Teste: Ford Bronco Sport não é SUV de shopping, mas custa R$ 256.900
Pode até parecer um SUV de asfalto com alergia à terra, mas o Bronco Sport tem tração 4x4 avançada, suspensão off-road e faz bonito em qualquer terreno
Imagine se a Ford estivesse relançando a Rural (um utilitário que a marca teve nos anos 1970). Muita gente se empolgaria com a possibilidade de reviver algumas lembranças afetivas ou de comparar o carro novo com o antigo.
Esse foi o peso do lançamento dos novos Ford Bronco (chassi de longarinas) e Bronco Sport (monobloco) nos Estados Unidos.
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Os carros aproveitam não só o nome, mas também os elementos mais marcantes do design do modelo produzido por 30 anos, entre 1966 e 1996. Criou-se muita expectativa na fase de desenvolvimento e, depois de apresentados, boas filas de espera. O Bronco nem sequer começou a ser distribuído por lá.
Aqui, no Brasil, as coisas serão diferentes. O Bronco mais lembrado é o personagem de Ronald Golias (da época da Rural), seguido pelo Ford Bronco branco usado por O. J. Simpson em tentativa de fuga quando foi acusado do homicídio de sua ex-esposa, em 1994.
Não há uma identificação com o nome. Além disso, a marca vive um momento bem particular. Também caberá ao Bronco Sport ajudar a estabilizar a imagem da Ford após o anúncio do fechamento de suas fábricas no Brasil.
Em outras palavras, o novo SUV médio terá que se garantir por conta própria. Spoiler: ele se garante e não é um SUV de aparências.
Única versão disponível no lançamento, o Ford Bronco Sport Wildtrak custa R$ 256.900. É um valor que o posiciona entre os SUVs médios de marcas generalistas e os de fabricantes de luxo.
Pela estratégia traçada pela Ford, fica implícito que será mais fácil disputar clientes com modelos de entrada de Mercedes, BMW, Volvo e Land Rover, oferecendo mais equipamentos e maior capacidade no off-road cobrando muito menos, do que disputar clientes com o Jeep Compass com motor 2.0 turbodiesel de 170 cv e 37,5 kgfm, câmbio automático de nove marchas e tração 4×4, que acaba de mudar.
A versão topo de linha do Jeep, Trailhawk, parte dos R$ 216.990 e pode chegar aos R$ 237.690 com opcionais que o aproximam do conteúdo que o Ford tem de série.
O Bronco Sport, por sua vez, usa o motor 2.0 EcoBoost (turbo com injeção direta) a gasolina que vinha no Fusion, mas com 240 cv (8 cv a menos) e 38 kgfm (mantido), combinado com câmbio automático de oito marchas e um sistema de tração 4×4 mais complexo e versátil.
A tração nas quatro rodas não é permanente, mas ativada automaticamente pelo carro em condições normais. Em vez de um diferencial central Haldex ou Torsen, mais convencionais, usa acoplamento de dupla embreagem, que conecta o câmbio ao eixo traseiro quando necessário e é capaz de bloquear cada uma das rodas traseiras de forma independente.
Esse sistema permite variar a distribuição do torque entre os eixos, enviando até 70% da força para o eixo traseiro, e também funciona como um bloqueio central. Além disso, tem bloqueio do diferencial traseiro e o conjunto tem seu próprio sistema arrefecimento líquido, como no Mustang Mach 1 e no Focus RS.
ALMA DE RAPTOR
Há como bloquear os diferenciais manualmente, bem como desligar o controle de tração. Mas usar o seletor de modos de tração (que a Ford chama de G.O.A.T. Modes) é mais intuitivo.
São sete modos, que incluem desde os modos Eco, Normal e Escorregadio (para neve), mais convencionais, até os modos Areia, Lama e Rochas, mais específicos. Todos eles mudam o comportamento do motor, as respostas do acelerador e do câmbio, e modificam também a assistência na direção elétrica.
O modo Rocha, por exemplo, explora as primeiras marchas (mais curtas de propósito, por não ter uma caixa reduzida), para entregar mais força, e deixa o acelerador anestesiado, para evitar acelerações bruscas.
O modo mais divertido é o Esportivo, que permite andar rápido tanto no asfalto quanto em estradas de terra, onde sair de traseira é tão fácil quanto trazer o Bronco Sport de volta à trajetória original – como na F-150 Raptor.
O acerto de suspensão tem seu mérito. O conjunto McPherson dianteiro segue uma filosofia de alta performance voltada para o fora de estrada que envolve carga dos amortecedores e molas, tensão da barra estabilizadora e até a geometria do conjunto – que, ao esterçar as rodas, inclina mais a roda interna para reduzir o diâmetro de giro, como nos Mercedes.
Além disso, tanto a suspensão dianteira como a traseira (multilink) têm braços de alumínio, mais rígidos e leves, que reduzem a massa não suspensa e torna o conjunto mais preciso.
