Concorrer com a Toyota Hilux não é tarefa fácil, afinal a picape lidera o mercado brasileiro há anos e em 2022 vendeu quase o dobro da segunda colocada, a Chevrolet S10.
Mas a Ram Classic assumiu esse desafio quando foi lançada, em setembro de 2022, na mesma faixa de preço da Hilux. O problema é que a Classic não tem condições de liderar o segmento por conta do volume limitado de importação, embora as unidades que chegam sejam suficientes para torná-la um sucesso de mercado: foram 1.000 exemplares no primeiro lote, vendidos em 24 horas, com fila de espera de seis meses, para atender os interessados.
A explicação para essa procura, segundo a marca, está no fato de a Classic ser a picape mais potente do Brasil (ao lado da Ram 1500), ser bem maior que as rivais e ter uma das maiores capacidade de reboque, puxando mais de 3,5 toneladas.
Até então não tínhamos tido a oportunidade de conviver com essa picape no dia a dia e tampouco levá-la para a pista de testes. Mas, após a experiência, pudemos comprovar essas qualidades e alguns defeitos também, que relatamos agora.
Trata-se da quarta geração da 1500, que foi lançada em 2008, nos Estados Unidos, e convive com a quinta geração, que é vendida como 1500 Rebel.
Pertencer a uma geração mais antiga se reflete no design. Os faróis ficam em posição abaixo da linha superior da grade e surgem como uma continuação dos para-lamas – esse recurso de estilo pode ser considerado ultrapassado, mas ainda é interessante. Os faróis têm projetores de dupla função, mas são halógenos e o led só pode ser encontrado nas DRLs.
O porte sempre impressiona: são 581 cm de comprimento, 201,7 cm de largura, 197 cm de altura e um entre-eixos de 357 cm. A Classic tem cerca de 50 cm a mais no comprimento e no entre-eixos do que as picapes médias, como Hilux e VW Amarok.
Mas todo esse tamanho atrapalha a vida de quem mora nas grandes cidades. Devido ao seu comprimento ela ocupa duas vagas na garagem de muitos prédios residenciais e em alguns casos a altura e a largura impedem que ela passe pelo portão.
Apesar das rodas de 20 polegadas estarem calçadas com pneus de uso no asfalto, a Classic roda relativamente bem fora da estrada graças aos três modos de tração: 4×2, 4×4 High e 4×4 Low (reduzida).
A caçamba, com 1.424 litros, só não é maior do que a da Ram 3500. Mas a capacidade de carga decepciona, é praticamente metade da que as picapes médias oferecem, com 531 kg. É menos do que carrega a Fiat Strada, que chega aos 720 kg.
O espaço interno, em especial o traseiro, é um capítulo à parte. A diferença entre-eixos em relação à Hilux é de meio metro. Na prática, isso significa que os passageiros traseiros desfrutam de mais de 1 metro (101 cm) de espaço para pernas, enquanto os da Toyota têm 85 cm. Mas a diferença mais significativa está no espaço para os ombros, que na Classic é de 177 cm e na Hilux é de apenas 94 cm.
O revestimento dos bancos é de couro legítimo, material também presente no grande porta-objetos central. A multimídia tem tela de 8,4” com conexão com Apple CarPlay e Android Auto ainda por cabo, mas a central cumpre sua função com tela de boa resolução e facilidade de uso.
O motor, o mesmo da irmã 1500 Rebel, HEMI V8 de 5,7 litros rende até 400 cv e 56,7 kgfm de torque. Entre as rivais, a Amarok V6 é a que chega mais perto em termos de potência, entregando 258 cv. A Hilux, com sua recente versão esportiva GR-S, entrega 224 cv com o motor 2.8 turbo diesel.
Já no que diz respeito ao torque, ele é um pouco maior que o da Hilux GR-S, com 55 kgfm, e inferior ao motor turbo diesel V6 da Amarok, que entrega até 59,1 kgfm.
Em nossa pista de testes, a Classic acelerou de 0 a 100 km/h em 8,1 segundos, que foi o mesmo tempo da Amarok (não testamos a Hilux GR-S).
