Dirigimos o Mercedes Vision AVTR, um carro muito à frente do nosso tempo
Conceito elétrico e autônomo antecipa tecnologias inspiradas no filme Avatar e que prometem chegar às ruas nas próximas décadas
O mundo nem sequer imaginava a pandemia da Covid-19 quando a Mercedes-Benz, ao lado da produtora de Titanic e Avatar – dois dos maiores sucessos de bilheteria do cinema –, apresentou um carro-conceito totalmente elétrico e autônomo.
Mais que isso, o veículo propunha, como nenhum outro, as interações entre humanos, máquina e entorno.
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Durante a apresentação em Las Vegas, nos EUA, realizada no início deste ano, o AVTR subiu ao palco (de lado, como um caranguejo) com Ola Källenius, CEO da marca alemã, e de James Cameron, diretor de ambos os filmes.
Para quem não está habituado aos bastidores da sétima arte, a associação entre o protótipo e a obra futurista lançada em 2009 (com orçamento de US$ 280 milhões, multiplicado por dez em lucros) pode até não fazer muito sentido.
Mas os cinéfilos já devem saber que há quatro sequências da história em preparação para os próximos oito anos. E se algumas das tecnologias apresentadas já estiverem nas ruas até 2028, quando Avatar chegará à quinta edição, então haverá contextualização.
Como já faz mais de uma década que a obra de Cameron chegou às telonas, não custa lembrar que o enredo se passa em Pandora, no ano 2154, mostrando as disputas entre colonizadores humanos e nativos, chamados Na’vi, pelos recursos naturais – um cenário que soa cada vez menos como ficção científica.
Os primeiros esboços começaram em 1994, mas o diretor esperou que a tecnologia estivesse suficientemente avançada para dar início às gravações. Nesse sentido, a Mercedes-Benz também se mostra visionária ao imaginar uma realidade para longo prazo.
“Em 2039, seremos uma empresa 100% neutra em emissões de carbono na produção de veículos motores na Europa, EUA e Japão, objetivo que se estenderá aos carros em circulação até 2050. Esse projeto [Vision AVTR] antecipa algumas ideias que farão parte desse futuro”, explica Gorden Wagener, vice-presidente de design da Daimler AG.
Desde o primeiro (e até agora único) desfile mundial, o Vision AVTR tinha a agenda recheada de compromissos por todo o mundo.
Só que o novo coronavírus roubou todo o protagonismo nos meses seguintes, à medida que os salões do automóvel foram caindo como peças de dominó – foi assim em Genebra, na Suíça, em março; e Pequim, na China, em abril, por exemplo.
Além de futurista, o modelo acabou se tornando completamente virtual. Pelo menos até sermos convidados para uma breve experiência com o carro.
Assim que chegamos ao aeroporto militar abandonado em Baden, na Alemanha, a 100 km de Stuttgart (sede da Mercedes-Benz), disseram que o “ser” estava escondido dentro do hangar, para mantê-lo protegido dos olhares indiscretos e sob temperatura controlada.
E lá estava o modelo que antecipa os próximos passos da marca, com fibras pulsantes por toda a carroceria, como se fossem veias. O conjunto de luzes também mostra o fluxo de energia rumo às rodas. Tudo para lembrar a bioluminescência do universo de Pandora, onde plantas e animais brilham à noite.
Tudo bem que, àquela altura, já tinham se passado seis meses do batismo na Cidade do Pecado. Mas esse tempo não retirou um pingo de espetacularidade do protótipo: não há portas ou janelas, o que já seria capaz de intrigar as pessoas.
Só que, talvez, ainda mais chamativo é o aspecto de réptil reforçado pelas 33 válvulas biônicas (como “escamas nas costas”), que se movem com as acelerações. O resultado varia de máquina do tempo a ser vivo motorizado.
“Colocamos todo o foco em materiais orgânicos e funções que remetem a organismos, como as miniportas transparentes que sobem, em vez de abrir.
Por outro lado, o painel simboliza a Árvore das Almas, o lugar mais sagrado para a civilização Na’vi, de Avatar, e que é uma superfície para projeção de imagens 3D do exterior, muitas das quais só poderiam ser vistas do céu”, diz Wagener.
Bastaram alguns minutos a bordo do disco voador envidraçado para que o suor escorresse pela testa – lembrando que, por ser um protótipo, não há isolamento térmico.
Só que isso não significa que a Mercedes-Benz abriu mão dos cuidados na cabine, que é feita somente com insumos orgânicos e veganos, como bancos sintéticos e piso de karuun rattan, elemento sustentável feito de caules ocos de palmeiras.
O princípio de que tudo está interligado é reforçado quando o carro afere sinais vitais para ajustar clima e iluminação.
No Vision AVTR, não há telas sensíveis ao toque e muito menos botões físicos: basta levantar o braço direito para ter uma projeção na palma da mão capaz de controlar itens individuais dos menus.
Na revolução da cabine, volante e pedais também foram aposentados e deram lugar a uma peça esponjosa, com aspecto e toque orgânico, capaz de acelerar, frear e virar – além de reconhecer o ritmo cardíaco do condutor.
Toda essa experiência remete à ideia de que somos transportados por um ser vivo, na tal fusão de homem e máquina.
Basta empurrar o joystick ligeiramente para a frente, que o OVNI de 2 toneladas se move silenciosamente. E, mesmo sendo um laboratório (muito caro) sobre rodas, o protótipo tem boa desenvoltura até 50 km/h, limite ao qual nós estivemos autorizados a “viajar no tempo”.
Considerando um futuro autônomo, será possível deixar o controle na base e delegar a condução ao próprio carro, que comandará tudo ou somente a direção.
Em vez de músculos e tendões, essa máquina tem quatro motores elétricos, com 475 cv de potência cada um – que atuam individualmente nas rodas, que articulam até 30 graus.
Não menos importante, o conjunto de baterias usa uma química inovadora de células orgânicas à base de grafeno e está livre de qualquer metal pesado, como níquel ou cobalto.
Com capacidade de 110 kWh, promete autonomia de até 700 km com apenas uma carga, como já será no EQS, que chegará em 2021.
Mesmo que ainda pareça um sonho muito distante, o Mercedes-Benz Vision AVTR tem princípios que poderemos ver nos automóveis de produção nas próximas duas décadas. Ou, com sorte, talvez até em prazos mais curtos. Como a própria trama do filme Avatar, essa ficção científica não foge tanto assim da realidade.
Veredicto
O Vision AVTR ainda é apenas um conceito distante da realidade atual, mas indica os próximos passos da marca para criar veículos cada vez mais ligados aos ocupantes. Será uma boa notícia se parte dessas funções chegarem às ruas nas décadas que virão.
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