Potente, leve e sem para-brisa: McLaren Elva é uma experiência sensorial
Uma releitura de um clássico da McLaren dos anos 1960. Do tempo que Bruce Mclaren criava, pilotava e vendia seus carros
Depois de Bruce McLaren começar a dar as cartas nas corridas de automóvel, com o modelo M1A, no início dos anos 1960, começaram a surgir as primeiras encomendas de milionários desejosos de versões de rua do carro. A demanda aumentava à medida que as notícias sobre o desempenho do M1A se espalhavam.
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Como a McLaren não tinha nem funcionários suficientes nem estrutura industrial para fazer os carros, a solução foi encomendar a produção ao pequeno fabricante inglês Frank Nichols, da Elva Cars Ltd., especializado em carros esportivos, que se dedicou a montar 24 unidades do modelo para clientes particulares, que logo encontraram seus donos.
Damos um salto de 56 anos no tempo e, em 2021, a McLaren começa a entregar a privilegiados, 149 clientes em todo o mundo, a reencarnação desse modelo, apropriadamente chamado Elva, que, tal como o original, é desprovido de para-brisa, vidros laterais e teto e conserva os princípios gerais do seu antepassado.
A começar pelo peso reduzido graças, no caso do novo modelo, a uma construção toda feita de fibra de carbono e que lhe permite ostentar o título de McLaren de rua mais leve de todos os tempos.
O motor central e com desempenho superlativo é outro ponto em comum com o carro do passado, guardada a devida evolução técnica.
O McLaren Elva MKI original tinha motor V8 4.5 de 310 cv, enquanto o atual traz um V8 4.0 de 815 cv que, em conspiração com os seus escassos 1.148 kg, permite fazer de 0 a 100 km/h em 2,8 segundos e 0 a 200 km/h em 6,8 segundos.
Esses tempos são os mesmos que a fábrica divulga para o McLaren Senna GTR, que tem 825 cv e pesa 1.188 kg. Mas, na medição de velocidade máxima, o Elva supera o parente, chegando aos 327 km/h, contra 250 km/h.
Inicialmente a McLaren contava fabricar 399 unidades do Elva, mas reajustou esse volume para 149, em razão da pandemia (que arrasou as finanças da empresa com uma quebra de mais de 60% de vendas em 2020) e também porque a marca está fazendo elevados investimentos na eletrificação dos motores.
Para esta experiência dinâmica com o Elva, nenhum lugar era mais apropriado que as ruas de Mônaco, onde Bruce McLaren inflamou paixões ao volante do seu M1A. Passado o turbilhão de emoções gerado pelo impressionante visual, é hora de entrar no carro.
As portas abrem verticalmente, tipo tesoura, e existe um espaço entre o assento e a projeção do volante no piso para o motorista poder ficar em pé antes de deslizar as pernas para debaixo do painel, segurando onde dá – no meu caso usei o volante para me apoiar.
O painel de instrumentos digital se move com a coluna de direção e sua informação complementada pela tela central de 8”, que contém dados de telemetria, câmera de ré, GPS e ajustes de comportamento do veículo (permitindo definir até 15 níveis de tolerância de derrapagem).
Ao toque no botão de ignição, o V8 reage com um ronco que chama a atenção pelo estrondo que causa. Já em movimento, o que rouba a cena é a silhueta do carro sem capota e sem para-brisa.
Para rodar na cidade, é recomendável o uso de óculos de proteção. Um par de óculos com lentes fotocromáticas e armação de alumínio anodizado faz parte dos equipamentos de série.
Já na estrada, para que a suave brisa não se transforme num ciclone nível 5 na escala de Saffir-Simpson, e arranque a cabeça do motorista, a McLaren desenhou uma proteção escamoteável para desviar o turbilhão de ar do cockpit.
O ar entra pelo radiador na frente do carro e é canalizado e acelerado para sair atrás dessa barreira para, juntamente com o ar desviado por esse defletor, criar uma bolha de ar por cima do carro.
Os engenheiros ingleses garantem que dá para manter uma conversa a bordo, até 120 km/h, apenas elevando o tom de voz, mas é evidente que essa é uma perspectiva otimista demais, mesmo sendo inegável que de fato ocorre o desvio de uma boa parte da corrente de ar.
O anteparo sobe automaticamente aos 45 km/h (e desce abaixo dessa velocidade), mantendo-se ativo até os 200 km/h. Atingidos os 200 km/h, o defletor desce e se enxaixa no capô, passando o ar a chegar com menos obstrução para arrefecer o motor. Nessa condição, só mesmo usando o capacete desenvolvido pela McLaren em parceria com a Bell, oferecido como opcional.
Nas curvas, o Elva dá um show de dinâmica veicular graças, de um lado, à direção com precisão cirúrgica; e de outro, à competência do chassi. Tudo se processa de forma natural e intuitiva: apontar, manter o ângulo da direção e sair acelerando de forma progressiva.
Antes de acabar o test-drive, foi possível experimentar os diferentes níveis do controle de estabilidade e perceber que o Elva também gosta de se divertir, soltando a traseira quando selecionamos o programa mais “tolerante”, mas permitindo correções fáceis e intuitivas.
A capacidade dos freios com discos cerâmicos também é algo impressionante, assim como a rapidez do câmbio automatizado de sete marchas.
As 149 unidades do Elva (vendidas ao preço básico de 1,7 milhão de euros) serão muito mais peças de coleção zelosamente guardadas em garagens multimilionárias do que carros de track day, podendo ser vistas eventualmente circulando pelas ruas de Mônaco, Dubai ou Los Angeles.
Veredicto
Trata-se de um belo objeto de culto para milionários, que já teve todas as unidades vendidas.
Ficha Técnica
- Preço: 1.700.000 euros (estimado)
- Motor: gasolina, central-traseiro, long., V8, 32V, injeção direta (dois injetores/cilindro), biturbo, 3.994 cm3; 815 cv a 7.500 rpm, 81,6 kgfm a 5.500 rpm
- Câmbio: automatico, 7 marchas, tração traseira
- Suspensão:duplo A nos dois eixos
- Freios: disco carbono-cerâmica sedimentada nas quatro rodas
- Direção:elétro-hidráulica, diâm. de giro, 12,1 m
- Pneus:245/35 R19 (diant.), 305/30 R20 (tras.)
- Dimensões: comprimento, 461,1 cm; largura, 194,4 cm; altura, 108,8 cm; entre-eixos, 267 cm; peso, 1.148 kg; porta-malas, 50 l; tanque, 72 l)
- Desempenho*:0 a 100 km/h, 2,8 s; veloc. máx., 327 km/h
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