Teste: VW Polo Highline 2023 não é mais o mesmo, mas faz quase 19 km/l
Volkswagen Polo 2023 foi simplificado para ficar mais barato e eficiente, mesmo na versão mais cara
Barras de chocolate de 200 gramas envoltas por alumínio e papel acabaram. Deram lugar a barras de 90 g em embalagem plástica. Isso é o que se vê em um primeiro momento, pois só quem ler o rótulo será capaz de notar gorduras tomando o lugar da manteiga de cacau na lista de ingredientes. O chocolate não derrete na boca como antes, mas conseguiram manter o preço mesmo com inflação.
Se o Volkswagen Polo 2023 viesse embalado, seu rótulo indicaria “Nova fórmula” e algumas frases convincentes como “Menor consumo” e “Preço reduzido”. Mas nem mesmo a versão mais completa, como o Polo Highline Vermelho Sunset das fotos, é como antes. O Polo mudou mais do que parece e até ficou mais barato, mas é possível se acostumar a essa nova receita?
Respondendo de uma vez: provavelmente você se acostumará, sim, mas com gostinho um pouco rançoso que não havia antes. A Volkswagen precisou simplificar o Polo para torná-lo competitivo em um segmento dominado por Hyundai HB20 e Chevrolet Onix.
Isso porque ser um carro com qualidades técnicas e itens mais sofisticados que, a priori, nem todo mundo valoriza, é caro e se tornou um fardo. Além disso, até janeiro o Polo assume a histórica posição de Volkswagen mais barato do Brasil, porque o Gol está saindo de linha – terá até uma série de despedida, Last Edition, só para colecionadores, que ainda é mantida a sete chaves.
E deu resultado, porque o preço do Polo Highline baixou de R$ 116.990 para R$ 109.990. O Chevrolet Onix Premier custa R$ 106.230 e o Hyundai HB20 Platinum Plus, R$ 114.890. Mas é preciso entender a que custo isso foi possível.
Nova embalagem
Esta nova fase do Volkswagen Polo pode ser reconhecida pela dianteira que acompanha o visual do novo modelo europeu, com para-choque sem faróis de neblina, grade com friso cromado na base e novos full-led de série com uma quebra para baixo nas extremidades.
Na lateral, rodas de 16 polegadas com desenho aerodinâmico que remete ao do Golf GTE – antes a versão Highline vinha com rodas aro 17 – é uma novidade. Na versão mais cara, a plaquetinha no para-lama, que identifica a versão, deixou de ter um prolongamento na porta.
A traseira do Polo brasileiro tem visual próprio. Em vez de lanternas invadindo a tampa do porta-malas, mantiveram o formato de antes e passaram a ser pretas. O para-choque é novo, mas deste lado do Atlântico os refletores são mais estreitos e ficam em posição mais alta. Por fim, o nome do carro foi para o meio da tampa, novo padrão na VW.
Por outro lado, perderam a oportunidade de colocar algum mecanismo para abertura do porta-malas. O compartimento de 300 litros só pode ser aberto ou por botão na chave ou por comando na central multimídia VW Play. Você não precisa pegar a chave para entrar no carro ou ligar o motor, mas precisa dela para abrir o porta-malas.
Por dentro, o tom dos plásticos mudou de cinza-claro para cinza-escuro e a faixa central é brilhante e texturizada. Os bancos dianteiros passam a ter o encosto de cabeça inteiriço e uma forração com desenho mais interessante e, pelo menos no Highline, as portas ganham forração de tecido nas laterais do apoio de braço.
O porta-objetos à frente da alavanca de câmbio, além de estar mais profundo, tem carregador sem fio para smartphones e duas portas USB-C (que se repetem para o banco de trás).
Se o volante é o mesmo de Nivus e Taos, não foi desta vez que o VW Polo ganhou sistemas avançados como frenagem autônoma de emergência e piloto automático adaptativo. O botão no volante que controlaria tais itens não tem função. Os comandos sensíveis ao toque para o ar-condicionado parecem novos, mas foram incorporados na virada do ano e a falta de uma segunda zona de temperatura deixa espaços vazios.
O Up! TSI saiu de linha no início de 2021 e o Polo 1.6 MSI, no final. Mas ambos deixaram um legado. O motor 170 TSI do Up! passou por atualização, foi dos 105 cv para 116 cv com etanol mantendo os 16,8 kgfm e agora ocupa o lugar do 200 TSI, que tinha 128 cv e 20,4 kgfm.
Não à toa a VW desistiu dos números que identificam o motor e agora há apenas um “TSI” na traseira. Isso não significa a morte do motor 1.0 turbo mais potente. A VW preferiu deixar o 200 TSI restrito aos seus SUVs.
