Mercedes EQS 450+ gira (muito) as rodas traseiras e tem perfume na cabine
Por quase R$ 1 milhão, o maior SUV elétrico da marca tem mais de 42" em telas, ótimo alcance, mas deve potência e tração integral
O SUV mais tecnológico e luxuoso da Mercedes-Benz atualmente no Brasil não é o mais caro ou mais potente, posto hoje pertencente ao G 63 AMG. O dono das credenciais é o EQS 450+, um SUV elétrico de sete lugares que chega ao Brasil em sua versão de entrada por R$ 998.900 para brigar com Audi Q8 e-tron e BMW iX.
No design, o EQS SUV também é o mais bem resolvido entre todos os elétricos da Mercedes, que não são uma unanimidade em desenho. Ele tem linhas limpas, volumes arredondados e elementos grandes, que combinam com as suas generosas dimensões – sobre as quais voltaremos a falar em alguns parágrafos.
A dianteira tem faróis full-led com facho alto adaptativo e uma grande porção central em preto (onde, originalmente, ficaria a grade) com pequenas estrelas de três pontas estampadas, imitando o logo da marca. O capô, assim como no BMW iX, é fixo. É possível ter acesso apenas ao reservatório de água para o lavador dos vidros, cuja abertura fica no para-lama esquerdo.
De lado, o SUV elétrico destaca as grandes rodas de 21 polegadas, calçadas com pneus 275/45, e as maçanetas retráteis. Também há um estribo, mas que não faz sentido no modelo: o EQS 450+ é baixo e não há necessidade do apoio, que mais serve para sujar a calça ou as pernas de quem entrar ou sair do veículo.
Além disso, o estribo vai além da carroceria e gera um grande risco de ser ralado ou batido em locais mais estreitos. Outro problema está no visual, já que a peça, que fica iluminada à noite, parece forçar uma aparência off-road que o EQS SUV não tem.
Também é visto de perfil que o EQS mais deixa evidente ser um carro grande. São 5,13 metros de comprimento, 2,16 m de largura, 1,72 m de altura e 3,21 m de entre-eixos. Justamente por esse tamanho todo, o EQS tem esterço das rodas traseiras para auxílio em manobras – o que, de fato, faz toda diferença.
Elas giram até 10° em direção oposta às rodas dianteiras, para que o diâmetro de giro seja reduzido. Na Europa, as rodas giram até 4,5°. O ângulo maior, de 10°, é um opcional por lá – mas, por aqui, é de série. Na traseira, as lanternas vão de um lado a outro, sem vincos ou elementos marcantes.
Luzes de balada e ambientação de chuva e floresta
A cabine é o ponto alto do EQS SUV. Embora você possa amar ou odiar, não tem como passar indiferente ao painel do modelo, que chama a atenção até de outros motoristas e pedestres nas ruas, que esticam o pescoço para olhar, especialmente à noite.
Quase toda a porção frontal do painel é formada por uma única peça em preto brilhante, que é rodeada por luzes e integra saídas de ar e as mais de 42 polegadas de telas.
Comecemos pelas luzes, que rodeiam toda a porção central do painel e estão presentes ainda nas portas, nos porta-objetos e até no teto. Elas podem ser configuradas de várias formas, com diversas opções de cores e combinações pré-definidas – neste caso, é possível deixar com uma animação que muda suavemente os tons. Também dá para reduzir a intensidade ou até desligar.
Essas luzes também servem para algumas funções e alertas. No ar-condicionado, quando alguém aumenta ou diminui a temperatura, uma cor correspondente corre pelo painel. Por exemplo: caso o motorista aumente a temperatura, uma luz vermelha corre do centro até a porta do motorista. Caso ele diminua a temperatura, a luz é azul. O mesmo ocorre para o passageiro, em sua direção.
Quando o alerta de colisão entra em ação, tudo pisca em vermelho. Caso o motorista invada a faixa ao lado sem dar seta, o lado correspondente também pisca em vermelho. É bem interativo.
Também chamam bastante atenção as três telas. A do quadro de instrumentos e a do passageiro têm 12,3 polegadas, enquanto a central tem 17,7 polegadas. Dá para controlar o brilho delas individualmente e até desligar a do passageiro. Sobre esta última, que funciona quase como uma extensão da central multimídia, é possível alterar o papel de parede.
Por segurança, a tela do passageiro só é liberada com a presença de uma pessoa no respectivo banco. Além disso, o passageiro pode assistir a conteúdos diversos mas, caso o motorista olhe para essa tela, o brilho é reduzido. Isso é monitorado por uma câmera para que o motorista não tire os olhos da condução.
Na cabine ainda há sistema de som da Burmester com alta qualidade sonora, teto solar panorâmico em duas seções, câmera 360° com visão 3D e navegador nativo com realidade aumentada. Os bancos dianteiros têm aquecimento e ventilação, cada um com três níveis, e vários tipos de massagem. Tem ainda ajustes das abas laterais e de lombar.
