Se a Fiat Toro mostrou ao brasileiro (na verdade, ao mundo) que picapes não precisam ser tão grandes e podem ser práticas como um SUV, agora a Ram Rampage leva estratégia a um outro patamar: além de um motor muito mais potente, entrega de série mais equipamentos e acabamento muito superior ao das picapes médias.
Os preços estão na faixa das picapes médias com cabine dupla em suas versões básicas e intermediárias. Começam em R$ 239.990 para a Rebel diesel e chegam aos R$ 269.990 para a Rampage R/T, vendida só com motor turbo a gasolina.
Todos os preços da Ram Rampage 2024:
- Rampage Laramie 2.0 Turbodiesel – R$ 239.990
- Rampage Laramie 2.0 Hurricane-4 – R$ 249.990
- Rampage Rebel 2.0 Turbodiesel – R$ 249.990
- Rampage Rebel 2.0 Hurricane-4 – R$ 259.990
- Rampage R/T 2.0 Hurricane-4 – R$ 269.990
A Ram trata esses valores como preços especiais para o lançamento e a pré-venda começa nesta quarta-feira, 21. Para evitar qualquer canibalização dentro de casa, a Fiat tornou oficial uma redução de R$ 20.000 nos preços de todas as Toro a diesel, pois esse desconto já era praticado nas lojas há alguns meses.
No caso da Ram Rampage, o conteúdo das versões é quase sempre o mesmo. Inclui sete airbags, piloto automático adaptativo com stop & go, frenagem de emergência, farol alto automático, monitor de pontos cegos, assistente de faixa, câmera de ré, sensores de estacionamento na frente e atrás, chave presencial, caçamba com iluminação de led e abertura elétrica pela chave e banco do motorista elétrico. Como opcional, há iluminação ambiente, banco do carona elétrico e o sistema de som Harman Kardon com 10 alto-falantes, todos de série na versão R/T.
O teto solar, que já foi opcional na Fiat Toro, não é oferecido na Ram Rampage. Ficou de fora do projeto pois, de acordo com Breno Kamei, chefe da Ram e de planejamento de produto de produto da Stellantis para a América do Sul, não foi um equipamento priorizado pelos consumidores nas pesquisas feitas pela marca.
O que é a Ram Rampage?
A Rampage é a primeira Ram desenvolvida no Brasil e o quinto veículo fabricado em Goiana (PE), e o fato de compartilhar componentes com todos os carros fabricados ali ajudou a viabilizar o nascimento de mais um carro ali. A plataforma Small Wide é comum a todos eles.
O ponto de partida para a Ram Rampage é a Fiat Toro. Hoje VP de design da Stellantis para a América do Sul, o alemão Peter Fassbender já havia dado vida à picape Fiat. Agora sua equipe, auxiliado por designers norte-americanos, trabalharam bastante para criar uma versão com o aspecto mais robusto típico das Ram. Algumas soluções que já estavam prontas ajudaram.
O que muda entre as versões Laramie, Rebel e R/T é o visual. Para todos, estilo dos faróis (full-led e com setas dinâmicas), mais estreitos e visualmente integrados à grade, segue as formas da Ram 1500 Limited. O capô tem vincos fortes à moda Ram, mas é tão mais alto que esconde os braços dos limpadores e, por dentro, obrigou a aumentar a área de pontilhados pretos para esconder isso.
Mas o que mais me chamou a atenção é uma solução curiosa. Os para-choques, embora estejam integrados à carroceria, simulam peças separadas como as que são vistas em picapes com chassi de longarinas, como as Ram maiores. Uma picape monobloco como a Rampage não precisaria disso, mas é um detalhe que transmite robustez e, inclusive, se repete na traseira onde ainda há uma peça de aço (que pode ser cromada) cobrindo o para-choque.
Fassbender não esconde que fazer uma Ram foi um grande desafio, mas confidenciou um dos segredos: “Ficar de duas a três semanas sem olhar o projeto tira todas as nuances sobre ele e ajuda a enxergar elementos que podem ser melhorados”.
Quando vista de perfil, parece que as portas dianteiras compartilhadas com Compass e Commander ditaram como seriam os vincos laterais. As portas traseiras são novas, ainda curtas, porém mais retas, deixando a coluna C mais vertical. A linha de cintura é reta e seguida pela caçamba, que tem um leve arqueamento no final.
Até o corte das caixas de roda segue o desenho dos Jeep e os para-lamas mais volumosos ajudam a compor o aspecto musculoso que tanto buscaram. Mas olhando a Rampage de traseira a caçamba aparenta ser muito mais larga que a cabine. Como a cabine não ganha largura, vista por alguns ângulos parece ter sido moldada com um espartilho.
