Teste: Volkswagen Polo GTI, o esportivo de casta nobre mais caro que Golf
Versão esportiva do hatch fazia jus às três letras que aceleram o coração dos fãs de marca – mas cobrava caro por isso
Publicado originalmente em novembro de 2006
A visão de três letrinhas “GTI” associadas ao nome do modelo sempre fizeram toda a diferença entre os entusiastas da Volkswagen. Por aqui, sua primeira aparição foi em 1989, no Gol GTi (e naquela época o “i” era minúsculo mesmo), o primeiro carro nacional a ter injeção eletrônica de combustível.
Desde sua criação, a sigla, que hoje significa Gran Turismo International, é sinônimo de comportamento esportivo. Em todos esses anos, não conheço um Volkswagen que trouxesse a sigla estampada que não tenha feito jus à alta patente.
Com o Polo GTI não seria diferente. Ao olhar para o pequeno esportivo, você já começa a entender por quê. As rodas são aro 16 e seu desenho é inspirado nas do Golf GTI europeu (não é demais lembrar que lá ele já está na quinta geração).
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Elas trabalham com pneus 205/45 R16 e deixam à mostra os discos dianteiros ventilados de 28,8 centímetros de diâmetro “3,6 centímetros maiores que os do Polo 1.6 nacional” e as pinças vermelhas. O Polo GTI carrega um discreto aerofólio traseiro e uma saída dupla e cromada de escape.
Na dianteira, as novidades são os faróis com máscara preta e a grade, ladeada por um friso vermelho com a sigla GTI e formada por hexágonos, lembrando uma grande colmeia. A julgar pela aparência, alguma dúvida quanto ao caráter do carro?
Se você é daqueles para quem não basta ver para crer, por trás da colmeia fica o mel que este Polo guarda sob o capô. O motor você já conhece. Trata-se do quatro-cilindros, 1,8 litro, sobrealimentado, com 150 cv, que já equipou o Audi A3 nacional e também o “velho Golf GTI” o atual tem 180 cv.
Vale ressaltar que, com pequenas alterações na pressão da turbina (passando de 0,5 bar para 0,7 bar) e no mapeamento do chip, esse mesmo motor pode pular para os 180 cv e, com mais pressão ainda, chegar até os 225 cv, como no antigo Audi S3.
O câmbio manual de cinco marchas teve suas relações alteradas para trabalhar com as novas curvas de torque – apesar do turbo, o GTI tem torque máximo já nas 2 000 rpm – e potência.
A receita ficou saborosa. O carro precisou de 7,9 segundos para chegar aos 100 km/h, em nosso campo de provas em Limeira (SP), um número melhor que o divulgado pela fábrica.
E que supera em seis décimos de segundo a marca apurada em março de 2003 pelo Golf GTI VR6, que tem 200 cavalos sob o capô e câmbio manual de seis marchas, mas que pesa 190 quilos a mais que o Polo GTI.
Mas vamos abstrair a objetividade fria dos números. Fiquemos, por enquanto, no território das sensações. O ronco do GTI é bem mais encorpado que o de um Polo comum. É mais grave e mais alto.
Basta acelerar para que o mundo ao redor perceba que não se trata de um Polo qualquer. Nem por isso os níveis de ruído chegam a incomodar. Com 62,4 decibéis a 80 km/h, ele se encaixa na média dos compactos vendidos por aqui.
Se o Polo “civil” já é um carro bom de se guiar, o GTI excede. As alterações começam na suspensão. A geometria é comum às duas versões, mas o esportivo tem molas menores e mais rígidas.
Com isso, além de reduzir a inclinação da carroceria, este Polo está 1 centímetro mais próximo do solo (são 11 centímetros), levando para baixo o centro de gravidade. Os pneus mais largos e de perfil baixo também conspiram a favor na hora de executar traçados mais audaciosos.
Mesmo entrando mais forte nas curvas, o Polo se mantém firme na trajetória estabelecida. No limite da aderência, o carro apresenta tendência a sair de frente, que pode ser corrigida com mais esterço no volante ou aliviando-se o pé do acelerador.
Quando você errar a dose e o carro começar a escapar, a atuação sensível do controle de estabilidade vai evitar descaminhos. Não que eu recomende, mas o sistema pode ser desligado pressionando-se um botão no console central, acima do rádio.
No interior, as principais mudanças ficam diante dos olhos e mãos do motorista. No painel, além de mostradores exclusivos – mas que mantêm a iluminação azul – , o GTI ostenta um console central diferente, com acabamento de alumínio. Nele, além do rádio e dos instrumentos do ar-condicionado, fica o já citado botão que desliga o controle de tração.
Além disso, o GTI conta com outros detalhes exclusivos. O volante é revestido de couro e tem costuras vermelhas. O mesmo acontece com o pomo da alavanca de freio de mão e com a cobertura de couro da alavanca de câmbio. Os detalhes vermelhos estão presentes até no cinto, que tem dois filetes nas bordas. Pedais de alumínio complementam o visual.
Os bancos também têm algo diferente. Além dos apoios laterais abaulados, levam um revestimento exclusivo xadrez. Batizada de Interlagos, a padronagem estaria mais ambientada na Escócia. Por aqui, carros dessa categoria costumam sair com couro da fábrica. O GTI utiliza revestimentos mais escuros no interior. Tanto nos plásticos do painel e das portas quanto no teto, o preto domina.
O espaço interno, assim como o porta-malas de 285 litros, é idêntico ao dos outros Polo. Já o acesso ao banco traseiro pode ser mais complicado, uma vez que o GTI existe apenas na versão duas portas.
