18 Peso: 1.717 kg
- Peso/potência: 10,10 kg/cv
- Peso/torque: 48,10 kg/mkgf
- Dimensões: compr., 441,6 cm; larg., 181,9 cm; alt., 164,5 cm; entre-eixos, 263,6 cm; alt. livre do solo: 218 cm; porta-malas, 410 litros; tanque, 60 litros
O confronto com quem já passou pelo Longa Duração
Renegade 1.8 – Out/2016
Custo por 1.000 km*
- Combustível – R$ 381,24
- Revisões – R$ 45,56
- Alinhamento – R$ 19,83
- Extras – R$ –
- Total – R$ 446,63
Audi a3 1.4 T – mai/2017
Custo por 1.000 km*
- Combustível – R$ 348,35
- Revisões – R$ 44,73
- Alinhamento – R$ 19,47
- Extras – R$ 27,26
- Total – R$ 439,81
Cruze 1.4 T – jan/2018
Custo por 1.000 km*
- Combustível – R$ 320,54
- Revisões – R$ 37,69
- Alinhamento – R$ 13,52
- Extras – R$ 33,18
- Total – R$ 404,93
Creta 2.0 – Ago/2018
Custo por 1.000 km*
- Combustível – R$ 420,69
- Revisões – R$ 39,67
- Alinhamento – R$ 13,74
- Extras – R$ 3,57
- Total – R$ 477,67