Publicado originalmente em junho e agosto de 2000
O mais novo VW Gol dispara a mais de 190 km/h e, partindo do zero, atinge os 100 km/h em meros 10,65 s. Seu motor tem muito fôlego nas retomadas e força de sobra em baixas rotações. Nada excepcional se a novidade não fosse equipada com motor 1.0.
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O milagre da multiplicação da potência, de 69 para 112 cavalos, deve-se, principalmente, ao turbocompressor – que também passa a equipar a Parati 1.0 16V (veja teste a seguir). É a maior potência já atingida por um motor de 1.000 cm3.
Nas medições de QUATRO RODAS, o foguetinho disparou na frente das versões do Gol 1.0 com motor aspirado – de 0 a 100 km/h, foi quase 6 segundos mais rápido que o Gol 16V e 14 segundos mais veloz que a versão 8V. E, na velocidade máxima, apresentou números semelhantes aos de muito carro com motor de maior capacidade cúbica, como o Golf 2.0.
“Normalmente, o turbo eleva a potência entre 30% e 50%”, explica o preparador de motores Luís Yoshimura, de São Paulo. No caso do VW Gol, o acréscimo foi de 62%. É uma margem muito elevada, mas, segundo os técnicos, a durabilidade dos componentes mecânicos não será afetada.
“O motor foi dimensionado para a potência extra e os freios e a suspensão vieram do Gol 2.0, recursos suficientes para tornar o modelo seguro”, explica João Alvarez Filho, engenheiro de produtos da Volkswagen. A garantia de um ano sem limite de quilometragem é a mesma dos demais Gol, e o preço é atrativo: R$ 22.798 (corrigido, R$ 82.602 – IPCA).
Potência e força de gente grande
A aparência é esportiva: o VW Gol 1.0 Turbo tem rodas de liga leve, pneus mais largos, aerofólio traseiro, painel com moldura cinza. Mas não se impressione com essa perfumaria: se você quer apenas um bom carro para rodar na cidade – ou, em outras palavras, precisa de força e não de potência –, o novo Volkswagen vai atender às suas necessidades.
O turbo, além de aumentar a potência, deu ao motor força comparável à de um carro 1.8. E, o melhor, parte dessa força surge aos 2.000 giros, faixa muito usada na cidade. “Com a potência extra, é possível pressionar menos o acelerador e manter o motor em rotações baixas”, diz o preparador de motores Vinícius Losacco. “Isso é saudável para o conjunto mecânico.”
Além do turbocompressor, cuja pressão pode chegar a 1,4 bar, o motor 1.0 recebeu intercooler, dispositivo que resfria o ar soprado nos cilindros, e comando variável de válvulas para adequar a aspiração do ar para dentro do motor conforme a rotação – quanto maior o giro, mais ar é injetado. Ganhou, finalmente, radiador de maior capacidade para evitar o possível superaquecimento provocado pelo turbo.
“Os cuidados que esse tipo de motor exige são os mesmos do aspirado”, diz Losacco. O turbo de nova geração que equipa Gol e Parati, além de injetar fôlego no motor 1.0, traz uma vantagem: não é preciso deixar o carro funcionando por cerca de um minuto ao dar a partida e antes de desligar, como é comum na maioria dos modelos turbinados. Nos foguetinhos da Volks, basta ligar, acelerar e ficar atento ao velocímetro para evitar multas.
Perua turbinada
Mesmo com 43 cavalos a mais no motor, VW Gol e Parati 1.0 Turbo serão tributados com os mesmos 10% de IPI, o Imposto sobre Produtos Industrializados, de qualquer outro modelo popular. Acima dessa cilindrada, o imposto salta para 25%, seja qual for a potência do veículo.
É o que explica por que a Saveiro não receberá, ao menos por enquanto, o motor turbo: picapes, leves ou pesadas, já têm IPI reduzido. Beneficiada por essa brecha tributária, a Parati, que já tem uma versão 1.0 16V aspirada, tornou-se uma boa opção com o turbo.
A perua é apenas 45 quilos mais pesada que o Gol e, na pista, o desempenho é praticamente idêntico ao do hatch. Agora, ela pode levar carga sem tanto sofrimento. O preço deve ficar na faixa dos R$ 25 000.