Tudo isso traz resultado. Os passageiros ficam bem isolados dos impactos com os quais a suspensão precisa lidar em estradas ruins. Daí vem a segurança para ousar mais onde não há asfalto.
Mas o Bronco Sport também vai muito bem em vias pavimentadas e sinuosas, onde a carroceria inclina menos do que o esperado. Também é no asfalto que o SUV revela uma qualidade de rodagem, de isolamento de vibrações do conjunto mecânico e de ruídos, digna de carros de luxo.
O desempenho é igualmente bom. Em nossa pista, precisou de meros 7,8 segundos para chegar aos 100 km/h, 0,2 s a menos que o declarado pela Ford. O consumo ficou em 8,5 km/l, no ciclo urbano, e 12,3 km/l, no rodoviário. Nada mal para um carro com 1.712 kg e visual quadradão.
HERANÇA DE FAMÍLIA
A dianteira, com os faróis integrados com a grade e o nome do carro em destaque, é inspirada na primeira geração do Ford Bronco. Mas onde antes havia uma luz de seta, agora há barras de leds diurnos, e o simples projetor redondo agora é um farol de led.
De perfil, a comparação com os Land Rover é inevitável: o teto com a seção traseira mais alta remete ao Discovery, enquanto a inclinação da coluna C remete ao Freelander – que, por sinal, foi criado quando a fabricante britânica ainda pertencia à Ford.
Também fica evidente o bom espaço nas caixas de roda e o amplo vão livre (22,3 cm). Rodas aro 17 permitem que os pneus sejam mais carnudos de propósito.
A traseira guarda poucas lembranças do passado. As mais notáveis são as lanternas com formato mais vertical e a tampa do porta-malas, que pode ter seu vidro aberto de forma independente. Também tem o único logotipo da Ford que você encontrará em todo o Bronco Sport.
Falando no porta-malas, ele traz boas sacadas. Todo emborrachado, ainda tem um tampão que na verdade é uma placa articulada que pode se transformar em prateleira, mesinha ou divisória.
O compartimento ainda tem luzes internas e na própria tampa, com foco que pode ser direcionado para dentro ou para fora do carro. Nas laterais, há uma tomada de 110 V (com padrão americano) e outra de 12 V.
O interior é interessante, com bancos confortáveis forrados de couro de dois tons, portas dianteiras e painel com superfícies emborrachadas e bom espaço interno na frente e atrás, onde o assento é mais elevado e o segundo nível do teto mostra seu valor.
O SUV médio da Ford ainda tem nove airbags, piloto automático adaptativo, frenagem autônoma de emergência, assistentes de permanência em faixa e de manobras evasivas e acesso remoto via app FordPass.
As circunstâncias e o momento não são os mais favoráveis ao Bronco Sport, mas trata-se de um carro que realmente entrega a proposta fora de estrada sem comprometer a vida no asfalto. Ele é quase como um mini-Land Rover Defender. Ou seria um Ford Freelander?
VEREDICTO: O Bronco Sport é uma grata surpresa como carro, mas seu posicionamento de preço será um tanto ingrato para um Ford.
Teste de desempenho – Ford Bronco Sport
Aceleração:
- 0 a 100 km/h: 7,8 s
0 a 1.000 m:
29,1 s – 180,7 km/h - Velocidade Máxima:
180 km/h - Retomada:
D 40 a 80 km/h: 3,6 s
D 60 a 100 km/h: 4,5 s
D 80 a 120 km/h: 5,8 s - Frenagens:
60/80/120 km/h – 0 m: 14,4/25,2/59,3 m - Consumo:
Urbano: 8,5 km/l
Rodoviário: 12,3 km/l - Ruído Interno:
Neutro/RPM máx.: 39,9/64,3 dBA
80/120 km/h: 61/67,6 dBA - Aferição:
Velocidade real a 100 km/h: 100 km/h
Rotação do motor a 100 km/h em 8ª marcha: 1.750 rpm - Volante:
2,7 voltas
Ficha Técnica – Ford Bronco Sport
- Preço: R$ 256.900
- Garantia: 3 anos
- Motor: gas., dianteiro, transversal, 4 cil., 16V, turbo, 1.999 cm³, 240 cv a 5.500 rpm, 38 kgfm a 3.000 rpm
- Câmbio: automático, 8 marchas, tração 4×4
- Suspensão: ind. McPherson (diant.), multilink (tras.)
- Freios: disco ventilado (diant. e tras.)
- Direção: elétrica, 11,4 (diâmetro de giro)
- Pneus: 225/65 R17
- Dimensões: comprimento, 438,6 cm; largura, 193,8 cm; altura, 179,7 cm; entre-eixos, 267 cm; porta-malas, 482 l; tanque de combustível, 64 litros
- Ângulos: A 30,4/B 24,4/C 33,1°
- Vão livre do solo: 22,3 cm
*Dado de fábrica
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