Embora todas as peças de estamparia sejam diferentes das usadas pela Toro, a estrutura da cabine foi mantida igual e com os mesmos pontos H. O ganho de meros 4 mm no entre-eixos (299,4 mm no total) está relacionado à nova geometria das suspensões (ainda McPherson na dianteira e multilink na traseira), calibradas para garantir o rodar de Ram.
Aços de ultra alta resistência e alta resistência (inclusos os estampados a quente) somam 86% da estrutura da Rampage. No lançamento da Toro, em 2015, era 85% mas o índice dos aços mais avançados aumentou. Em vez de representar uma nova geração da Toro, a Rampage é uma versão mais refinada.
Se a intenção era parecer uma picape média, conseguiram. Nem todo mundo tem olhos treinados para saber que a Rampage, com seus quase 5,03 m, é apenas 7 cm maior que uma Fiat Toro e ainda está a 8 cm de uma Ford Maverick ou a 23 cm de uma Toyota Hilux e da média do segmento de picapes médias.
Aparentar não basta, porém. A Ram Rampage ainda não é uma picape média.
Acabamento padrão Jeep
Faço minha aposta: a Ram Rampage vai forçar as picapes médias a finalmente abandonarem os plásticos duros nos paineis e portas, pelo menos nas versões que não são voltadas para o trabalho. É algo totalmente incompatível com os preços acima dos R$ 300.000 e com a gama de equipamentos que já oferecem.
A evolução frente ao painel de plástico duro da Toro foi garantida pela parte superior do painel, rigorosamente a mesma dos Jeep Compass e Commander, macia e bem feita. Os paineis das portas dianteiras seguem o mesmo padrão, mas sua parte superior é exclusiva para acompanhar a faixa de cor contrastante do meio do painel – que pode ser de couro ou suede. As maçanetas são as mesmas dos Jeep.
Se a Toro teria quadro de instrumentos digital de 7 polegadas, na Rampage tem sempre 10,2 polegadas como nos Jeep mais caros. A central multimídia é horizontal e maior que a de qualquer outro, com 12,3 polegadas.
Da tela para baixo, tudo é novo, até o comando do ar-condicionado de duas zonas com apenas um botão giratório, do som. Roubaram espaço dos joelhos para ter um console tão largo, mas nele há um carregador wireless com refrigeração e ainda sobra espaço ao lado, o seletor de marcha giratório (afinal, é uma Ram) e o acionamento do freio de estacionamento eletrônico com auto-hold e do assistente de descida, luxos que a Toro não tem.
As portas USB ficam em um compartimento sob o console, que acaba de uma vez por todas com as reclamações deste que vos escreve sobre a falta de porta-objetos em carros dessa plataforma. Para quem vai atrás, mais quatro portas USB (sendo duas USB-C) e saídas de ar-condicionado dedicadas, assegurando o degrau acima em conforto na comparação com a irmã da Fiat.
Tudo isso também representa uma resposta muito forte para a Ford Maverick, que está na faixa de preços da Rampage mas insiste no acabamento simplório e em um pacote de equipamentos pobre.
Mais potente que Alfa Romeo
Nós brasileiros não estamos tão habituados a ver um mesmo carro ser vendido por marcas distintas e com outra personalidade. Ford e General Motors fazem isso muito bem, assim como a própria Stellantis quando falamos dos compactos e médios de Peugeot, Citroën e Opel vendidos na Europa. Por aqui, talvez o melhor exemplo tenha sido visto há 30 anos na Autolatina, com VW e Ford.
O nível de diferenciação entre Toro e Rampage está no design, passa pelo acabamento e pela oferta de equipamentos e é concluída pela mecânica. As versões mais em conta da menor picape Ram usam o motor 2.0 turbodiesel na mesma versão usada no Commander, com 170 cv mas 38,7 kgfm, com o mesmo câmbio automático de 9 marchas e tração integral, que são padrão em todas as versões.
Não existe Rampage com o motor 1.3 turboflex. Coube à picape da Ram estrear o motor 2.0 Hurricane-4, turbo com injeção direta a gasolina, que gera 272 cv e 40,8 kgfm que é rigorosamente o mesmo do Jeep Wrangler, até mais potente que a versão usada no Alfa Romeo Tonale. Esse motor será estendido aos Jeep Compass e Commander no futuro, conforme antecipamos em primeira mão. Por enquanto, confere esportividade à Rampage.
Como anda a Ram Rampage?
Nosso primeiro contato é com as versões equipadas com com o novo motor, facilmente reconhecidas pelas dupla de saídas de escape na traseira. E o que se destaca é a capacidade de fazer uma picape com 1.917 kg (no caso da R/T) parecer leve. Nenhuma Toro parece leve nas acelerações.