Ficha técnica – VW Gol 1.0 16V Turbo
- Motor: Dianteiro, longitudinal, quatro cilindros em linha, quatro válvulas por cilindro, 999 cm3; taxa de compressão, 8,5:1; Potência, 112 cv a 5.500 rpm; Potência específica, 112,11 cv/litro; Torque, 15,8 kgfm a 2.000 rpm
- Suspensão: Dianteira Independente tipo Mc Pherson, suporte tubular e braço triangular transversal, mola helicoidal e amortecedor telescópico pressurizado; Traseira Interdependente com corpo auto-estabilizante, braço tubular longitudinal, amortecedor hidráulico e mola helicoidal
- Freios: Disco (diant.), tambor (tras.), com ABS opcional
- Pneus: 185/60 R14; Rodas, 6J x 14
- Câmbio: Mecânico, cinco marchas
- Dimensões e Capacidades: Porta-malas 296 litros; Tanque 51 litros; Peso 1 016 kg; Altura, 141,5 cm; Largura, 162,1 cm; Entre-eixos, 246,8 cm; Comprimento, 388,3 cm
- Consumo: 7,3 km/l (cidade) e 13,3 km/l (estrada)
- Preço: R$ 22.798 (corrigido, R$ 82.602 – IPCA)
Comparativo: Gol 1.0 Turbo e Gol 2.0, quando um é mais que dois
No tira-teima entre as versões mais potentes do carro mais vendido do Brasil, o Gol 1.0 Turbo sai na frente do 2.0 na aceleração e nas retomadas
Observe os carros acima. O vermelho é um VW Gol 2.0. O dourado é o Gol 1.0 Turbo. Os dois arrancam: qual atingirá primeiro os 100 km/h? Qual chegará na frente na marca dos 1000 metros? Meio minuto depois, as duas provas estão terminadas. E revelam um pega equilibrado, decidido pelo sopro da turbina, que deu a vitória – apertada, diga-se – à nova versão do Gol, cujo motor vitaminado rende um cavalo a mais que os 111 cv do irmão mais velho.
Prova seguinte: retomada de velocidade. Ela simula ultrapassagens na estrada e mede a força do veículo no trânsito. Em tese, uma barbada para o Gol vermelho: seu motor tem o dobro da capacidade cúbica e a força transmitida às rodas é 9,5% maior.
Na prova, novamente o Gol Turbo foi mais rápido: venceu sete das oito aferições. Isso porque, enquanto no 2.0 o torque pleno surge a 3.000 rpm, no 1.0 Turbo ele já está disponível a 2.000 rpm.
No teste de velocidade máxima, feito em um trecho de estrada interditado pela Polícia Rodoviária, o Gol 1.0 Turbo chegou aos 189 km/h – 9 quilômetros mais veloz que o 2.0. Na aferição realizada em maio na pista circular, o Turbo tinha chegado aos 190,33 km/h.
Se essas pequenas vantagens no desempenho não são suficientes para escolher o campeão, há argumentos ainda mais sedutores. Além de andar mais e ser tão (mal) equipado quanto as versões já existentes, o 1.0 Turbo custa R$ 22.798 – R$ 1.973 a menos que o 2.0. Não se trata de um carro barato. Pelo contrário. Mas, com a diferença, dá para equipá-lo com ar-condicionado, opcional nas duas versões.
De quebra, o 1.0 Turbo vem com cobertura escura nos faróis, ponteira do escapamento cromada, detalhes internos em cinza e pneus mais largos. Maier Gilbert, da concessionária Diauto, de São Paulo, diz que nas primeiras semanas a nova versão roubou os consumidores dos Gol 1.6, 1.8 e 2.0. “O turbo chama a atenção de quem quer desempenho”, diz. “Vendemos pelo preço de tabela e faltou carro.” Os compradores, segundo o empresário, são homens entre 25 e 40 anos.
Mas vale a pena comprar um turbo? Edson Batista, gerente de vendas da loja Fiat Mais, garante que não é preciso ter medo de perder dinheiro na revenda. “A versão turbo tem desvalorização similar à das versões aspiradas.”
Com as vantagens do Gol 1.0 Turbo sobre o 2.0, é de se perguntar se este não estaria chegando ao fim. A Volks não cogita da possibilidade. Gilbert também não aposta no fim do 2.0. Toda a sua cota de pedidos de Gol no mês de julho, entretanto, foi destinada ao 1.0 Turbo. “Não pedimos nenhum Gol 2.0.”
Ficha técnica – VW Gol 2.0
Motor: Dianteiro, longitudinal, quatro cilindros em linha, duas válvulas por cilindro; Cilindrada, 1.984 cm3; Taxa de compressão, 10:1; Potência111,5 cv a 5.250 rpm; Torque, 17,3 kgfm a 3.000 rpm
Notas do futuro:
- O VW Gol 2.0 8V saiu de linha em 2002, abrindo espaço para o lançamento do Polo no ano seguinte com a oferta do mesmo motor, mas com 116 cv.
- Nunca houve Saveiro 1.0 16V Turbo.
- O Gol 1.0 16V Turbo saiu de linha em setembro de 2003. Até hoje não foi lançado outro Gol com motor turbo.