VW Golf 1.6 x Ford Focus 1.6: clássico mundial
Brasil e Argentina se encaram na pista de testes. De um lado, o Golf brasileiro e seu novo motor 1.6. Do outro, o Focus argentino com um visual matador. Será que deu briga no asfalto?
Há 30 anos o mundo discute quem foi melhor: Pelé ou Maradona. Em 1986, o argentino estava em seu auge e se consagrou na Copa do México daquele ano. À época, fazia quase uma década que o craque brasileiro havia deixado os campos. Quando o Focus foi lançado, em 1998, o Golf já era um clássico com quatro gerações no currículo. Em ambos os casos, a história mais recente de um dos adversários não reduz a grandeza da rivalidade. E assim como os jogadores dividem opiniões, os dois hatches separam os fãs em torcidas que não se bicam.
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O Golf acaba de se naturalizar brasileiro e deixa de vir para cá importado do México. Agora é feito na fábrica de São José dos Pinhais, no Paraná. Por fora, não há alterações de estilo – o design é o mesmo que apareceu por aqui em setembro de 2013. Ponto para o Focus: a atual geração do Ford não tem nem um ano no mercado e é difícil encontrar quem torça o nariz para suas linhas.
Preço menor
Como novidade, o Golf recebeu o motor 1.6 16V MSI – o mesmo de outros modelos da marca, como Saveiro, Gol e Fox. Essa motorização ajudou a reduzir o preço do veículo e permitir à Volks competir com as versões de entrada dos concorrentes. Outras providências para baratear o carro foram tomadas – vamos falar delas logo mais. Aguente aí.
Levamos para a pista o Golf 1.6 Comfortline equipado com transmissão manual de cinco marchas, a mesma configuração do Focus SE das fotos. Obviamente, a potência menor desse propulsor (120/110 cv) leva a um desempenho inferior ao do modelo equipado com o 1.4 turbo (150 cv). Porém, os números obtidos na pista revelam que a redução de performance é compatível com os dados dos rivais. Na prova de 0 a 100 km/h, o Golf bateu o Focus por pouco: 13,6 s ante 13,8. Mas ficou atrás do Ford nas retomadas de 60 a 100 km/h (13,8 e 11,8 s) e apanhou entre 80 e 120 (25,5 ante 18,4 s).
Uma justificativa para essa disparidade está na transmissão, cuja quinta marcha é longa (a 120 km/h, o motor gira a 2.600 rpm). A Volkswagen poderia ter aproveitado a caixa manual de seis marchas da linha Fox. Em vez disso, instalou no Golf 1.6 a transmissão de cinco marchas. E a explicação para isso não é técnica, só marketing. “Por conta de uma estratégia de posicionamento, a transmissão manual de seis marchas não é oferecida nas versões de entrada”, diz José Loureiro, gerente de desenvolvimento da VW.
Ao volante, o motor 1.6 não desaponta, apesar de não ter a mesma vitalidade do 1.4 TSI. Garante respostas imediatas ao acelerador e potência suficiente para ultrapassagens, mesmo em altas velocidades. A redução de 30 cv em relação ao 1.4 turbo (que tem 150 cv) é notável. Mas a sensação de menor agilidade se dá principalmente pela falta do turbo, cujo torque de 25,5 mkgf se manifesta a 1.500 rpm. No 1.6, é preciso elevar a rotação a 4.000 giros para atingir o pico de força.
Em consumo de combustível, Golf e Focus são quase equivalentes, com ligeira vantagem para o Volkswagen, sobretudo na estrada. Registramos 15,6 km/l, um resultado convidativo, porém inferior ao obtido com o motor 1.4 TSI (15,9 km/l) – um sinal de que a tecnologia do propulsor turbinado está em um patamar superior.
Além disso, a nova versão de entrada do hatch nacional perdeu equipamentos para custar menos. A suspensão traseira independente de braços múltiplos foi substituída pelo tradicional eixo de torção, uma solução mais simples e mais barata. Porém, por conta da escala de produção, essa providência também atingiu o Golf 1.4 Highline (versão intermediária). A partir de agora, só o GTI preserva a suspensão mais sofisticada. Já que falamos do propulsor 1.4, esqueça a transmissão DSG – a caixa automatizada de sete marchas e dupla embreagem. Os modelos nacionais passam a utilizar o câmbio automático Tiptronic, de seis velocidades.
O Focus representa um grande salto de qualidade em relação ao anterior, tanto em visual como em percepção de qualidade. Faz tempo que o Golf, uma referência de solidez e estabilidade, deixou de ser detentor exclusivo dessas qualidades. A terceira geração do Ford se destaca por esses atributos, além de proporcionar prazer ao dirigir e privilegiar a ergonomia. O hatch argentino oferece ajustes milimétricos no assento e coluna de direção telescópica com ajuste de altura. O volante conta com boa empunhadura, com forração espumada nos aros, e a alavanca de câmbio tem engates curtos – uma receita infalível para quem aprecia guiar.
O Golf 1.6 está tabelado em R$ 76.590 na versão manual (e R$ 81.990 com câmbio Tiptronic). Esse valor é menor que o do Focus SE Plus manual (R$ 78.490) – a Ford ainda tem a SE, mais simples, por R$ 72.490. Porém, esta versão do Focus não tem opcionais. O SE Plus vem de série com ar-condicionado digital de duas zonas, bancos de couro, retrovisor eletrocrômico, sistema multimídia com Sync e App Link, sensor de chuva, sensor de estacionamento, controle de cruzeiro e aviso de pressão baixa dos pneus.
Com exceção do alerta de ré, esses equipamentos são oferecidos como opcionais no Volks, em três pacotes (Elegance, Exclusive e Comfort). Por isso, ao equiparar a oferta de recursos, o Golf pode ficar mais de R$ 7.000 mais caro que o rival da Ford.