No uso diário, esse bom desempenho da Ram é perceptível nas acelerações progressivas. Mesmo o máximo de torque sendo entregue em regime relativamente alto, a 3.950 rpm, a picape mostrou-se ágil em diversas situações de ultrapassagem na estrada.
O motor HEMI é equipado com o sistema de desativação de cilindros (MDS), no qual a central eletrônica corta a alimentação de combustível, as faíscas das velas e fecha as válvulas de admissão e escape em quatro dos oito cilindros durante os regimes de pouco esforço. Segundo a Ram, essa desativação pode representar uma redução de consumo de até 20%. Porém, essa tecnologia não foi capaz de resultar em números ótimos de consumo. Em nossas simulações, a Classic conseguiu as médias 5,2 km/l na cidade e 7,8 km/l na estrada – números próximos da Ram 1500 Rebel.
O sistema de suspensão é o mesmo da versão 1500 e por mais que tenha eixo rígido na traseira, usa molas helicoidais, em vez das semielípticas, o que favorece o conforto, mas limita sua vocação de picape para o transporte de carga. O rodar suave é único e pode transformar muito defensor de picape média em fã da Ram.
A Ram Classic chega para ser uma alternativa às picapes médias, porém, para se insinuar nesse segmento, sendo importada, ela precisa abrir mão de algum conteúdo para chegar com preço atraente. Assim, a Classic abre mão de equipamentos, principalmente, de segurança. Ela traz seis airbags, assistente de partida em rampa, controles de tração e estabilidade e controle de oscilação do reboque. Mas, não há tecnologias de auxílio ao condutor como frenagem autônoma de emergência, piloto automático adaptativo e assistente de permanência em faixa, itens presentes nas versões topo de linha de concorrentes como Ford Ranger e Toyota Hilux.
A Classic é vendida em duas versões, a Laramie (com acabamentos cromados) por R$ 365.150 e a Night Edition (com acabamentos em preto), que custa R$ 375.150. São preços elevados, mas a Hilux GR-S, por exemplo, custa R$ 7.650 a mais que a Laramie, saindo por R$ 372.890.
A Ram Classic leva vantagem por ser mais potente, espaçosa e puxar mais peso, porém tem a menor capacidade de carga e não traz tecnologias de segurança ativa. Se ela couber na sua garagem e não se importar com a conta do posto de combustível, é uma alternativa no segmento.
Veredicto – Classic é maior e mais potente, mas é menos equipada e perde para as rivais em capacidade de carga.
Teste – Ram 1500 Classic
Aceleração
0 a 100 km/h: 8,1 s
0 a 1.000 m: 29,3 s – 169 km/h
Velocidade máxima: n/d
Retomadas
D 40 a 80 km/h: 3,4 s
D 60 a 100 km/h: 4,3 s
D 80 a 120 km/h: 5,1 s
Frenagens
60/80/120 km/h a 0: 15/28,6/61,5 m
Consumo
Urbano: 5,2 km/l
Rodoviário: 7,8 km/l
Ruído interno
Neutro/RPM máx.: 41,8/- dBA
80/120 km/h: 59,3/67,7 dBA
Aferição
Velocidade real a 100 km/h: 98 km/h
Rotação do motor a 100 km/h: 1.500 rpm
Volante: 2,7 voltas
Seu Bolso
Preço: R$ 365.150
Garantia: 3 anos
Condições de teste: alt. 660 m; temp., 22 °C; umid. relat., 53%; press., 1.012,5 kPa.
Ficha Técnica – Ram 1500 Classic
Motor: gasolina, dianteiro, longitudinal, V8, 16V, 5.654 cm3; 400 cv a 5.600 rpm, 56,7 kgfm a 3.950 rpm
Câmbio: automático, 8 marchas, 4×4
Direção: elétrica
Suspensão: ind. McPherson (diant.) eixo rígido, five-link (tras.)
Freios: disco ventilado (diant.), disco sólido (tras.)
Pneus: 275/60 R20
Peso: 2.553 kg
Dimensões: comprimento, 581,6 cm; largura, 201,7 cm; altura, 197 cm; entre-eixos, 357 cm; peso, 2.553 kg; tanque, 98 l; caçamba,
1.424 l; capacidade de carga, 531 kg