Há uma década, os SUVs compactos nada mais eram que um nicho de mercado, quase uma excentricidade. Hoje formam um volumoso segmento e um dos poucos com grande perspectiva de crescimento no mundo. No Brasil a categoria está em alta, seguindo a tendência iniciada pelo Ford EcoSport e que, em dois anos, ganhará a companhia de Chevrolet Tracker, Renault Captur, Peugeot 2008 e Honda Urban, entre outros. Quem também quer entrar nessa onda é a Volkswagen, com o Taigun, um mini-SUV feito sobre a plataforma do Up!, que será lançado no Brasil até o fim do ano.
Oficialmente a VW diz que o futuro do Taigun não foi definido, mas sua produção é certa: deve se tornar realidade no início de 2016, tanto na Europa quanto no Brasil – aqui ele dividirá a linha de montagem do Up!, em São Bernardo do Campo (SP). Quando for lançado, ele será o menor SUV do mundo, com 3,86 metros (3 cm menor que um VW Gol), bem abaixo dos 4,12 de Nissan Juke e Captur. Ele é tão pequeno que na Europa ele ficaria no chamado segmento A, enquanto os rivais estão no B.
Nosso primeiro contato com o Taigun foi na pequena San Antonio de Areco, a menos de 2 horas de Buenos Aires. O modelo que dirigimos é o mesmo carro-conceito que foi apresentado no Salão do Automóvel de São Paulo de 2012. Por isso se notam características que certamente não serão as mesmas do carro de produção, como o reduzido isolamento acústico, que faz com que o motor de três cilindros tenha de trabalhar em alto e bom som.
No conceito foi instalado um motor 1.0 TSI (turbo com injeção direta), capaz de gerar 110 cv. Ele foi extraído do quatro-cilindros 1.4 TSI (basicamente, “arrancaram” dele um cilindro) e é mais um passo na estratégia de redução de cilindrada em curso no Grupo VW e na indústria em geral, que em breve deve migrar até para o Golf. O desempenho é interessante, com seus 17,8 mkgf logo a 1 500 rpm (muito melhor que os 15,6 mkgf a 2 500 rpm do 1.6 do nosso Gol), que casam bem neste Taigun de apenas 985 kg. Segundo os números de fábrica, ele vai de 0 a 100 km/h em 9,2 segundos e atinge 186 km/h.
Apesar do estilo SUV, ele foi feito para a cidade. Mesmo assim, seus balanços curtos (71 cm à frente e 68 atrás) permitem que ele supere obstáculos como pedras e lombadas sem danificar a parte inferior, o que é facilitado com a colocação de proteções nas caixas de roda, que se juntam àquelas sob os para-choques dianteiro e traseiro, e na parte inferior dos painéis laterais da carroceria. Visualmente, as linhas do Taigun são marcadas pela horizontalidade e por elementos que o aproximam do que já vemos hoje nos SUV maiores da VW, Tiguan (cujo nome tem as mesmas letras de Taigun) e Touareg. A largura de 1,73 metros sobressai e é importante para contrabalançar a maior tendência de inclinação da carroceria, que tem 1,57 metro de altura – 11 cm a mais que num Gol. Tudo indica que o design do modelo de série será muito próximo da versão exibida, um show car.
Preço compacto
Ao usar a plataforma PQ12 do Up!, a VW desistiu de aproveitar a sofisticada MQB (a do Golf europeu atual), que servirá de alicerce para quase todos os carros de tração dianteira da VW. Esta inviabilizaria o foco do Taigun: o preço competitivo, ainda mais em mercados emergentes como Brasil, Argentina, China e Índia. Significa que na Europa deverá partir de 15 000 euros. Por aqui, vai depender do pacote de equipamentos, mas estima-se algo entre CrossFox (47 500 reais) e Renault Duster (49 000 reais), mas bem abaixo do EcoSport (54 800 reais).
Ao entrar no Taigun, nota-se que o entre-eixos de 2,47 metros (só 7 cm mais curto que o do Peugeot 2008, que é 30 cm mais longo) assegura-lhe uma habitabilidade elogiável para seu tamanho, mérito da colocação das rodas nas extremidades da carroceria. Se o Taigun mostrou que fez um belo trabalho para dar folga aos ocupantes no comprimento, o mesmo não pode ser dito da largura, que aconselha apenas dois passageiros no banco traseiro, apesar de a versão de série certamente contar com três lugares.
No interior, ele remete logo ao Up! no painel, onde se destaca o monitor de comando de infotenimento, que pode ser destacado de seu nicho – outra graça que deve desaparecer no SUV de série. Há também dois espaços na parte inferior do painel que servem de suporte de garrafa, bancos dianteiros integrais (encostos de cabeça e banco numa única peça) e banco traseiro bem mais alto, para melhorar a visão de quem se senta atrás. É uma maneira de compensar a falta de espaço na largura ou a impossibilidade de descer os vidros traseiros, uma vez que essas portas avançam sobre a caixa da roda – não há milagre que caiba em apenas 3,86 metros de comprimento.
Destaque ainda para a tampa do porta-malas de abertura bipartida, com 2/3 na parte superior e 1/3 na inferior, podendo esta última ser usada como uma base de apoio para cargas pesadas. Pode-se ainda bascular só o vidro traseiro, para acessar rapidamente o porta-malas de 280 litros, ampliável para 987 ao rebater o encosto do banco. Pena que tais soluções não devam ser mantidas no modelo de série, já que esse tipo de mecanismo é caro e dificilmente suportado num segmento de entrada, onde o principal foco é um só: preço baixo.
VEREDICTO
Com o tamanho de um Gol e produzido no Brasil, o Taigun criará o segmento dos mini-SUVs, que tem tudo para combinar com o gosto do brasileiro por carros baratos e estilo jipinho.