Desde que a direção da Ford mundial resolveu concentrar sua estratégia de produto em SUVs e picapes, em meados de 2018, a filial brasileira só viu sua linha encolher.
Entre modelos fabricados aqui e importados, a fábrica disse adeus a Fiesta (hatch e sedã), Focus (hatch e sedã) e, mais recentemente, Fusion (sedã). Sem falar da divisão de caminhões, que era uma área de atuação em que a matriz já não investia havia anos, mas ainda resistia no Brasil.
Agora, com o SUV que você vê aqui ao lado, as coisas começam a mudar. O Territory é o primeiro produto da nova fase da marca a desembarcar por aqui.
Até o fim do ano, a Ford do Brasil deve apresentar outra novidade. E, na sequência, chegam a nova geração do EcoSport, prevista para 2021, e pelo menos mais dois SUVs, que serão desenvolvidos no Brasil, devendo estrear nos anos seguintes: um deles em 2022 e outro em 2023.
Tem também uma picape intermediária, mais conhecida como Ford Anti-Toro. Mas esse ainda é um segredo guardado a sete chaves.
O Ford Territory chega às lojas este mês em duas versões, SEL (R$ 165.900) e Titanium (R$ 187.900), as quais nós já testamos e apresentamos a seguir.
O Territory é conhecido nosso. Ele foi anunciado pela Ford às vésperas do Salão do Automóvel de São Paulo de 2018, quando as notícias vindas da matriz ainda estavam sendo digeridas por aqui.
De fato, ele é uma versão ocidentalizada do chinês Yusheng S330, feito pela Jiangling Motor Corporation, parceira da Ford há 25 anos e que produz veículos de passeio desde 2010. Ele estreou no Salão de Pequim de 2016, com linha 2017.
Como outros chineses, em diferentes segmentos, o SUV aposta em duas frentes para conquistar o consumidor. Uma delas é o porte superior à média da categoria. A outra é uma lista de equipamentos recheada.
Enquanto o líder do segmento, o Jeep Compass, mede 4,41 m de comprimento, por 1,82 m de largura e 1,63 m de altura; o Territory tem, respectivamente, 4,58 m x 1,94 m x 1,67 m. Como resultado, o novo Territory oferece espaço suficiente para três adultos viajarem na segunda fileira sem esbarrarem os ombros.
Para você ter ideia, eu, com 1,78 m de altura, cruzo as pernas sem nenhum sofrimento (para quem estiver no meio, o túnel central é baixo e largo). Pena que o assento seja um pouco curto, como uma picape média. Já os bancos dianteiros tratam ainda melhor quem estiver ali, com aquecimento e ventilação sob o revestimento perfurado, além de ajustes elétricos para motorista.
Entre os equipamentos, o Territory estreia central multimídia com Apple CarPlay e carregador para celular, ambos sem fio, assim como o serviço de conectividade que permite controlar funções por meio de um aplicativo, e há comodidades como saídas de ventilação na traseira, porta USB e teto solar panorâmico.
Se você dirigiu algum Ford feito no Brasil, sabe que, por alguns anos, o acabamento não era tão bom, né? Tudo bem que EcoSport e Ka já melhoraram, mas o chinês está um passo à frente, com superfícies macias e bom encaixe das peças.
Só que alguns detalhes deixam a desejar, como difusores de ar com aspecto frágil, manopla de câmbio feita de plástico rígido e hastes atrás do volante inspiradas nos Mercedes (sem ser Mercedes).
Também poderiam melhorar a ergonomia, já que o ajuste de altura dos fachos dos faróis fica escondido sob o painel e existem poucos porta-objetos na cabine.
Pelo menos há uma evolução em relação a outros projetos conterrâneos, como o Caoa Chery Tiggo 5X e o Jac T60, que não têm regulagem de profundidade da coluna de direção e seletor do ar-condicionado com precisão.
Outro reparo: a central multimídia é confusa. Se estiver com o celular conectado à tela, terá que retornar ao menu principal e acessar a aba da ventilação quando for mudar a temperatura.
O sistema também desabilitou funções por vontade própria – como o carregador por indução. Para reativar, apenas com o veículo parado.
Confesso que, desde quando surgiram as primeiras conversas sobre o Territory, ainda em 2018, minha maior preocupação era em relação ao motor 1.5 turbo. Isso porque, apesar das novas tecnologias, que incluem até injeção direta de combustível, esse motor é derivado de um projeto antigo da Mitsubishi, que existe desde 1977.
Para aumentar ainda mais as dúvidas, o ciclo Otto, mais comum, foi substituído pelo ciclo Miller, que privilegia a eficiência e, em troca, compromete o desempenho. Para minha surpresa, no entanto, o SUV se saiu relativamente bem em nossa pista de testes e foi melhor que, veja só, o Compass.
