O nome não poderia ser mais preciso. O Zeekr 001 é exatamente o primeiro carro desta que é tratada pelo grupo Geely como uma marca de luxo com apelo à performance e à tecnologia, e que foi criada em 2021. E será um dos primeiros lançamentos da Zeekr no Brasil muito em breve: a pré-venda está prevista para começar em setembro. Mas já pudemos ter um primeiro contato com ele na China, em um circuito de corrida.
Talvez as fotos e o vídeo não sejam suficientes para dar uma ideia sobre a dimensão, mas é enorme: tem 4,95 m de comprimento, 3 m de entre-eixos, 1,55 m de altura e 2 m de largura. Tem as mesmas dimensões de um BMW iX, porém cerca de 15 cm mais baixo.
A melhor definição a carroceria do Zeekr 001 é a de shooting brake, uma perua que flerta com os cupês. Mas com sua suspensão a ar (com amortecedores eletrônicos) na posição mais alta, a 18 cm do solo, ganha ares de crossover endossados pelo capô elevado.
Ainda dá para dizer que o porta-malas, com 539 litros, é excelente para uma perua e que tem espaço interno de sedã. Espaço e conforto dos melhores sedãs, aliás: o banco traseiro vai além dos bons assentos e do espaço abundante até para jogadores de basquete, pois o encosto reclina eletricamente e tem aquecimento e ventilação.
Por meio de uma tela entre os bancos dianteiros ainda é possível comandar funções de música e a zona do ar-condicionado (com saídas centrais e pelas colunas laterais). Um Porsche Taycan, um BMW iX ou um Audi Q8 e-tron não conseguem combinar isso tudo. O Taycan e o iX também tem teto panorâmico que escurece e fica opaco graças a impulsos elétricos. É coisa fina.
A qualidade dos materiais de acabamento surpreende, com couro Nappa nos bancos e em parte do painel, que também tem seções de Alcantara – mesmo material que reveste colunas e teto. É coisa boa, bem executada e com opções de cores (até para as costuras) tão diversas que não faltam opções que agradem ao gosto brasileiro. Para combinar a iluminação ambiente, é só escolher entre as 64 opções de cores na tela da central multimídia.
Carro ou supercomputador?
Na verdade, quase toda a interação com o carro deve ser feito pela tela de 15,4 polegadas fixa no meio do painel. Ainda que a interface seja rápida e tenha menus acessíveis para às funções mais importantes, não é tão conveniente como um botão ou seletor no console. Não é o jeito certo de trocar de modo de condução, por exemplo.
Mas o incômodo também é uma questão de costume: o quadro de instrumentos digital também acessa alguns menus e os botões do volante também são touchpads. Ou uma questão de linguagem, porque se eu soubesse mandarim poderia usar os comandos por voz – que são amplamente usados pelos motoristas chineses.
Na verdade, os comandos de voz, a agilidade na atualização dos sistemas via Internet (OTA) e a capacidade de processamento e dos sistemas embarcados são o que fascina os chineses que compram carros como o Zeekr 001.
É bem provável que esse shooting brake tenha maior capacidade de processamento do que o computador onde escrevo essa avaliação. Tem radares (por ondas e por laser) e diversas câmeras com tecnologia da Mobileye, tudo processado por chips da Qualcomm (os muito evoluídos 8155 Snapdragon) e Nvidia para acelerar a interface do motorista e processar os sistemas de assistência ao motorista.
Nada disso não pode ofuscar o desempenho e a dinâmica do Zeekr 001. O contato foi com uma especificação que, no Brasil, estará nas versões mais acessíveis. Combina dois motores elétricos, um por eixo, para somar seus 544 cv e 70 kgfm de rendimento. A promessa é por uma aceleração de 0 a 100 km/h em 3,8 segundos, sendo a velocidade máxima sempre 200 km/h.