Há também alguns modos de “energia”, com apresentações que buscam mudar o clima da cabine – talvez para um relaxamento dos ocupantes em paradas para recarga. Entre as apresentações há: calor, ar fresco, floresta, chuva de versão e barulho do mar.
Cada um desses modos muda os aspectos da cabine como luzes, ar-condicionado, massagem, resfriamento ou aquecimento dos bancos e odorizador (sim, há perfume para o ar-condicionado).
Leva até sete pessoas, mas faltam mimos
O EQS SUV pode levar até sete pessoas, considerando os dois bancos extras no porta-malas, que podem ser rebatidos. O acesso a eles é fácil: o ângulo de abertura das portas traseiras ajuda bastante na missão, além do bom recolhimento da segunda fileira, que é feito de forma eletrônica.
Na terceira fileira, para que uma pessoa de aproximadamente 1,70 m viaje com um pouco mais de tranquilidade, quem estiver na segunda fileira precisa ir com os bancos para frente. Mesmo assim, a fileira intermediária não terá falta de espaço. Caso não tenha negociação, fica impossível viajar na terceira.
Porém, o “fundão” guarda alguns confortos, como portas USB do tipo C, apoios de braço, porta-copos e até saídas de ar-condicionado – extremamente necessárias.
Quem for na segunda fileira terá sempre mais conforto, especialmente com os bancos totalmente para trás, gerando folga para as pernas dos ocupantes. Um terceiro passageiro até é bem-vindo na posição central, já que o assoalho é plano.
Além disso, há duas zonas de ar-condicionado exclusivas (somando quatro com as duas dianteiras), mais portas USB e ajustes elétricos dos bancos. Ficam faltando alguns mimos, porém, como aquecimento, ventilação e massagem nos bancos, isso considerando que, por quase R$ 1 milhão, o EQS SUV levará muitas chefias no banco de trás.
Com os sete lugares armados, o porta-malas do EQS é pequeno, apenas 195 litros. Mas dificilmente alguém andará com capacidade máxima o tempo todo. Assim, com os dois últimos bancos rebatidos, o porta-malas tem 645 litros.
Falta potência, mas desempenho é suficiente e tem ótimo alcance
O EQS 450+ é a versão de entrada desse modelo em todo o mundo. Ele é equipado com um motor elétrico traseiro, ou seja, a tração é traseira – por isso, ele não possui qualquer modo off-road, já que não é 4×4.
São 360 cv de potência e 59,6 kgfm de torque pra mover um carro de mais de 5 metros de comprimento e mais de 2.600 kg. Mas ele não faz feio. De acordo com a Mercedes, ele vai de 0 a 100 km/h em 6,7 segundos.
As acelerações são boas, especialmente no modo Sport e em retomadas, onde os passageiros sentem o efeito de colar nos bancos. Em saídas, a aceleração é mais progressiva, o modelo sente mais o seu peso. Entre os demais modos de condução estão Eco, Comfort e Individual.
O ponto alto do SUV, porém, é a autonomia, graças à grande bateria de 108,4 kWh que aceita recargas de até 200 kW – potência alta e acima da média do mercado. Segundo o Inmetro, que tem números mais pessimistas, são 411 km de alcance projetado. No ciclo WLTP, mais próximo da realidade, são 672 km prometidos.
No quesito dirigibilidade e convivência, a suspensão a ar, que pode subir até 4 cm, é extremamente macia. A carroceria balança junto, mas é um balanço macio e necessário. Junto a isso está o ótimo isolamento acústico, que não deixa vazar nenhum ruído de vento, suspensão ou seja o que for.
A direção tem o peso certo para um carro desse tamanho e peso, é um pouco pesada, mas confortável, que também não passa a buraqueira ao motorista. Já o pedal do freio gera ressalvas: poderia ser um pouco mais sensível para transmitir mais segurança.
Veredicto
O EQS 450+ é o elétrico mais versátil da Mercedes-Benz no Brasil. Entrega muito espaço, luxo, conforto e tecnologia, suficientes para fazerem os quase R$ 1 milhão poucos, especialmente considerando que um GLA, o SUV de entrada da marca, com motor 1.3 turbo de 163 cv, hoje parte de aproximadamente R$ 400.00.
Porém, também nos faz lembrar em “detalhes” que se trata da versão mais barata: falta potência, falta tração integral e faltam conveniências nos bancos da segunda fileira.
Ficha Técnica – Mercedes-Benz EQS 450+
Motor: elétrico, traseiro, 360 cv, 59,6 kgfm
Câmbio: automático, 1 marcha, tração traseira
Direção: elétrica
Suspensão: McPherson (diant.), multilink (tras.)
Freios: disco ventilado (diant.) e disco sólido (tras.) com recuperação de energia
Pneus: 275/45 R21
Dimensões: compr., 512,5 cm; larg., 215,7 cm; altura, 171,8 cm; entre-eixos, 321 cm; peso, 2.620 kg; porta-malas, 195/645 litros
Bateria: íons de lítio, 108,4 kWh, autonomia de 411 km (Inmetro)
Carregamento: tipo 2 (AC) a 11 kW; CCS2 (DC) a 200 kW