O Territory acelerou de 0 a 100 km/h em 10,8 segundos, contra os 11,8 segundos conseguidos pelo Jeep, na configuração Sport Flex.
Já o consumo foi ruim, com as médias de 9,3 km/l, na cidade, e 11,5 km/l, na estrada. O Compass fez 9,7 km/l e 13,3 km/l, respectivamente. Por aqui, o novato manteve o apetite só para gasolina, já que, ao menos por enquanto, não será flex.
Mas não pense que os engenheiros brasileiros só assinaram embaixo do projeto chinês. Para o carro chegar ao nosso mercado, foram necessárias algumas mudanças. A suspensão, por exemplo, foi um dos sistemas que passaram por novo desenvolvimento. Foram trocados amortecedores, buchas e molas. E o resultado é impressionante.
Como já é comum (e elogiado) entre os carros da Ford, o ajuste é um pouco mais firme, ainda que não comprometa o conforto a bordo. Se quase não houve mudanças no motor, exceto pela adaptação para nossa gasolina batizada com etanol, a nova calibração do câmbio automático CVT também foi outro trabalho essencial para garantir mais disposição ao conjunto mecânico.
Concordo que o Territory não é rápido. E essa nem é a pretensão do SUV, que tem fôlego mais que suficiente para as situações que realmente importam: fazer ultrapassagens em segurança e retomar velocidade sem tanto sofrimento. E posso dizer que, considerando o peso (e o tamanho), a dinâmica merece elogios.
Não se preocupe com a direção leve, porque é apenas para manobras e ela fica mais pesada à medida que a velocidade aumenta. Meu conselho: ignore o modo Sport quase figurativo para curtir o piloto automático adaptativo e o ótimo isolamento acústico.
A missão do Territory não é fácil. E ele chega brigando nas faixas de preços superiores, se posicionando acima da maioria dos rivais como VW Tiguan, Chevrolet Equinox e Mitsubishi Outlander, além do Compass.
Veredicto
O Territory tem bons pontos, como amplo espaço interno e lista de equipamentos recheada. O problema é que o preço acima do Jeep Compass, líder do segmento, acaba com qualquer racionalidade nessa escolha – que também sofre pelo consumo elevado, motor a gasolina. Por esse motivo, o SUV, não terá vida fácil em nosso mercado.
Teste
Aceleração | |
0 a 100 km/h (s) | 10,8 |
0 a 1.000 m (s; km/h) | 32,5/159,1 |
Velocidade Máxima (km/h*) | n/d |
Retomadas | |
D 40 a 80 km/h (s) | 4,7 |
D 60 a 100 km/h (s) | 5,8 |
D 80 a 120 km/h (s) | 8,0 |
Frenagens | |
120/80/60 km/h – 0 (m) | 57,8/24,7/14,1 |
Consumo | |
Urbano/rodoviário (km/l) | 9,3/11,5 |
Ruído interno | |
PM/ Rot. Max/80/120 km/h (dBA) | 44,6/66,3/62,4/68,3 |
Aferição | |
Velocidade indicada (km/h) | 100 |
Velocidade real (km/h) | 97 |
Rotação do motor (rpm) | 1.750 |
Seu bolso | |
Preço (R$) | 187.900 |
Garantia/assistência 24h (anos) | 3 / 1 |
Revisões (3) (R$) | 1.382 |
**Seguro (R$) | n/d |
*Dados de fábrica **TEx/Teleport
Ficha técnica
Preço: R$ 187.900
Motor: gasolina, dianteiro, transversal, 4 cilindros em linha, turbo injeção direta, 16V, 1.490 cm³, 76 x 79 mm, 11,4:1, 150 cv a 5.300 rpm, 22,9 kgfm a 1.500 rpm
Câmbio: automático, CVT, 8 marchas simuladas, tração dianteira
Direção: elétrica, 11,9 m (diâmetro de giro)
Suspensão: McPherson (diant.) / multilink (tras.)
Freios: disco ventilado (diant.) / disco sólido (tras.)
Pneus: 235/55 R17 (SEL) / 235/50 R18 (Titanium)
Peso: 1.602 kg (SEL) / 1.632 kg (Titanium)
Peso/potência: 10,7/10,9 kg/cv
Peso/torque: 69,9 / 71,2 kg/kgfm
Dimensões: comprimento, 458 cm; largura, 193,6 cm; altura, 167,4 cm; entre-eixos, 271,6 cm; vão livre do solo, 21,5; porta-malas, 420 l; tanque de combustível, 52 l
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