A Toyota terminou 2021 como a montadora de automóveis nº 1 do mundo e mais de 10 milhões de veículos vendidos. Além disso, pela primeira vez em nove décadas liderou o mercado dos Estados Unidos, no ano passado. Mas parece que não bastou: a maior fabricante de automóveis do planeta sofre críticas por estar atrasada no programa de carros elétricos.
A boa notícia é que isso está mudando. Comece por se acostumar com a sigla bZ.
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Ela identifica a nova submarca da Toyota e representa as iniciais de Beyond Zero – “além da emissão zero”, em tradução livre. A nova família está para a Toyota assim como a nomenclatura ID está para a Volkswagen, e simboliza uma ofensiva elétrica da gigante japonesa.
No fim do ano passado, a empresa informou que pretende produzir 3,5 milhões de automóveis elétricos até 2030. No total, serão 30 modelos, sendo que sete deverão estar rodando até 2025. E o primeiro é este bZ4X, que chega agora à Europa, como linha 2023, com preço inicial de 48.500 euros.
Sua base é a arquitetura e-TNGA. O “4” representa o tamanho (semelhante ao RAV4) e indica que, a exemplo da família VW ID, haverá bZ2, 3, 5 etc. O “X” sinaliza que estamos falando de um crossover. Seus principais rivais serão o VW ID.4, o Kia EV6, o Hyundai Ioniq 5 e o Ford Mustang Mach-E. Mas isso na Europa.
No Brasil, a linha bZ não está nos planos da Toyota. A empresa informou que segue apostando na tecnologia híbrida flex “como a mais adequada para a realidade brasileira”.
Teste camuflado
Esta primeira oportunidade de experimentar o carro foi feita em um exemplar de pré-produção ainda camuflado, na região de Barcelona, na Espanha.
O bZ4X se caracteriza pelas linhas retas e pela carroceria repleta de arestas. A frente cheia de personalidade tem a forma de “cabeça de martelo”. Os arcos das caixas de rodas são bem largos e as lanternas traseiras são proeminentes, preenchendo a largura generosa do veículo.
Haverá opção de tração dianteira (204 cv) e nas quatro rodas (218 cv provenientes de dois motores de 109 cv, um em cada eixo), como a que dirigimos. A bateria de íons de lítio de 71,4 kWh é refrigerada a água.
O longo entre-eixos (2,85 m, ou 16 cm mais que o RAV4) abre espaço para um interior generoso, que você nota ao se sentar no banco traseiro. A ampla largura também irá beneficiar o passageiro central. Além disso, não há túnel interferindo nos pés e nas pernas. O teto alto acolhe sem restrições passageiros de até 1,90 metro de altura.
Já o volume do porta-malas é de 452 litros (incluindo a área abaixo do assoalho), claramente inferior ao do RAV4 (520 l a 580 l), e também menor do que a maioria de concorrentes como Mustang Mach-E (502 l) e VW ID.4 (543 l).
Energia solar
O enorme teto solar enche a cabine de luz e é capaz de captar a energia que alimenta a bateria. Em países mais ensolarados, pode fornecer até “1.800 km de autonomia em um ano”, segundo os engenheiros da Toyota. Faltou explicar qual a irradiação necessária para que um país seja considerado “mais ensolarado”.
O painel de instrumentos de 7” acima do volante está em posição semelhante à que a Peugeot definiu como i-cockpit, que visa dar à tela a função de head-up display. O problema é que o aro superior do volante pode cobrir parte das informações para alguns motoristas.
A tela central tátil de 12,3” é nova, mostrando melhores gráficos e proporcionando uma operação geral mais intuitiva em relação aos Toyota atuais.
O botão giratório no console central controla a transmissão da única marcha. À direita você encontra o comutador para o Modo Eco, que visa a autonomia. E há ainda a opção do Modo X, que emprega tecnologia da Subaru para terrenos com aderência limitada.
