Novo BMW M2 chega ao Brasil com promessa de ser mais divertido que o M3
Com pegada clássica e condução bem desafiadora, cupê da BMW é um dos últimos suspiros antes que a marca se renda totalmente aos eletrificados
Em termos de design, a BMW vem trabalhando em duas pontas. Carros elétricos como o iX e híbridos como o XM apostam em visual ousado, que causaram polêmicas entre os puristas. Já os modelos a combustão mais tradicionais, como os esportivos da linha Motorsport, seguem caminho mais prudente. Sem serem conservadores.
Esse é o caso do BMW M2, o último M puramente a gasolina, que recebeu mudanças estéticas profundas em sua nova geração e será lançado no Brasil em breve (as primeiras unidades, inclusive, já chegaram). O pequeno cupê de duas portas adota estilo único e, mesmo comparado ao M3, por exemplo, tem pouco a ver e é bem mais tradicional. Ao volante, também há lembranças do passado.
Ver essa foto no Instagram
Comparada à geração anterior do M2, lançada em 2015, a novidade se destaca pela preferências por formas retas, frente às curvas de antes. A icônica grade dianteira nada se compara às entradas gigantes de outros lançamentos da alemã; na verdade, há ângulos retos que remetem aos BMW da virada do milênio.
As entradas de ar inferiores também são retangulares, lembrando uma época que, por conta de capacidades do processo fabril, os veículos evitavam linhas muito esbeltas e eram mais angulados.
Antes de conhecer o esportivo pessoalmente, o design causou estranhamento. Ao vivo, porém, a escolha pareceu bem mais harmônica. O que chama atenção mesmo é o aspecto compacto: ainda que tenha 4,58 m de comprimento, grande parte desse espaço é ocupado pelo capô farto. Assim, tem-se uma leve ilusão de ótica de que o BMW M2 é menor do que é, causado pela ausência de portas traseiras e porta-malas de apenas 390 l. Na seção de trás, inclusive, repete-se a fórmula de para-choque “quadradão” e se destacam os escapes quádruplos, grandes e intencionalmente barulhentos.
Interior
Por dentro, o aperto não é ilusão. O foco aqui é a esportividade, então não espere posição de dirigir elevada ou visibilidade ampla. O “piloto” senta em banco em concha baixo e revestido em couro de alta qualidade que combina preto e azul. Há amplo uso de fibra de carbono, principalmente na parte de trás do encosto.
A segunda fileira tem apenas dois assentos, já que o túnel central que envolve o cardã (estamos falando de um carro com tração traseira) é alto e rouba todo o espaço de quem iria no meio. Mesmo os dois bancos que existem, porém, são apertados e mal cabem ocupantes adultos.
A combinação tricolor da divisão Motorsport retoca painéis de porta e outras partes do interior, mas daí em diante é sobriedade: os revestimentos predominantes são mesmo a fibra de carbono e couro, encontrando um balanço importante em um carro que é intencionalmente rústico mas, ainda assim, superará com folga o preço de meio milhão de reais.
Mesmo assim deve existir equilíbrio entre a parte artística e funcional da manufatura de um automóvel. Talvez por isso a BMW tenha cedido à praticidade e colocado o cada vez mais onipresente par de telas curvas na função de quadro de instrumentos e central multimídia: são, ao todo, 27,2” que exibem todas as informações com ótima qualidade de imagem, mas não têm o mesmo protagonismo que em modelos com apelo tecnológico e futurista, como o iX.
Ao volante
Todas as versões do BMW M2 trazem o motor 3.0 biturbo, há um bom tempo usado pela fabricante. O seis cilindros rende 467 cv e 56,1 kgf e vem junto a câmbio manual de seis marchas ou automático de oito velocidades; foi essa segunda configuração que dirigimos e que está começando a chegar ao Brasil.
A transmissão automática, entretanto, não compromete a experiência esportiva. O volante tem borboletas bem chamativas e dois botões vermelhos, escritos “M1” e “M2”, que dão início à diversão. Eles servem para armazenar dois modos de condução personalizados, alterando individualmente elementos como direção, trocas de marchas, resposta do acelerador e suspensão.
Como o teste foi feito em ruas públicas na Alemanha, o “M2” nem sequer pôde ser usado, uma vez que tornava o cupê quase desprovido de assistência. Há dez níveis diferentes de controle de tração e, no caso do “M1”, chegamos a um meio termo. Mesmo assim, volante e pedais (incluindo o freio) ficaram configurados no modo mais “raiz” possível, causando o desconforto mais confortável que existe.
Com pouca distância entre eixos, tração traseira e apenas 12,3 cm de vão livre, o BMW M2 é mais parecido com um carro de corrida do que outros esportivos de seu nível. A resposta aos comandos é bem direta e as trocas de marcha câmbio M Steptronic acontecem mais rapidamente do que em boas transmissões de dupla embreagem.
Entrando em uma Autobahn foi possível ter um gostinho da sua aceleração de 0 a 100 km/h (4,1 s, oficialmente). Além disso, o ronco intencionalmente alto na cabine torna uma besteira se preocupar com o som Hi-Fi — no modo mais manso, porém, o barulho gerado por aletas eletrônicas diminui.
Ainda que não haja aerofólios ou outras fontes de downforce, a ausência de rolagem do carro chama bastante atenção. Isso tem a ver com o baixo centro de gravidade e, ainda mais, com a suspensão adaptativa M, que utiliza válvulas eletromagnéticas para controlar o fluxo de óleo em cada amortecedor, individualmente e em tempo real.
O efeito é notável: no modo mais confortável, o conjunto sequer chama atenção. No modo esportivo, tem-se uma rigidez interessante, com firmeza sem respostas agressivas e, apesar do curso pequeno, não há baques secos. O reforço estrutural também contribui para a boa sensação, como um todo, do comportamento dinâmico.
Mas é claro que as ruas brasileiras serão desafio bem maior que o asfalto alemão, praticamente perfeito. Compradores do cupê também precisam aceitar que, em vias públicas, o carro sempre terá seu potencial represado e, quando o intuito for o conforto, não impressionará.
Naturalmente, o lugar do BMW M2 é na pista. É aí que o modelo se sente em casa e se torna um brinquedo altamente divertido; provavelmente nunca mais o mercado nacional terá o lançamento de um BMW tão atrevido. Aproveite quem pode.
Ficha técnica do BMW M2 2024
- Motor: gas., diant., long., 6 cil. em linha, 24 V, biturbo, intercooler, injeção direta, 2.993 cm³, 467 cv a 6.250 rpm, 56,1 kgfm a 2.650 rpm
- Câmbio: automático, 8 marchas, tração traseira
- Suspensão: duplo A (diant.), multilink (tras.)
- Freios: discos ventilados (diant. e tras.)
- Direção: elétrica, 11,9 (diâmetro de giro)
- Pneus: 275/35 ZR19 (diant.), 285/30 ZR20 (tras.)
- Dimensões: comprimento, 458,0 cm; largura, 188,7 cm; altura, 140,3 cm; entre-eixos, 274,7 cm; porta-malas, 390 l; tanque de combustível, 52 l