Com essa alteração no torque, muda a versão do câmbio automático de seis marchas: sai o AQ250 e retorna o AQ160 que era usado pelo antigo Polo 1.6, que tinha 118 cv e 16,8 kgfm. A diferença está no torque que cada uma suporta. O motor mais fraco também chancela a troca dos freios a disco nas rodas traseiras pelo conjunto com tambor, unanimidade entre os compactos. Os discos e o câmbio mais parrudo permanecerão no novo Polo GTS, que ainda será lançado.
Mesmo com o conjunto menos robusto, agora o VW Polo freou melhor do que antes em todas as medições que fizemos: de 60 km/h a 0, estancou em 14,1 m contra 15,6 m do modelo antigo e de 120 km/h a 0 precisou de 57,5 m contra 61,9 m, quando tinha discos sólidos na traseira.
Já deu para entender de onde saíram os R$ 7.000 de “desconto” no preço na mudança da linha 2022 para a linha 2023. Mas qual é o resultado prático? Com menos força no motor, há menos desempenho: a aceleração de 0 a 100 km/h piorou de 10,6 s para 11,8 s. Não é de todo ruim, ainda mais vendo que o consumo melhorou a ponto de chegar aos 12,9 km/l no regime urbano e 18,6 km/l no rodoviário, contra 12,1 km/l e 16 km/l do modelo antigo, respectivamente. Sempre rodando com gasolina.
Depois de um tempo com o novo Polo, a impressão é de que o carro até parece melhor. Alguns cacoetes, como os trancos com o motor frio e o câmbio forçando o freio para andar quando o carro está parado, ficaram para trás. Tudo bem que o sistema start-stop também ajuda nisso, desligando o veículo quando está parado. E, por falar nele, cada vez que liga o motor faz questão de lembrar que ele é um três-cilindros e vibra como tal.
Em funcionamento, esse motor é mais suave e menos áspero que sua versão mais potente. Além disso, a programação do “novo” câmbio não força o uso de marchas mais baixas para inspirar alguma esportividade. Muito pelo contrário: em muitas ocasiões, insiste em manter a terceira marcha mesmo com o acelerador no final do curso. Se antes era mais proativo, agora só reduz para a segunda após pressionar o botão do kickdown. Faz parecer que o câmbio piorou, mas é apenas mais um dos segredos para controlar o consumo no dia a dia.
Os pneus mais altos, com perfil 55, deixaram o rodar do Polo Highline mais suave, como se notava nas versões inferiores no passado. Mas o comportamento dinâmico é praticamente o mesmo, bom mas ainda transfere imperfeições aos ocupantes. E ainda raspa em rampas e valetas com certa facilidade.
A Volkswagen conseguiu colocar o Polo mais caro na mesma faixa de preço dos outros hatches 1.0 turbo. É um avanço, ainda que eles tenham seis airbags e o Polo apenas quatro. Ao mesmo tempo, conseguiram distanciar o hatch da VW do T-Cross Sense (R$ 114.850) e do Nivus Comfortline (R$ 121.670), este sim com pacote de segurança completo.
Veredicto – O Polo 2023 não é o melhor já feito no Brasil, mas certamente é o mais competitivo. Seria essa a receita para se tornar, enfim, um sucesso de vendas?
Teste Quatro Rodas – Volkswagen Polo Highline 2023
Aceleração
0 a 100 km/h: 11,8 s
0 a 1.000 m: 32,9 s – 161,7 km/h
Velocidade máxima: n/d
Retomadas
D 40 a 80 km/h: 4,7 s
D 60 a 100 km/h: 5,9 s
D 80 a 120 km/h: 8 s
Frenagens
60/80/120 km/h a 0: 14,1/25/57,5 m
Consumo
Urbano: 12,9 km/l
Rodoviário: 18,6 km/l
Ruído interno
Neutro/RPM máx.: 42/63,4 dBA
80/120 km/h: 63,8/69,1 dBA
Aferição
Velocidade real a 100 km/h: 96 km/h
Rotação do motor a 100 km/h: 1.800 rpm
Volante: 2,7 voltas
Seu Bolso
Preço básico: R$ 109.990
Garantia: 3 anos
Galeria de fotos – Polo Highline 2023
Ficha Técnica – Volkswagen Polo Highline 2023
Motor: flex, diant., transv., 3 cil. em linha, turbo, 999 cm3; 12V, 116/109 cv a 5.000 rpm, 16,8 kgfm a 1.750 rpm
Câmbio: automático, 6 marchas, tração dianteira
Suspensão: McPherson (diant.), eixo de torção (tras.)
Direção: elétrica
Freios: disco ventilado (diant.); tambor (tras.)
Pneus: 195/55 R16
Dimensões: comprimento, 407,4 cm; largura, 175,1 cm; altura, 147 cm; entre-eixos, 256,6 cm; peso, 1.146 kg, porta-malas, 300 litros; tanque, 52 litros