A Toyota é dona de 20% da Subaru, e a marca, que tem muita tradição em terrenos off-road, contribuiu com o desenvolvimento do bZ4X principalmente nessa área. Além do painel intuitivo, o modelo oferece tecnologia de reconhecimento de voz e integração sem fio de dispositivos Android e Apple.
O que incomoda é que o motorista precisa focar e refocar a visão mais do que gostaria, a partir de três áreas de visão distintas: o exterior, através do para-brisa; o painel de instrumentos, com aspirações a ser head-up display; e a grande tela central.
Outra solução com evidente margem para melhorar é a qualidade dos materiais. Há excesso de plástico duro e barato. Para completar o lado negativo, o motorista fica um pouco “preso” entre o painel da porta excessivamente largo e o console central intrusivo.
O desempenho é satisfatório, considerando que estamos em um carro de 2 toneladas. Os 36,7 kgfm de torque instantâneo garantem aceleração de 0 a 100 km/h em 6,9 segundos, de acordo com a Toyota. A máxima é limitada estrategicamente a 160 km/h.
O bZ4 agradou em termos de dirigibilidade e rigidez torcional do chassi. A arquitetura TNGA já provou seus méritos no Corolla, RAV4 e Prius. Agora com o prefixo “e” a sensação é ainda melhor, graças à instalação da bateria no assoalho, que reduz o centro de gravidade.
Em casa na trilha
Os movimentos laterais da carroceria são muito bem controlados, sem comprometer o conforto em estradas ruins. E a frenagem se mostrou muito competente, incluindo a progressividade do pedal do freio, um dos calcanhares de aquiles de muitos carros elétricos. Na maioria deles, nos primeiros 30% do curso do pedal quase não se sente desaceleração.
O pequeno volante ajuda a tornar a experiência de dirigir o bZ4 como algo bastante envolvente. A Toyota vai lançar futuramente um sistema steer-by-wire (sem ligação mecânica entre a direção e as rodas), com um volante futurista e que promete resposta mais rápida e direta e ângulo máximo de rotação de 150 graus.
Na trilha off-road, o bZ4X mostrou estar em casa. A aderência é excelente sobre cascalho e, à medida que as condições do pavimento se deterioraram, o bZ4X continuou como se nada estivesse acontecendo, mesmo sobre lama profunda. Tudo o que o motorista precisa fazer é alternar entre os dois modos de condução do sistema XMode: Neve-Terra e Neve profunda/Lama.
A generosa articulação dos eixos, (duplo A, na frente, e multibraços, atrás) a elevada distância do solo (30 cm) e a capacidade de enfrentar trechos com até 50 cm de água ajudaram ainda mais o primeiro bZ da Toyota a passar por todos os obstáculos sem uma gota de suor.
A Toyota estima autonomia de 450 km para o carro de tração dianteira e 410 km para o 4×4, mas esses números ainda precisam ser homologados oficialmente. Com o carregador rápido de até 150 kW, a montadora informa que é possível recuperar 80% de energia em 30 minutos.
Veredicto
A Toyota está atrasada para lançar uma linha de veículos elétricos puros. Mas o primeiro SUV da série bZ mostra que vem coisa boa por aí.
Ficha técnica
Preço: 48.500 euros (estimado)
Motor: dois motores elétricos (um em cada eixo); 218 cv e 36,7 kgfm; baterias de íons de lítio de 71,4 kWh; tempo de recarga, 30 min (até 80%, em 150 kW); autonomia, até 410 km
Câmbio: automático, 1 m., tração integral
Direção: elétrica
Suspensão: duplo A (diant.), multibraços (tras.)
Freios: disco ventilado (diant.) / disco sólido (tras.)
Pneus: 225/60 R18
Dimensões: comprimento, 469 cm; largura, 186 cm; altura, 160 cm; entre-eixos, 285 cm; peso, 2.000 kg (estimado); porta–malas, 452 l
Desempenho: 0 a 100 km/h, 6,9 s; velocidade máxima, 160 km/h; consumo 6,26 km/kWh (estimado)