Vídeo: Renault Kwid E-Tech é elétrico urbano muito melhor que o 1.0
Renault Kwid E-Tech é o novo elétrico mais barato do Brasil e aposta em estratégia ousada para cair no gosto do brasileiro
Se os preços de carros a combustão já dispararam durante a pandemia, vender um elétrico acessível no Brasil ficou ainda mais desafiador. São necessários criatividade e sacrifício para que algum modelo a baterias ganhe certa popularidade. O Renault Kwid E-Tech é ousado em ambos os aspectos.
O novo elétrico mais barato do Brasil chegará às lojas em agosto, mas já está em pré-venda por R$ 142.990 — R$ 21.000 a menos que o JAC e-JS1. Praticamente idêntico ao Kwid convencional, ele economiza onde dá ao mesmo tempo que permite a Renault torná-lo uma introdução tranquila ao mundo futurista da eletrificação.
Importado da China, o Kwid E-Tech também trouxe da Ásia o seu conceito de carro urbano: um modelo que, ao mesmo tempo que perde potência e tamanho para ser mais barato, permite aos engenheiros ajustar toda a sua performance pensando exclusivamente na cidade.
O resultado é que, com 65 cv e 11,5 kgfm, o Kwid é bem ágil dos 0 a 50 km/h (4,1 s) — velocidade pouco ultrapassada em arrancadas urbanas — e, do 0 aos 100 km/h, leva nada ágeis 14,6 s. O Kwid com o motor três cilindros 1.0 flex de 71 cv e 10 kgfm chega aos 100 km/h em 13,2 s, também de acordo com a Renault.
Como potência e força estão disponíveis imediatamente no elétrico, a percepção de quanto o carro está sendo exigido muda drasticamente: sempre partindo com leveza, o Kwid E-Tech chega à máxima de 130 km/h fazendo pouquíssimo barulho.
O que, em um modelo comum, corresponderia à quinta marcha com o motor acima das 4.000 rpm, aqui é um zumbido discreto. Em velocidades mais baixas, o silêncio é pleno e a obediência do carro torna a condução muito confortável.
Carros elétricos de uso essencialmente urbano já são extremamente populares na China, onde, pelo preço de um intercâmbio brasileiro na Europa (cerca de R$ 20.000), os jovens adquirem um veículo elétrico de dois lugares e feito para o dia-a-dia, confiável e com acabamento estiloso.
A diferença é que, em nosso país, o preço do Kwid elétrico obriga a Renault a mirar em quem está bem estabelecido na vida, se permitindo arriscar a ter um carro elétrico tão cedo.
A montadora destaca famílias de classe média alta, que têm dois ou três carros. Seja por questão de ambientalismo ou interesse tecnológico, essas pessoas trocariam um SUV médio (ou outro veículo dessa faixa de preço) por um pequeno elétrico. Em teoria, garante a marca, ao longo de três anos a economia em manutenção e combustível fará o custo de ter um Kwid E-Tech igual de um hatch 1.0 manual.
Nas redes sociais, leitores de QUATRO RODAS mostram preferir, em larga maioria, gastar esse dinheiro com potência, conforto interno ou até outras tecnologias, como de automação veicular. Mas também há quem se satisfaça com a simples liberdade de locomoção; gente que vê imenso sentido em pagar mais para viver, com antecedência, uma realidade inevitável ao mesmo tempo que se engaja em ideais ecológicos.
A vida desse público será tranquila: o Renault Kwid E-Tech é tão parecido com o convencional que usa chave canivete e alavanca de freio de mão convencionais. O painel é praticamente idêntico ao original, com a mesma central multimídia.
Pequenas diferenças no console central (onde o câmbio dá lugar a um seletor de marcha giratório) e nos mostradores, que mostram o fluxo de energia (no lugar do conta-giros) e a carga da bateria (no lugar do nível do tanque) são o que diferem a versão elétrica.
A bateria, montada no assoalho sob o carro, tem 26,8 kWh. A recarga em tomada doméstica de 220V, de 0 a 100% de capacidade, leva 10h43. De 15% a 80%, esse tempo cai para 8h57 e, com um carregador doméstico, um wallbox de 7 kW — o ideal para um dono de elétrico —, são apenas 2h54 (4h51 para uma recarga total). Ainda que o ideal seja recarregar o carro em casa, durante a noite, o Kwid é compatível com eletropostos de até 30 kW (DC), que podem dar esses 65% de carga em 40 minutos (100% em 1h29).