Contudo, o que mais chamou a atenção na pista com o Zeekr 001 foi seu nível de conforto e suavidade, não o desempenho propriamente dito. Mesmo em seu modo mais esportivo, a suspensão deixa a carroceria inclinar controladamente nas curvas, a direção não é tão rápida como poderia ser (e o longo entre-eixos tem a ver com isso) e o controle de tração limita as acelerações na curva.
Já apontando na reta dos boxes, uma explicação para isso surgiu no painel: os sistemas estavam muito quentes para entregar o melhor desempenho. Aquele 001 já havia passado a tarde inteira na pista e recarregado. E fazia 37°C naquele dia de verão no circuito de Ningbo e a alta umidade também comprometeram meu desempenho.
Essa proteção para elevadas temperaturas está presente em todos os carros elétricos e a capacidade de entrega de alta potência precisa respeitar certas condições. O sistema de arrefecimento com líquido que pode ser resfriado pelo sistema de ar-condicionado precisa de tempo para normalizar a condição.
A arquitetura elétrica é de 800V, o que permite que a bateria de 100 kWh recarregue a uma potência máxima de 200 kW: só precisa de 30 min para passar de 10 a 80%. A recarga AC é feita a no máximo 22 kW, o que é uma boa potência e eleva a carga aos 80% em 5h30.
O maior dos desafios
De todas as marcas chinesas que estão chegando ao Brasil, talvez o projeto mais audacioso seja o da Zeekr. Não se trata de uma marca mais generalista iniciando sua operação com carros de luxo para depois alcançar outras faixas de preço. É uma marca de luxo e ninguém sabe como será a aceitação do brasileiro quando se deparar com um carro chinês que poderá custar algo ao redor dos R$ 400.000. Mas o segredo poderia ser, justamente, o preço.
A Zeekr ainda precisa construir uma imagem para cobrar pela marca. O curioso é que o 001 nasceu antes da Zeekr: originalmente, seria um carro topo de linha para a Lynk&Co, outra marca da Geely e que até este ano esteve focada nos carros híbridos.
Carros, porém, eles sabem fazer. No controle de marcas como Volvo, Lotus, Smart e Polestar, a Geely consegue criar um ecossistema de compartilhamento de plataformas, motores, bateria, sistemas embarcados e, claro, boas práticas para construir seus carros. Ou seja: a marca é nova, mas tem muitos anos de experiência por trás que permitiram, por exemplo, conquistar 5 estrelas no Euro NCAP.
Na verdade, a Zeekr também tem o que oferecer, pois a plataforma SEA (de Sustainable Experience Architecture), que se tornou o padrão para os Volvo, Smart e Polestar elétricos mais recentes, e para outros carros do grupo Geely pertence à novata.
“Marcas como Mercedes e BMW também cobram pela marca”, pondera um funcionário da Zeekr na China. Cobram, também, por uma história de décadas. E cobram caro, pois um Audi Q8 e-tron parte dos R$ 699.990, um BMW iX custa pelo menos R$ 699.950 e o Porsche Taycan (ainda defasado) começa em R$ 660.000. Se chegar por R$ 400.000, o Zeekr 001 será 40% mais barato que seus pares alemães. Seria um desconto suficiente para convencer o consumidor dos carros de luxo?
Ficha Técnica – Zeekr 001
Motor: dois elétricos, síncronos de ímãs permanentes, 554 cv, 70 kgfm
Baterias: íons de lítio, 100 kWh
Câmbio: automático, 1 marcha, 4×4
Suspensão: duplo A (diant.) múltiplos braços (tras.)
Freios: disco ventilado (diant.) e sólido (tras.)
Direção: elétrica, 2,5 voltas entre batentes
Rodas e pneus: liga leve, 265/40 R22
Dimensões: comprimento, 495,5 cm; altura, 154,8 cm; largura, 199,9 cm; entre-eixos, 299,9 cm; porta-malas 539 l; peso, 2.350 kg
Desempenho: 0 a 100 km/h, 3,8 s; velocidade máxima, 200 km/h; consumo 18,5 kWh/100 km; autonomia, 580 km; carregamento AC 22 kW, 5h30; DC 200 kW, 30 min (10-80%)