Mercedes-Benz Classe E: férias de luxo para o motorista
Com o novo Classe E, o mundo chega o mais perto do conceito de carro autônomo. Ele acelera até os 210 km/h na estrada e ainda muda de faixa sozinho
O veículo da frente está se aproximando rapidamente. E meu carro continua acelerando, até alcançá-lo. Eu apenas dou a seta para a esquerda e não faço mais nada: como se tivesse vida própria, o volante gira sozinho e calmamente o belo sedã vermelho sai de trás do retardatário e completa a ultrapassagem. E nesse processo todo não precisei nem tocar na direção. Ficou impressionado? Eu também. Bem-vindo à décima geração do Mercedes-Benz Classe E, o automóvel de série mais avançado do mundo em termos de condução autônoma – e ele só não faz mais por falta de legislação de trânsito específica.
Esse prodígio da tecnologia que acabei de usar no lançamento mundial do Classe E, em Portugal, atende pelo nome de Drive Pilot. Entre outras tarefas, o recurso permite que o sedã circule numa rodovia a velocidades de até 210 km/h sem que o condutor segure o volante ou pise no acelerador ou no freio.
Depois de ativar o sistema, numa haste à esquerda do volante, resolvi definir uma velocidade de cruzeiro de 180 km/h e entrei na autoestrada. Instantes depois, retirei as mãos do volante. A velocidade aumentou até os 120 km/h, mas não foi além. Claro, afinal este Classe E é inteligente, já que ele é capaz de saber qual é o limite de velocidade legal nas rodovias em que trafega.
Ao me aproximar de um veículo mais lento, meu Classe E logo reduziu para a mesma velocidade desse carro, mantendo-se a uma distância predefinida. E não parou aí: ele acompanhou a leve curva da estrada que apareceu em seguida, mantendo-se bem centrado na faixa de rolagem. Porém o Classe E ainda não faz tudo: quando a curva é mais fechada, ele não vira por si só, mas apenas em algumas circunstâncias e por períodos curtos. Razão pela qual existem sensores que detectam se o motorista não está com as mãos na direção e pedem (a cada 30 segundos) que o condutor confirme que está acordado e sentado no seu lugar, apertando botões específicos. Caso isso não ocorra, o sistema emite avisos acústicos e visuais e depois a velocidade vai sendo reduzida aos poucos.
Mas o novo Classe E não é inovador apenas na condução autônoma. Nenhum outro dentro da marca chegou tão longe na área de infoentretenimento. Primeiro, porque há duas telas digitais que formam o interior, que podem ser totalmente configuradas, em cores e conteúdos, e são de alta resolução: 1.920 x 720 pixels, superior até à resolução dos monitores do luxuoso Classe S (1.440 x 540). Ocupam quase metade do painel, afinal cada uma tem a diagonal de 12,3” (31,2 cm).
Não bastasse, estreia como novidade mundial a instalação de botões táteis para controlar essas enormes telas. Eles ficam no volante e foram projetados para serem comandados pelos polegares, por meio de toques como num smartphone.
Tanta novidade, porém, passou longe do departamento de estilo. Esteticamente é evidente sua semelhança (ou seria cópia?) com os atuais Classe C e S, situando-se entre os dois nas dimensões. Em relação ao anterior, o novo E está 4,3 cm mais comprido, mas a distância entre-eixos cresceu até mais do que isso (6,5 cm). Significa que o modelo encolheu nas extremidades, o que explica a razão pela qual o porta-malas perdeu até 10 litros (agora são 540 litros). Já o interior é muito convidativo para quatro ocupantes: comprimento, largura e altura são bem generosos, ficando o passageiro central traseiro com o enorme túnel de transmissão/escape entre as pernas, o que incomoda em longas viagens.
Como bom carro alemão que é, porém, não podemos nos esquecer de falar da engenharia. E nisso ele também melhorou. A plataforma é toda nova: agora usa a base modular MRA (Mercedes Rear Wheel Drive), para modelos de tração traseira, inaugurada no Classe C e que acabou de ser adotada no GLC. A suspensão é similar à desses dois modelos, mas é a primeira vez que a empresa equipa um sedã com esse sistema de suspensão pneumática (multicâmaras à frente e atrás, única no mercado).
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Na motorização, ele estreia agora na Europa (no Brasil, só chegará no segundo semestre deste ano) com as versões E 200 (2.0 de 184 cv), E 300 (2.0 de 245 cv) e E 400 4Matic (3.0 de 333 cv, 4×4), além das variações a diesel, às quais se juntarão outras em 2017, como um híbrido de recarga externa. Ou seja, não faltarão opções para quem gosta de dirigir (ou não) um Mercedes.
VEREDICTO
Se ele decepciona no design (não é a cara do Classe C?), o mesmo não pode ser dito do seu nível de tecnologia. Nesse aspecto é melhor até do que o luxuosíssimo Classe S.
Motor: | diant. longit., 4 cil. em linha, 16V, turbo, 83 x 92 mm; 9,8:1, 1.991 cm3; 245 cv a 5.500 rpm, 37,7 mkgf a 1.300-4.000 rpm |
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Câmbio: | automático, 9 marchas, tração traseira |
Direção: | elétrica |
Suspensão: | multilink nas quatro rodas |
Freios: | discos ventilados nas quatro rodas |
Pneus: | 205/65 R16 |
Dimensões: | comprimento, 492,3 cm; altura, 185,2 cm; largura, 146,8 cm; entre-eixos, 293,9 cm; peso 1.610 kg |
Porta-malas: | 540 litros |
Desempenho: | 0 a 100 km/h em 6,3 s; vel. máx. 250 km/h |