O Toyota Corolla é um fenômeno. Em 2017 o sedã médio emplacou 66.188 unidades, ficando com a sétima posição entre os carros mais vendidos do Brasil. Isso, com preços que variam entre R$ 90.990 e R$ 118.990.
Ou seja: o Corolla custa o dobro de um Etios Sedan, mas vende o dobro do irmão menor.
Para entender o por quê de tanto sucesso, escalamos a versão GLi Upper, a mais barata.
O antigo Corolla GLi, de R$ 69.990, destinado a frotistas e vendas com isenção de impostos para pessoas com deficiência (saiba mais aqui) deixou de existir, deu lugar ao Yaris Sedan.
Há uma lógica na escolha: por ter menos equipamentos, o Corolla GLI Upper deixaria os predicados do sedã mais evidentes, certo?
Pode ser. Mas o Upper tem bons atributos. Sai da fábrica de Indaiatuba (SP) com ar-condicionado manual, direção eletrohidráulica, rodas de 16 pol, coluna de direção com regulagem de altura e profundidade, sistema de som com USB e Bluetooth, vidros e retrovisores elétricos, volante multifuncional e bancos de couro.
A partir da linha 2018, passou a contar com controles de estabilidade e tração, assistente de partida em rampas e 7 airbags. Além disso, os faróis têm luz de posição de LED, mas não há faróis de neblina.
Na verdade, é o GLi Upper quem não consegue justificar um valor tão mais caro entregando tão pouco em troca. Falta refinamento para um carro de quase R$ 92 mil.
Embora tente convencer do contrário com a superfície do painel e os paineis de porta dianteiros emborrachados e o ambiente interno com detalhes e bancos em tom claro de cinza, o Corolla Upper empolga tão pouco quanto um sedã compacto premium.
Bem, um Chevrolet Cobalt ou Honda City têm preço ao redor dos R$ 70 mil pedidos no GLi. Além dos recém-lançados Fiat Cronos e Volkswagen Virtus.
Basta olhar mais atentamente para ver que o Corolla Upper não tem qualquer detalhe cromado nas saídas de ar, não tem espelho no parassol do motorista e que seu volante multifunção só tem comandos de um lado.
Como o GLi tem quadro de instrumentos mais simples, com computador de bordo menos sofisticado que o das versões mais caras, é necessário apenas um botão para mudar as informações exibidas para o motorista.
O rádio, com leitor de CD, USB e Bluetooth também é simples. E ainda bem que a Toyota manteve os comandos do som no volante, porque os botões do próprio rádio não são nada intuitivos.
Além disso, é quase impossível ler o que aparece em sua tela sob a luz do dia. Nos compactos premium encontra-se central multimídia ou um rádio mais digno.
Mas há contrapartidas. Uma delas é o espaço interno, bom tanto para os ocupantes dos bancos da frente como para os que sentam-se atrás. E ainda sobra excelentes 470 litros de capacidade no porta-malas.
O comportamento dinâmico também é irretocável. A Toyota deixou a suspensão de seu sedã favorito mais firme na linha 2018, o que diminuiu a rolagem da carroceria em curvas e trechos sinuosos.
Com volante e pedais também bem calibrados, este é o primeiro Corolla nacional que pode ser indicado para quem gosta de dirigir. Não tem distribuição de peso 50/50 como o Corolla AE86 da década de 80 (aquele usado por Takumi Fujiwara em Initial D, mas é bom.
Menos é mais
Apenas os Corolla GLi mantém o motor 1.8 16V, que foi o principal motor do modelo de 1992, quando começou a ser importado para o Brasil, até 2010, quando o 2.0 16V roubou a cena por puro marketing.
A cultura do motor grande ainda existe no Brasil, mesmo em tempos de turbo e injeção direta.
Mesmo em segundo plano há sete anos, o motor 1.8 ainda tem bastante fôlego. São 144/139 cv a 6.000 rpm e torque máximo de 18,6 mkgf/17,7 mkgf a 4.800 rpm, bons números para um motor deste deslocamento.
O Corolla 1.8 é ágil e embala com vigor. E olha que o câmbio é CVT, o mesmo com simulação de sete marchas usado com o motor 2.0, mas sem modo “Sport”.
Nem precisa dele… Na pista de testes o 1.8 confirmou o que já se esperava: chega aos 100 km/h mais rápido que o 2.0!
Corolla XEi 2.0 CVT | Corolla GLi 1.8 CVT | |
Aceleração de 0 a 100 km/h | 10,6 s | 10,3 s |
Aceleração de 0 a 1.000 m | 31,9 s – 166,5 km/h | 31,6 s – 167,4 km/h |
Retomada de 40 a 80 km/h (em D) | 4,29 s | 4,44 s |
Retomada de 60 a 100 km/h (em D) | 5,66 s | 5,75 s |
Retomada de 80 a 120 km/h (em D) | 7,3 s | 7,4 s |
Frenagem de 60 / 80 / 120 km/h a 0 | 16,8 / 28,9 / 66,9 m | 17 / 28,8 / 66,6 m |
Consumo urbano | 10,9 km/l | 11,1 km/l |
Consumo rodoviário | 14,6 km | 14,7 km/l |
Ruído interno (neutro / RPM máximo) | 34,7 / 74 dBA | 34,6 / 75,8 dBA |
Rotação do motor a 100 km/h em 5ª marcha | 1.900 rpm | 2.000 rpm |
Volante | 3,3 voltas | 3,3 voltas |
O motor 2.0 gera 154 cv/143 cv a 5.800 rpm e torque máximo de 20,7 mkgf/19,4 mkgf a 4.000 rpm. É o torque maior que joga a seu favor nas retomadas, sensivelmente mais rápidas.
Mas a vantagem sobre o 1.8 é tão pequena quanto a diferença de consumo dos dois motores. Podemos falar em empate técnico.
Ou seja: o Corolla é um bom sedã que não precisa de motor 2.0.
Apesar das qualidades técnicas, o Corolla 1.8 GLi Upper não tem equipamentos que justifiquem os R$ 91.990 pedidos. Comprar uma versão com motor 2.0 é inevitável.
A versão seguinte, XEi 2.0 CVT, soma tudo aquilo que se espera de um sedã médio: ar-condicionado digital (uma zona), partida por botão, retrovisor interno fotocrômico, controle de velocidade de cruzeiro, faróis de neblina dianteiros, sensor crespuscular, computador de bordo com tela TFT colorida, sistema multimídia com tela de 7 polegadas, DVD, GPS, TV digital e câmera de ré.
Mas custa R$ 105.990. Mesmo assim, responde por metade das vendas do Corolla. O GLi Upper responde por 20%, por exemplo.