Equipado com um 1.4 turbo, a superioridade mecânica do Golf é evidente. Porém, na linha de frente, o custo-benefício do Focus deixa o VW para trás. Nessa disputa de qualidades, os argentinos levam a melhor.
AVALIAÇÃO DO EDITOR
Motor e Câmbio – Os motores trabalham com suavidade e garantem força compatível com a proposta. Os câmbios têm engates precisos.
Dirigibilidade – Golf e Focus se destacam nesse quesito, sobretudo em relação à solidez de rodagem e estabilidade. Mesmo com motor menor, garantem prazer ao dirigir.
Segurança – O Golf leva vantagem: todas as versões vêm de série com sete airbags, controle de tração e estabilidade e bloqueio eletrônico de diferencial.
Seu bolso – Não são pechinchas, mas têm fartura de equipamentos de série. Porém, o Focus oferece um pouco mais pelo que custa.
Conteúdo – Ambos são completos, mas o Focus oferece mais equipamentos por preço inferior – e de série. Ao equiparar os acessórios, o Golf fica bem mais caro. No entanto, o novo sistema multimídia do VW é superior e mais moderno.
Vida a bordo – As marcas exploram qualidades que o cliente exige nessa categoria: ergonomia excepcional e fartura de itens de comodidade. O sistema multimídia da Volks é superior e a saída de ar nos bancos traseiros são diferenciais. Mas o Focus tem ar-condicionado bizona de série.
Qualidade – O acabamento do Golf é ligeiramente superior, com encaixes precisos, mas a qualidade de materiais é adequada aos dois.
VEREDICTO QUATRO RODAS
Não é à toa que Golf e Focus tenham tantos fãs. Ambos têm qualidades excepcionais. Mas na versão de entrada, mesmo tendo um preço superior, o Ford oferece mais desempenho e mais equipamentos de série.
Golf 1.6 | Focus 1.6 | |
---|---|---|
ACELERAÇÃO | ||
de 0 a 100 km/h: | 13,6 s | 13,8 s |
de 0 a 1000 m: | 34,8 s – 150,7 km/h | 34 s – 155 km/h |
VELOCIDADE MÁXIMA: | 188 km/h | 189 km/h |
RETOMADA | ||
de 40 a 80 km/h (3ª marcha): | 8,7 s | 8,9 s |
de 60 a 100 km/h (4ª marcha): | 13,8 s | 11,8 s |
de 80 a 120 km/h (5ª marcha): | 25,5 s | 18,4 s |
FRENAGENS | ||
60 / 80 / 120 km/h a 0: | 15,4 / 26,4 / 61,9 m | 15,7 / 27,6 / 62,3 m |
CONSUMO | ||
Urbano: | 11,2 km/l | 11,1 km/l |
Rodoviário: | 15,6 km/l | 15 km/l |
RUÍDO INTERNO | ||
Neutro / RPM máximo: | 41,6 / 73,9 dBA | 37,2 / 73,3 dBA |
80 / 120 km/h: | 62,5 / 66,8 dBA | 62,4 / 69,4 dBA |
AFERIÇÃO | ||
Velocímetro real a 100 km/h: | 95,8 km/h | 97,4 km/h |
Rotação do diferencial a 100 km/h em 5ª marcha: | 2.600 rpm | 2.750 rpm |
Volante: | 2,7 voltas | 2,6 voltas |
SEU BOLSO | ||
Preço inicial: | R$ 76.590 | R$ 78.490 |
Garantia: | 3 anos | 3 anos |
Concessionárias: | 636 | 558 |
Golf 1.6 Comfortline | Focus 1.6 SE Plus | |
---|---|---|
Motor: | flex, diant., transv., 4 cil., 16V, 1 598 cm³, 76,5 x 86,9 mm, 11,5:1, 120/110 (G/E) cv a 5.750 rpm, 16,8/15,8 (G/E) mkgf a 4.000 | flex, diant., transv, 4 cil., 16V, 1 596 cm³, 79 x 81,4 mm, 12:1, 135/131 cv a 6.500 rpm, 16,7/16,2 mkgf a 3.000 rpm |
Câmbio: | manual, 5 marchas, tração dianteira | manual, 5 marchas, tração dianteira |
Direção: | elétrica, 10,9 m (diâmetro de giro) | elétrica, 11 m (diâmetro de giro) |
Suspensão: | McPherson (diant.), eixo de torção (tras.) | McPherson (diant.), multilink (tras.) |
Freios: | discos ventilados (diant.)/disco (tras.) | discos ventilados (diant.)/disco (tras.) |
Pneus: | 205/55 R16 (série) | 215/15 R17 |
Peso: | 1.231 kg | 1.310 kg |
Peso/potência: | 10,3/11,2 kg/cv | 9,7/10 kg/cv |
Peso/torque: | 73,3/77,9 kg/mkgf | 78,4/ 80,9 kg/mkgf |
Dimensões: | comprimento, 425,5 cm; largura, 179,9 cm; altura, 146,8 cm; entre-eixos, 263,8 cm; tanque de combustível, 51 l | comprimento, 436 cm; largura, 182,3 cm; altura, 146,9 cm; entre-eixos, 264,8 cm; tanque de combustível, 55 l |
Equipamentos de série: | ar-condicionado, 7 airbags, central multimídia com tela touch, Bluetooth e USB, direção elétrica, rodas de liga, ESP, controle de tração, bloqueio eletrônico de diferencial, Isofix, sensor de estacionamento | ar digital de duas zonas, ESP, sensor de ré, piloto automático, central multimídia com duas portas USB, rodas aro 17, bancos de couro, sensor de chuva, aviso de pressão baixa nos pneus, Isofix, faróis com acendimento automático |