No primeiro lote de importação, a Volkswagen trouxe 30 GTI para o Brasil. Destes, cinco foram para a frota de imprensa (o da foto é um deles), cinco foram para executivos da montadora e os 20 restantes foram colocados à venda ao preço de R$ 99.800*. É muita bala.
É mais dinheiro do que a VW pede por um Golf GTI, vendido a R$ 87.000**, e do que a Fiat pede pelo Stilo Abarth, que custa R$ 89.700***. A mais que um Polo comum, ele traz de série ar-condicionado digital, duplo airbag, controle de tração e estabilidade e todas as modificações mecânicas que fazem dele um membro da estirpe GTI.
Se você não liga para números (os da conta bancária, não os de pista), pode terminar de ler a revista com calma. Os planos da Volkswagen são de trazer cerca de 50 GTI por ano, divididos em dois lotes, enquanto houver procura pelo carro.
Veredicto
A brincadeira é divertida a bordo do GTI. As arrancadas são vigorosas, assim como as retomadas. É difícil controlar os impulsos do pé direito. Pelo menos o GTI conta com suspensão acertada e bom sistema de freio. Pena que o preço do carro beire os R$ 100.000 pela importação da Espanha.
Suspensão
Cumpre o que promete: firmeza nas curvas e mais aderência do que em um Polo comum.
Ao volante
O GTI brinda seu motorista com uma tocada esportiva. A boa ergonomia foi herdada do Polo.
Carroceria
Só existe na configuração de duas portas, que tem quase a mesma rigidez torcional que a de quatro, segundo a VW.
Motor e câmbio
É o ponto forte do carro: a alta cavalaria cai bem com seu porte e peso. Quem quiser ainda pode jogar a potência para os 180, como no Golf GTI.
Mercado
Caro é apelido. Por R$ 99.800 dá para comprar um Golf GTI nacional, pagar seu seguro e ainda levar troco. É o preço da exclusividade: só existem 29 iguais a esse por aqui.
Os rivais
VW Golf GTI
Não chega a ser um rival. É mais um companheiro de aventuras. Por ser nacional, é mais barato que o Polo. Mas muda no ano que vem. E para melhor. Vale a pena esperar o novo.
Fiat Stilo Abarth
É concorrente direto… do Golf. Mas indiretamente disputa o pequeno mercado de esportivos com o Polo. Tem motor de cinco cilindros, com 2,4 litros e 167 cavalos. Também é mais barato: custa 89750 reais.
Ficha técnica
Motor/posição – dianteiro, turbo / transversal
Construção/cabeçote/cilindrada (cm3) – 4 cilindros em linha / 8 válvulas / 1 781
Diâmetro/curso (mm) – 81 / 86,4
Taxa de compressão – 9,3:1
Potência (cv a rpm) – 150 a 5 700
Torque (kgfm a rpm) – 22,4 a 1 950
Câmbio (tipo/marchas/tração) – manual / 5 / dianteira
Direção (tipo/nº voltas) – hidráulica / 3 voltas
Suspensão dianteira – independente, tipo McPherson
Suspensão traseira – eixo de torção
Freios (tipo/dianteiro/traseiro) – hidráulico / disco ventilado / disco
Pneus – 205/45 R16
Dimensões
Comprimento/entreeixos (cm) – 391 / 246
Altura/largura (cm) – 146 / 165
Porta-malas (litros) – 285
Peso (kg) – 1 164
Peso/potência (kg/kgfm) (G) – 7,8
Peso/torque (kg/kgfm) (G) – 52,0
Diâmetro de giro (m) – 10,3
Equipamentos
Conforto
Ar-condicionado/direção hidráulica – s / s
Rodas de liga leve/pintura metálica – s / s
CD player/comandos no volante – s / –
Vidros/travas elétricos – s / s
Espelhos/teto solar elétrico – s / –
Banco traseiro rebatível 2/3 / 1/3 – s
Câmbio automático/cruise-control – – / –
Computador de bordo/bancos de couro – s / –
Segurança
ABS/BAS/EBD – s / s / s
Controle de tração/estabilidade – s / s
Airbags (frontais/laterais/cabeça) – s / – / –
Encosto de cabeça/cinto de 3 pontos para 5º passageiro – s / s
Alarme/imobilizador/brake-light – s / s / s
Teste
Desempenho
0-100 km/h (s) (G) – 7,9
0-1000 m (s) (G) – 29,3
3ª 40 a 80 km/h (s) (G) – 5,4
4ª 60 a 100 km/h (s) (G) – 7,2
5ª 80 a 120 km/h (s) (G) – 10,2
Velocidade máxima (km/h) (G) – 205
Frenagem 120/80/60 km/h a 0 (m) – 56,7 / 25,4 / 14,3
Ruído interno PM/RPM máx (dB) – 46,4 / 69,3
Ruído interno 80/120 km/h (dB) – 62,4 / 66,5
Velocidade real a 100 km/h (km/h) – 96,4
Seu bolso
Preço do carro – R$ 99.800*
Garantia – 1 ano sem limite de km
Número de concessionárias – 635
Consumo cidade (km/l) (G) – 9,7
Consumo estrada (km/l) (G) – 13,1
Tanque de combustível/autonomia (l)/(km) – 45 / 589,5
Correções de inflação
* VW Polo GTI: R$ 99.800 (R$ 211.043 na correção pelo índice IPCA);
** VW Golf GTI: R$ 87.000 (R$ 183.975 na correção pelo índice IPCA);
*** Fiat Stilo Abarth: R$ 87.900 (R$ 185.879 na correção pelo índice IPCA).
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