Com uma carga completa, o Kwid elétrico roda até 298 km antes de ficar sem energia, segundo o Inmetro. Esse número é obtido com o modo Eco ativo, limitando a potência a 45 cv. Mesmo com o Eco desligado, a autonomia diminui quanto mais rápido for o condutor no dia a dia, tornando complicados os planos de pegar estrada.
Na rua, entretanto, a promessa é de um rodar mais confortável, garantido pelo bom ajuste da suspensão. A frenagem tende a exigir mais de pedal, pois pesa 977 kg (191 kg a mais que o 1.0), mas a recuperação de energia acrescenta um freio motor que ajuda o motorista.
E se porta-malas e espaço interno seguem inalterados, mudanças estruturais fazem do Kwid E-Tech um modelo para apenas quatro pessoas, sem cinto de segurança no assento do meio, atrás.
Modéstia à parte
Ainda que represente uma revolução, o segundo elétrico da Renault no Brasil (depois do Zoe) é silencioso e discreto. Sua única diferença clara é a ausência da grade frontal, substituída por uma peça de plástico que esconde o bocal de carregamento.
Os mais atentos percebem que as rodas do Kwid E-Tech têm quatro furos e, além disso, há adesivos pela carroceria e a tampa do porta-malas traz o apelido E-Kwid. Se o Kwid 1.0 apostou pesado na estética, o elétrico parece buscar um público discreto, que também se preocupa com questões de segurança e não curte ostentar.
Com tamanha especificidade de público, o Kwid E-Tech até parece arriscado comercialmente, mas a Renault também aposta em um projeto de marketing a longo prazo, em busca de se tornar a primeira marca de elétricos acessíveis no Brasil.
Ao se lembrar que, ainda num trágico 2021, foram emplacados 1,9 milhão de automóveis no país, fica óbvio que cada parcela de mercado importa e o custo-benefício da aventura parece muito bom. Os concessionários também se mostraram animados, e todas as Renault do Brasil prestarão manutenção no modelo, que tem três anos de garantia total e oito às baterias.
Segundo o diretor de comunicação Caíque Ferreira, cerca de 30 lojas serviriam para reparos mais complexos dos clientes, mas, até o final de 2022, serão mais de 100 dessas pelo Brasil. Ferreira ainda acredita que, na revenda, a desvalorização do carro será equivalente à do modelo flex. O Kwid E-Tech também será disponibilizado via assinatura, a partir de R$ 2.999 ao mês, para quem não quiser se preocupar com manutenção e seguro.
A Renault espera comercializar mais de mil unidades do subcompacto elétrico em um ano. É o primeiro teste de um novo modelo de mobilidade, que busca tirar o atraso do Brasil em relação aos países ricos e que, diante das condições atuais, parece bem montado. A recepção do Kwid elétrico será observada atentamente por todos da indústria, e seu eventual sucesso colocará a Renault em ótima posição nessa longa jornada.
Com base nessa última hipótese, estamos vivendo um momento histórico, que dá esperança de mais agilidade na nova revolução tecnológica do mundo. Na missão de zerar as emissões de carbono do Brasil até 2050, o Kwid E-Tech pode estar abrindo uma importante rota.
Ficha técnica – Renault Kwid E-Tech
- Preço: a partir de R$ 142.990
- Motor: elétrico, dianteiro, transversal, síncrono, 65 cv a partir de 4.000 rpm, 11,5 kgfm entre 0 e 4.000 rpm.
- Baterias: íons de lítio, 26,8 kWh
- Autonomia: 298 km (cidade) e 265 km (misto), Inmetro
- Tempo de recarga: recarga rápida DC 30kW (15-80%), 40 min; Wallbox 7,4kW (15-80%) – 2h54; Carregador portátil 220V 10A (15-80%) – 8h57
- Câmbio: redutor, marcha à frente e uma à ré, tração dianteira.
- Freios: disco ventilado (diant.) e tambor (tras.)
- Direção: elétrica
- Velocidade máxima: 130 km/h
- Rodas: liga leve com pneus 175/70 R14
- 0 a 100 km/h: 14,6 segundos*
- Dimensões: comprimento, 373,4 cm; largura, 177 cm; altura, 150 cm; entre-eixos, 242,3 cm; porta-malas
*Dados de fábrica