Esse motor também responde mais rápido à pressão no acelerador do que o 1.3, algo esperado. É até difícil se policiar na velocidade, mesmo sem exigir tudo do motor. O acerto de suspensão de Ram é mais evidente nas curvas, onde a carroceria inclina mais que do que uma Toro faria. Mas se o motorista abusar ou tirar o pé nas curvas a picape vai apenas ensaiar uma saída de dianteira em vez de perder a traseira como uma picape com chassi faria.
Mas se for para abusar da Rampage R/T, que seja com o modo R/T ativado. Ao contrário do modo Sport das versões (que muda as respostas do câmbio e o visual dos instrumentos), este que remete aos melhores Dodge explora melhor a suspensão com acerto exclusivo e 1 cm mais baixa, o escape esportivo, interfere no comportamento da direção e libera algumas amarras do controle de estabilidade para os pneus aro 19 exclusivos serem mais exigidos.
A direção mais pesada, as marchas trocando mais tarde e com um tranquinho proposital e, principalmente, o pedal de acelerador muito mais responsivo, deixam tudo mais divertido. A experiência de andar rápido em um circuito com uma picape monobloco é bem diferente de fazer o mesmo com uma VW Amarok V6, por exemplo. É mais equilibrada e você de fato se sente no controle. É a sensação de um SUV mais potente e fabricado nos EUA (a rolagem da suspensão é típica deles).
Precisamos confirmar em nossa pista, mas a Ram promete que esta Rampage R/T chega aos 100 km/h em 6,9 segundos, fazendo dela a picape mais rápida do Brasil. As rodas aro 19 asseguram a velocidade máxima de 220 km/h para a versão R/T, o que faz dela a Ram mais rápida do mundo.
E no off-road? Bem, o primeiro contato foi justamente nas pistas que a Stellantis usa para validar todos os seus carros com alguma vocação para comer terra. Se ela não passasse por esses tanques de lama, escadas, rampas de 45% e trilhas com caixas de ovos sem perder a compostura, teria que voltar para as pranchetas.
A tração ainda atua para ter uma transferência de força para os eixos na razão de até 40% para a dianteira e 60% para a traseira. E o modo 4×4 Low interfere na precisão do pedal, na forma como o câmbio atua, na direção e nos controles de estabilidade e tração.
A experiência nesse percurso foi com a versão Rebel, que não tem cromados como a Laramie ou elementos pintados de preto ou da cor da carroceria como a R/T. É a versão com vocação mais aventureira.
O que valeu nesse cenário menos auspicioso do que o asfalto foi entender como a suspensão mais macia e disposta a usar seu curso beneficiou o conforto da cabine. A Rampage chacoalha muito menos do que a Toro e isso também será notável quando ela for usada no nosso asfalto ruim.
Fotos mostram as diferenças entre cada uma das versões da Ram Rampage
Rampage Laramie – Cromados na grade dianteira, na moldura dos vidros laterais, nas maçanetas e no para-choque traseiro ganham destaque. O para-choque frontal tem um protetor prateado e as rodas aro 18 são diamantadas. Por dentro, teto e colunas são cinza e o painel combina as cores preta e marrom das faixas de couro, o mesmo que reveste os bancos.
Rampage Rebel – O para-choque frontal e a grade não têm pintura, são foscos, assim como os retrovisores e as molduras das caixas de roda. Todos os logotipos são pretos. Na cabine, teto e colunas são pretos, assim como os bancos e o painel. Só a faixa central que avança para as portas é acinzentada. As rodas são aro 17 e os pneus são de uso misto.
Rampage R/T – Esta versão com alma de Dodge tem para-choque na cor da carroceria, grade com acabamento preto brilhante, assim como os retrovisores e as rodas aro 19. Faixas duplas no capô e o logo “R/T” enorme nas laterais da caçamba fazem parte da decoração. O para-choque traseiro é preto com a parte de metal brilhante, mas os logotipos são cinza. Por dentro, tudo é preto mas com costuras vermelhas e a faixa do painel e a parte superior do volante são de suede.
Ficha Técnica – Ram Rampage R/T
Motor: gasolina, diant., transv. 4 cil., turbo, injeção direta, 16V, 1.995 cm³, 272 cv a 5.2000 rpm, 40,8 kgfm a 3.000 rpm
Câmbio: automático, 9 marchas, tração integral
Direção: elétrica
Suspensão: McPherson (diant.) e multilink (tras.)
Freios: discos ventilados (diant. e tras.)
Pneus: 235/55 R19
Peso: 1.917 kg
Dimensões: compr., 502,8 cm; larg., 188,6 cm; alt., 177,1; entre-eixos, 299,4 cm; caçamba, 980 l, 750 kg; tanque de combustível, 55 l